Vendée Globe Real e Virtual - 18-12-2020
O Pacífico da Paz,
e seus ventos brandos…
…aproximam todos os participantes novamente. As vantagens diminuem, os grupos estão ficando embolados. Será mesmo culpa dos ventos, ou os skippers estão mais cuidadosos?
Os líderes desta nona edição da Vendée Globe já estão sete a oito dias atrasados em relação à oitava edição (realizada em 2016-17). Alguns analistas apontam a necessidade de uma navegação prudente depois de vermos alguns dos barcos favoritos sofrerem quebras ainda no Atlântico. Os cancelamentos de várias regatas em 2020, pouco tempo de navegação e treinos para ajustes dos IMOCA e aprimoramento de seus comandantes, seriam os responsáveis pelo alto índice de quebras e menor desempenho dos barcos e skippers até agora.
De qualquer modo, o Oceano Pacífico, nas altas latitudes sul, entre as longitudes da Tasmânia e da Nova Zelândia tem sido mesmo de boa paz para os líderes Yannick Bestaven, Charlie Daline e Thomas Ruyant. Aliás, pacífico demais, tanto que o grupo de cinco barcos próximos chegou a uma diferença de apenas cem milhas. Bestaven (Maître Coq), principalmente, deve ter ficado bem ansioso ao assistir, sem poder fazer nada, a Dalin (APIVIA) chegando muito próximo, agora a menos de cinquenta milhas.
No final da tarde, as coisas melhoraram para os dois primeiros com a chegada de algum vento. Mas, e por onde anda Ruyant (LinkedOut)? Este resolver subir mais ao norte, com o objetivo de contornar a alta pressão (responsável pela calmaria) e tentar chegar mais cedo ao sistema de baixa pressão, que está com ventos fortes mais à leste.
Na opinião de Dalin, seu rival no LinkedOut terá de fazer um esforço muito grande para navegar com velocidade suficiente para atingir esse objetivo: “Acredito ser uma estratégia difícil, embora viável. E muito arriscada. Ele poderá ter um grande ganho se der certo, mas por outro lado um grande prejuízo se não der. Não há um meio termo”.
Arriscar ou não arriscar, parece ser a questão.
Comparando com outras Vendée Globe
Há quatro anos, Armel L’Cléac’h já estava perto do Cabo Horn, contornando-o em 23 de dezembro, isso depois de 47 dias de regata. Para o meteorologista oficial da Vendée Globe, Christian Dumard, o líder, seja quem for, só terá condições favoráveis para cruzar o Horn no último dia do ano.
Sébastien Josse, com sua experiência de três Vendée Globe passadas, acredita que a causa para a “lentidão” deste ano seja realmente a falta de treinos e a suspensão de várias regatas oceânicas em 2020, por motivo da COVID-19: “Não apenas as condições meteorológicas estão dificultando um bom desempenho, mas como os participantes não tiveram tempo suficiente e tampouco milhas navegadas para testar e ajustar seus IMOCA em função da pandemia, ocorreram quebras de barcos de ponta logo no início da Vendée, e a palavra de ordem dos que estão na competição deve ser “prudência”. A necessidade de manter o barco cem por cento em condições”.
Jean Le Cam (Yes We Cam) vem em quarto lugar, aparentemente conseguindo, com seu barco mais antigo e confiável, manter um bom ritmo, provavelmente por saber o que pode ou não pode fazer para chegar ao final desta Vendée Globe. Próximo, em quinto, vem Boris Herrmann (Seaexplorer – Yacht Clube de Monaco), que parece estar aguardando o momento certo para arriscar mais. Ele vem avançando pouco a pouco na classificação depois de estar distante no trecho do Atlântico.
Quem arriscou muito, partindo para navegação no extremo sul, junto a linha do gelo, e conseguindo grande desempenho no final de Atlântico até perto do Pacífico foi Louis Burton (Bureau Vallée 2).Estava atropelando todo mundo. Agora está pagando o preço, se arrastando lentamente na procura de abrigo numa pequena ilha ao sul da Austrália, para tentar realizar reparos e poder continuar a regata. Talvez seja a prova de que a análise de Josse esteja correta.