Vendée Globe Real e Virtual - 27-1-2021

Yannick Bestaven (Maitre Coq), suas dez horas de bonificação falaram alto

Yannick Bestaven (Maitre Coq), suas dez horas de bonificação falaram alto

Yannick Bestaven

vence a nona Vendée Globe

Embora o primeiro veleiro a chegar a Les Sables d’Olonne tenha sido o Apivia, de Charlie Dalin, quem levou a taça foi Yannick Bestaven (Maître Coq)

Na madrugada de hoje, dia 28, terminou o suspense sobre quem seria o vencedor da nona edição da Vendée Globe. Com cinco barcos envolvidos numa arremetida final (Apivia, Bureau Vallée 2, Seaexplorer, Linked Out e Maître Coq) e condições meteorológicas complexas, era impossível algum prognóstico até pelo menos dois dias atrás.

Apesar de ser o quarto barco a chegar a Les Sables d’Olonne, o francês Yannick Bestaven (Maître Coq) foi o vencedor no tempo corrigido, em razão da bonificação de dez horas e quinze minutos determinada pela Comissão de Regata por ter participado do resgate de Kevin Escoffier (PRB). Bestaven, que perdera a liderança mantida por longo trecho do Pacífico e início do retorno pelo Atlântico, conseguiu, na arrancada final, chegar com tempo suficiente para sua bonificação lhe dar duas horas e meia de vantagem sobre Dalin, e seis horas e meia sobre Louis Burton (Bureau Vallée 2).

Charlie Dalin (Apivia), o primeiro a chegar a Les Sables d’Olonne, teve uma recepção calorosa

Charlie Dalin (Apivia), o primeiro a chegar a Les Sables d’Olonne, teve uma recepção calorosa

Charlie Dalin (Apivia) foi recebido como um campeão, mas em razão de dois barcos prestes a chegar contarem com bonificações de tempo, seria obrigado a aguardar os demais. De fato, logo depois da chegada de Dalin, os prognósticos inicialmente apontavam que Boris Herrmann, com 6 horas de bonificação, tinha maior chance de efetivamente se tornar o vencedor.

No entanto, o destino quis que o mais cuidadoso do grupo dos líderes não conquistasse seu objetivo. Faltando apenas perto de 85 milhas para a chegada em Les Sables d'Olonne, o Seaexplorer de Herrmann chocou-se contra um barco de pesca. Com bastantes avarias, inclusive num hidrofólio, o skipper alemão prosseguiu em velocidade bem reduzida.

Já Yannick Bestaven (Maître Coq), que perdera a liderança ao largo da costa do Rio Grande do Sul, por uma estratégia que não deu certo, sendo ultrapassado por vários barcos, mesmo sem conseguir retomar nem uma das posições perdidas, manteve-se próximo o suficiente para fazer valer sua bonificação, sagrando-se assim o grande vencedor da Vendée Globe 2020-21.

Todos os que fizeram parte do grupo de líderes disputando o pódio merecem ser respeitados como grandes navegadores. A começar pelo segundo a chegar, o também francês Louis Burton (Bureau Vallée 2), que conseguiu uma façanha histórica. Depois de fazer uma escala forçada numa remota ilha do Pacífico para realizar reparos em seu barco, retornou quase mil milhas atrás do então líder, alcançou a flotilha e até assumiu a liderança (por poucos dias). Isso num barco teoricamente inferior, por ser de uma geração anterior aos Imoca mais modernos, como o Apivia e o Seaexplorer.

Em terceiro, teoricamente, finalizaria o alemão Boris Herrmann (Seaexplorer – Yacht Club de Monaco), um velejador consistente e cuidadoso, sempre evitando lidar com situações que pudessem danificar seu barco. Com esta filosofia, foi crescendo na regata, principalmente no trecho final do Atlântico Norte, onde sua persistência lhe rendeu um excelente posicionamento, ameaçando a vitória de Dalin (mesmo após a chegada do francês). Por ironia do destino, faltando poucas horas para Les Sables d’Olonne, sofreu o aci’dente que lhe custou a vitória e o pódio.

Quarto na fila para terminar a regata, o francês Thomas Ruyant (Linked Out); estava na liderança no Oceano Pacífico, quando um dos hidrofólios quebrou, quase o forçando ao abandono. Contudo, Ruyant conseguiu cortar o hidrofólio danificado, e assim retornou com o Linked Out com apenas um hidrofólio, o que o colocou em desvantagem contra os Imoca equipados com hidrofólios de última geração.

Seria uma longa matéria se eu fosse relatar o melhor da história desta incrível regata de circum-navegação. Para terminar, lastimo a ausência, na disputa pela vitória, de dois grandes favoritos, Alex Thomson (Hugo Boss) e Jérémie Beyou (Charal): o primeiro, obrigado a abandonar depois de rachaduras no casco; o segundo, ainda na regata, mas muito atrasado por ter retornado à linha de partida e perdido dias com reparos depois de ter batido contra um ófni (objeto flutuante não identificado).

Também uma pena a desistência da inglesa Sam Davies (Initiatives Coeur) devido a danos em seu barco. Uma navegadora brilhante que, embora obrigada a desistir da competição, não desistiu de terminar a volta ao mundo, fazendo-se novamente ao mar depois dos reparos realizados na África do Sul e atualmente subindo o Atlântico.

Uma outra velejadora foi obrigada a desistir, quando chegou a estar em quinto lugar no ranking, na altura do Cabo Horn — a franco-alemã Isabelle Joschke (MACSF). Seu barco sofreu um sério dano na quilha, que ameaçava se soltar (o que resultaria numa provável capotagem). Assim, continuou navegando a baixa velocidade e evitando ventos fortes, até que, aos poucos, conseguiu chegar (anteontem) ao porto de Salvador, Bahia, onde finalmente está em segurança.

Contudo, ainda há uma mulher brilhando, a inglesa Pip Hare (Medallia). Com um dos barcos mais simples e desequipados da flotilha, ela vem acompanhando os Imoca muito mais modernos e superiores, e deixando alguns deles para trás. Tanto se destacou que mereceu manchetes e reconhecimento da imprensa, inclusive francesa. Disto resultou, ainda durante a regata, a proposta de uma empresa para que Pip volte a competir na próxima Vendée Globe — mas com um barco novo, uma equipe forte e muito melhores condições de competição.

E finalmente, tenho de voltar aos elogios para o veterano Jean Le Cam (Yes We Cam), responsável pelo salvamento do náufrago Kevin Escoffier (PRB), cujo barco partiu-se em dois na altura do Cabo da Boa Esperança. Jean Le Cam vinha fazendo uma regata extraordinária, chegando a liderar no Atlântico por bom tempo, até que desviou de seu caminho para resgatar o colega de navegação, com grande esforço pelas dificuldades geradas por mar bravio e ventos fortes. Jean por muito tempo esteve em destaque nesta regata, e com um Imoca antigo, apenas remodelado, mas sem hidrofólios, conseguiu uma participação fenomenal em todos os sentidos.

Vendée Globe 2020-21, minha missão realizada, com a cobertura diária completa de todos os principais momentos desta grande regata. Vários barcos ainda estão no mar, todos no Atlântico, rumo à linha de chegada em Les Sables d’Olonne. Bons ventos a todos!

Classificação na Vendée Globe 2020-21

Barco – skipper – chegada (horário UTC) – tempo corrigido

1º lugar: Maître Coq IV – Yannick Bestaven – 28/1, às 03:19:46 – 80dias3h44min46s

2º lugar: Apivia – Charlie Dalin – 27/1, às 19:35:47 – 80dias6h15min47s

3º lugar: Bureau Vallée 2 – Louis Burton – 28/1, à 23:45:12 – 80dias10h25min12s

4º lugar: Yes We Cam – Jean Le Cam – 28/1, às 19:19:55 – 80dias13h44m55s

5º lugar: Seaexplorer - Yacht Club de Monaco – Boris Herrmann – 28/1, às 10:19:45 – 80dias14h59min45s

6º lugar: Linked Out – Thomas Ruyant – 28/1, às 04:42:01 – 80dias15h22min01s

7º lugar: Groupe Apicil – Damien Seguin – 28/1/2021, às 11:18:20– 80dias21h58m20s

8º lugar: Prysmian Group – Giancarlo Pedote – 28/1/2021, às 12:02:20 – 80j 22h 42m 20s

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