Vitorioso

Charlie Dalin, ao completar a Vendée Globe 2024-25. Foto: Jean Louis Carli - Alea

O homem mais feliz

do mundo

Francês Charlie Dalin vence a volta ao mundo em solitário Vendée Globe 2024-25 em tempo recorde

Foi de forma magistral que o navegador solitário Charlie Dalin venceu a Vendée Globe 2024-25, com seu veleiro Macif Santé Prévoyance, estabelecendo um novo recorde de circum-navegação em monocasco num tempo quase inacreditável: completou a volta ao mundo em apenas 64 dias, 19 horas, 22 minutos e 49 segundos. Ele bateu o recorde anterior (pertencente a seu compatriota Armel Le Cléac’h desde a Vendée Globe de 2016-2017) com diferença de quase dez dias, não deixando nenhuma dúvida sobre quem é o hoje o melhor navegador de oceano do planeta.

Dalin cruzou a linha de chegada da volta ao mundo em solitário na manhã de terça-feira, 14 de janeiro, às 7h24 UTC (5h24 hora local). O navegador francês, hoje com 40 anos de idade, foi o líder mais regular e consistente desta 10ª edição da Vendée Globe. Ele esteve à frente da flotilha por 42 dias alternados. Desde 30 de dezembro, porém, tomou o primeiro lugar em definitivo, para obter assim a vitória na mais prestigiada regata à vela em solitário do mundo.

Charlie Dalin completou a volta ao mundo em solitário e sem escalas às 5h24 (hora local) do dia 14 de janeiro, derrubando o recorde de circum-navegação em veleiro monocasco. Foto: Jean-Louis Carli - Alea

Vitória e justiça

Em sua primeira entrevista após a chegada, com emoções à flor da pele, Charlie Dalin declarou:

“Hoje sou o homem mais feliz do mundo, com certeza. Esta foi minha segunda participação numa Vendée Globe, na primeira vez (2020-21) só tive a honra de ter sido o fita azul (o primeiro a chegar), mas não obtive a vitória. Desta vez, eu consegui!”

Dalin referia-se ao ocorrido no final da Vendée Globe 2020-21, sem esconder que conseguiu exorcizar um pesadelo. Ele teria sido o vencedor daquela regata, e com méritos, se não fossem detalhes do regulamento que se mostraram no mínimo duvidosos. Ele chegou na frente, mas quem venceu foi o também francês Yannick Bestaven, com o veleiro Maître Coq, que recebeu um bônus de 12 horas por ter desviado de sua rota para socorrer outro competidor que naufragara, Kevin Scoffier.

No mar extremamente agitado, caso fossem transferidas para o critério de distância percorrida, aquelas 12 horas poderiam equivaler a 120 ou 150 milhas (222 ou 278 km). Ocorre que, na reta final da chegada em Les Sables D’Olonne, o mar estava praticamente sem ondas e com bom vento favorável; com isso, os veleiros percorreram cerca de 20 milhas (37 km) por hora. Como o regulamento falava do bônus em horas, e não em distância, as 12 horas se transformaram numa grande vantagem quando somadas à distância percorrida.

Assim, embora Yannick Bestaven tenha sido o terceiro a chegar, foi declarado vencedor da Vendée Globe 2020-21 pelo tempo corrigido. Os dois navegadores que o antecederam, Charlie Dalin (Apivia) e Louis Burton (Bureau Vallée 2), que protagonizaram um fantástico duelo pela vitória, passaram então para segundo e terceiro lugares, respectivamente.

“Com a minha equipe Macif, trabalhei durante quatro anos nesta edição, construindo este novo barco, preparando-o e atualizando-o, e finalmente embarcando e o conduzindo para a vitória. Definitivamente, foi a melhor travessia de linha de chegada da minha carreira! Nunca senti tanta emoção em minha vida, estou muito feliz por estar de volta a Les Sables d’Olonne depois de mais de 60 dias de navegação”, concluiu um Charlie Dalin.

Outros rivais

A disputa de Dalin desta feita foi contra dois outros franceses, Yoann Richomme (Paprec Arkéa) e Sébastien Simon (Groupe Dubreuil). Novamente uma disputa de tirar o fôlego, alternando-se os três na liderança do Índico ao Pacífico, até que pouco antes da linha do equador o Macif Santé Prévoyance destacou-se sobre o Paprec Arkéa e abriu o caminho para a vitória.

Yoann Richomme, um estreante na Vendée Globe —mas com vitórias em regatas oceânicas de prestígio, como a Route du Rhum, La Solitaire du Figaro e competições transatlânticas em solitário da classe Imoca— chegou um dia depois de Charlie Dalin.

Richome comentou em entrevista após desembarcar: “O que mais me surpreendeu é o número de mudanças no ranking —foi incrível. Eu pensei que estava muito longe no Cabo Finisterra, mas então eu tive uma descida incrível e fui o primeiro na Madeira. Em seguida, mudou novamente com a liderança de Sam (Goodchild) e Thomas (Ruyant). Nós pensamos que eles escapariam no Atlântico Sul, mas no final os ultrapassamos. Quando começamos o retorno e Charlie passou o Cabo Horn nove minutos depois de mim, eu disse a mim mesmo que não seria fácil, porque o barco dele estava mais à vontade nas transições e nos ventos médios da subida no Atlântico. Mas esse não é o único motivo pelo qual ele me ultrapassou. Na frente fria do Rio de Janeiro, eu não estava tão confortável quanto ele e estava muito cansado naquela altura”.

Já Dalin disse a respeito do rival e amigo de longa data: “É graças a Yoann que eu fui capaz de navegar pelo mundo em tão pouco tempo. Isso me forçou a ficar de olho nas regulagens, a dar tudo ... com Yoann, foi uma partida incrível”.

Sébastien Simon pode ser considerado o terceiro herói desta Vendée Globe. Não figurava como favorito, longe disso, mas assumiu a liderança por diversas vezes e por longos trechos, até que um dos hidrofólios quebrou-se. Por isso, não conseguiu manter o ritmo e foi superado pelos rivais. De qualquer modo, mesmo mais lento, conseguiu se manter até o momento desta publicação a terceira posição com grande vantagem sobre o grupo que disputa do 4º ao 10º lugares e deve mesmo terminar no pódio (confira as posições dos competidores aqui).

Roberto Negraes