Vendée Globe Real e Virtual - 12-1-2021

Este é o Bureau Vallée 2 de Louis Burton. Esse skipper Impressiona por nunca ter desviado de depressões e pela sua determinação

Este é o Bureau Vallée 2 de Louis Burton. Esse skipper Impressiona por nunca ter desviado de depressões e pela sua determinação

RELARGADA

NO RIO DE JANEIRO?

Este momento pode definir o pódio da Vendée Globe 2020-21: com mais de dois meses de competição, nada menos que cinco veleiros se encontram na latitude do Rio, fazendo parecer uma relargada particular entre os melhores

Novamente relaciono o grupo dos cinco, como os chamo desde três dias passados: Yannick Bestaven (Maître Coq), Charlie Dalin (Apivia), Damien Seguin (Groupe Apicil), Thomas Ruyant (Linked Out) e Louis Burton (Bureau Vallée 2).

Ontem e hoje, a briga pela vanguarda da regatao foi intensa. Charlie Dalin tomou a liderança de Yannick Bestaven após este perder a grande vantagem de 435 milhas como consequência de ter se aproximado demasiadamente da costa brasileira. Contudo, Bestaven encontrou uma brisa esta manhã e conseguiu destacar-se um pouco mais para o norte. As diferenças estão tão curtas que nem vale a pena falar sobre ranking no momento.

Charlie Dalin conseguiu retomar a liderança. Confiante e persistente

Charlie Dalin conseguiu retomar a liderança. Confiante e persistente

Tento ser imparcial escrevendo sobre a Vendée Globe. Mas é difícil, principalmente depois de olhar o posicionamento dos veleiros na manhã de hoje e estar acompanhando todos os dias. O Maître Coq manobrou navegando rumo leste direto (90 graus) quando percebeu o erro que cometera. Com isso, já se voltou para norte e melhorou bem. Mas penso que ele ainda terá de provar que merece vencer a Vendée Globe. É um navegador que não inova, tanto que não “ganhou” a liderança, apenas a herdou em função das quebras e paradas para reparos de Apivia, Linked Out e Bureau Vallée 2. Outro dos cinco é Damien Seguin, e olhando de modo realista, também foi um herdeiro de posições. Seu Imoca é antigo, sem hidrofólios, então em termos técnicos só vencerá por muita sorte ou se todos os rivais mais próximos caírem por danos ou problemas diversos. Contudo, as condições meteorológicas complexas atuais no Atlântico Sul não permitem apostar na certeza.

Esta imagem foi da manhã de hoje, dia 12, às 8 horas (11 UTC). Agora à noite, o Apivia e o Bureau Vallée 2 se destacaram, o Maître Coq conseguindo acompanhar mas distante para oeste

Esta imagem foi da manhã de hoje, dia 12, às 8 horas (11 UTC). Agora à noite, o Apivia e o Bureau Vallée 2 se destacaram, o Maître Coq conseguindo acompanhar mas distante para oeste

Sébastien Josse, consultor de meteorologia para a Vendée Globe, explica que até a latitude de Recife “os ventos estarão instáveis, com bolhas de calmaria e variações em direção e velocidade. Isso resulta em muitas diferenças entre os competidores, mesmo próximos. Não será fácil superar estas condições”.

Não me prendo a rankings. Nas versões virtuais das regatas, é até engraçado observar alguns rumando para a glória de um primeiro lugar... até atolarem na calmaria que estava muito visível à sua frente. Muita gente, inclusive na vida, age assim. Corre a toda velocidade rumo a uma lâmpada como mariposa. Ali brilha e cai morto antes do amanhecer. "Fui líder da Vendée Globe virtual!", vai contar depois para os amigos. Sim, por meia hora ou pouco mais. Provavelmente, irá terminar em 100.000 na classificação.

Louis Burton analisa o mapa meteorológico e a posição dos rivais. Hoje ultrapassou mais dois e já o 3º colocado

Louis Burton analisa o mapa meteorológico e a posição dos rivais. Hoje ultrapassou mais dois e já o 3º colocado

Voltando à regata real, prevejo muito em breve Apivia em primeiro, e Bureau Vallée 2 em segundo — isso se a competência prevalecer sobre a sorte. Os dois citados são os que estão mostrando mais técnica e vontade ao longo de toda a Vendée Globe. Minha torcida é pelo Louis Burton, pois este vai atrás do que realmente quer: a vitória. Afobado às vezes, como ao queimar a largada de uma regata que iria durar três meses. Pagou 12 horas de penalidade parado no Atlântico (teve mais uma penalidade por erro da sua equipe). Mas foi o único que procurou os 55 Furiosos sem se importar com os ventos fortes, sempre navegando nos limites das áreas de gelo, não se intimidando e nunca contornando qualquer depressão. Isso tudo acompanhei no dia a dia pelo tracker map da Vendée Globe e pela interface da regata virtual, que mostra não apenas o posicionamento, mas também os ventos e condições do mar. O que me impressionou mais foram seus verdadeiros gritos de guerra, lá no alto do mastro, ao terminar o reparo de seu Imoca na ilha Macquerie: "Estou de volta, me aguardem"... Ganhou meu respeito e torcida.

Lamento muito Jérémie Beyou ter sofrido danos graves no barco logo de início e, por isto, ter relargado muito atrasado. Vocês sabiam que foi o seu Charal que fez o trecho do Cabo da Boa Esperança ao Horn em menor tempo? Seria um final de regata fantástico tê-lo ali no Atlântico agora, bem como o Alex Thomson e seu Hugo Boss. De qualquer modo, torço para que tenhamos um vencedor mestre dos mares e não um sobrevivente que herdou as posições sem demonstrar capacidade estratégica ou determinação.

Um pouco exagerado, o texto de divulgação hoje das condições da Vendée Globe chega a dizer que a chegada em Les Sables talvez tenha de ser decidida no photo finish, como numa corrida de cavalos... Sorri ao ler isso, mas o real significado da condição atual da Vendée Globe 2020-21 é um momento de desiquilíbrio, onde por um mínimo ou grande competência chegaram aqui os cinco que estão na disputa, mas como em tudo na vida, uma pitada de sorte poderá ter a última palavra.

Não se deve subestimar o alemão Herrmann. Hoje, passou por Seguin e aparece em quinto lugar

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