Sail GP
Sail GP 2025 em Auckland, Nova Zelândia. Foto: Felix Diemer - Sail GP
Regata para ver
da arquibancada
Por Regina Hatakeyama
Chega ao Brasil uma inédita e fabulosa competição que promete revolucionar o mundo da vela
Apresentado em seu site oficial como “a mais emocionante corrida na água”, disputada por atletas da elite mundial, o Campeonato Sail GP tem um formato de competição inédito na vela.
A exemplo do que ocorre na Fórmula 1, é uma competição anual e as etapas são realizadas em cidades icônicas e em diferentes partes do mundo, com regatas curtas bem perto da costa para que o público assista a partir de arquibancadas montadas em terra firme especialmente para o evento —a entrada é paga.
As embarcações utilizadas pelas 12 equipes participantes nesta temporada (cada qual representando uma nação e composta por velejadoras e velejadores da elite do esporte de seu país) são idênticas (modelo F 50), e todas fornecidas pela organização do Sail GP, que foi criado em 2018 por dois nomes ligados à America’s Cup: o neozelandês Russel Coutts e o estadunidense Larry Ellison. Russel foi cinco vezes ganhador da Copa América, sendo três como skipper/timoneiro (com o Team New Zealand em 1995 e 2000, e com o Alinghi, da Suíça, em 2003) e duas como CEO do Oracle Team, de Larry Ellison, em 2010 e 2013.
O Sail GP está em sua quinta edição, que começou em novembro, em Dubai. O agora batizado Rolex Sail GP 2025 tem duas equipes estreantes, Itália e Brasil, e um dos eventos desta temporada será o Enel Rio Sail Grand Prix, que será disputado em maio, no Rio de Janeiro, onde os locais poderão torcer pela prata da casa: Martine Grael, Marco Grael e Kahena Kunze, do Mubadala Brazil Sail GP Team, a primeira equipe a ter uma mulher, Martine, no timão
Estas e muitas outras informações estão no site do Sail GP, em inglês, mas nós traduzimos o essencial para você entender como tudo funciona, aqui. Veja a seguir.
Prêmios milionários
O Campeonato Sail GP acontece ao longo de um ano e, além dos troféus, oferece US$ 12,9 milhões em prêmios. Destes, US$ 2 milhões vão para o campeão da Grande Final, disputada pelos três primeiros colocados na tabela.
Equipe da Espanha comemora vitória na Grande Final do Sail GP, em 2024. Foto: Adam Warner - SailGP
O F 50
Como se espera de um GP cheio de emoção, os veleiros F 50 utilizados no Sail GP são muito velozes e, para isto, altamente tecnológicos. Em condições ideais, podem navegar quatro vezes mais rápido que a velocidade do vento e passar dos 100 km/h (52 nós ou 60 mph) — o recorde atual, de 99,94 km/h, foi registrado pela equipe francesa liderada por Quentin Delapierre, na terceira temporada do Sail GP.
Esta classe de barcos foi desenvolvida a partir dos revolucionários catamarãs AC 50 da America’s Cup de 2017, com hidrofólios que, quando a velocidade certa é alcançada, levantam o barco e o mantêm voando acima da água. A propulsão é provida por vela asa modular em três tamanhos, com 18 m, 24 m e 29 m de altura. A asa menor é para ventos fortes; a intermediária, para uso geral; e a maior, para ventos fracos. Lemes e bolinas também são intercambiáveis.
O comando desses barcos voadores exige máxima atenção, para não voarem muito alto nem saírem do controle. Eles podem capotar se houver muita energia na asa.
Características do F 50
Comprimento total: 15 m (49,2 pés)
Boca: 8,8 m (29 pés)
Altura padrão da asa: 24 m (78,7 pés)
Peso: 2,4 t
Velocidade máxima estimada: 100 km/h (52 nós)
Tripulantes: 6








A tripulação
Cada F 50 é tripulado por um estrategista, um piloto, um regulador de asa, um controlador de voo e dois grinders. Em condições de vento leve, a comissão de regata pode instruir as equipes a diminuir para quatro tripulantes (à escolha de cada equipe), a fim de deixar os barcos mais leves.
O piloto fica à ré. É ele quem decide o rumo e comunica o plano aos demais tripulantes. Os pilotos são considerados os líderes das equipes.
O estrategista vai atrás do piloto, atento ao cenário geral, às mudanças nas condições do vento, situações de aproximação, riscos de colisão e apresentação de protestos.
O regulador de asa é responsável por ajustá-la na melhor forma para as condições do vento e comunicar ao piloto os melhores modos de velejar.
A função do controlador de voo é manter o barco acima da água, reduzindo o arrasto e aumentando a velocidade. Junto ao regulador de asa e ao piloto, ele trabalha para deixar o barco nivelado, firme e estável.
Os grinders (termo em inglês que significa moedores) ficam na proa, na função que mais exige esforço físico: girar manivelas para prover uma enormidade de energia para regular as velas, ajustar a orça e a altura de voo do catamarã. São, portanto, imprescindíveis. Sem os grinders, não seria possível timonear um barco como o F 50. Mas não é só força bruta, o grinder deve ser capaz de prever os próximos movimentos e estar pronto nos momentos que requerem muita energia de forma imediata.
Foto: Bob Martin - Sail GP
Pontuação
Regatas e eventos contam pontos, que são somados para definir os três barcos que se enfrentarão na Grande Final do Campeonato Sail GP.
Cada GP tem seis regatas de flotilha (com a participação de todos os barcos ao mesmo tempo) antes da Final. A tabela de classificação soma os pontos que as equipes marcaram nas regatas de flotilha, e as três com mais pontos se qualificam para a Final.
Os pontos são marcados de acordo com o lugar de chegada em cada regata de flotilha, do primeiro ao décimo barco. Após o décimo lugar, os demais barcos não pontuam: o primeiro a chegar ganha 10 pontos; o segundo, 9 pontos; o terceiro, 8 pontos; e assim vai, até o décimo barco, que leva 1 ponto; do décimo primeiro em diante, é 0.
DNS - Um barco que não largou (DNS, do inglês did not start) ou é desqualificado recebe 0 ponto.
DNF - Um barco que começa, mas não termina (DNF, do inglês did not finish) recebe 1 ponto.
Quem vencer a final é declarado campeão do GP e ganha 10 pontos na tabela geral do Campeonato Sail GP. O segundo colocado recebe 9 pontos; o terceiro, 8 pontos.
As equipes que ficam fora da Final pontuam na tabela geral conforme sua classificação no evento: o quarto colocado fica com 7 pontos; o quinto, 6 pontos... até o décimo, que recebe 1 ponto.
Ao término da temporada, apenas as três equipes mais bem classificadas disputam a Grande Final, de onde sairá o campeão, assim como o segundo e o terceiro colocados do Campeonato Sail GP do ano. A classificação das demais equipes, que não disputaram a Grande Final, segue de acordo com a pontuação na tabela geral da temporada.
Sail GP 2024-25 em São Francisco, EUA. Foto: Simon Bruty - Sail GP
Desempate
Se houver empate, as equipes são classificadas de acordo com seu resultado na regata ou evento mais recente.
Tempo
Todas as regatas têm um prazo de 16 minutos, após o qual serão encerradas. Uma corrida encerrada pode ser pontuada desde que pelo menos um barco atinja a distância de pontuação (portão 3).
Penalidades
As regras são duras e a equipe de arbitragem pune os barcos com pontos de penalidade em caso de colisão. Mesmo o barco atingido pode ser punido se os árbitros concluírem que a equipe não fez o suficiente para evitar a colisão. Os pontos de penalidade são determinados como segue:
Colisão
Barco responsável: 4 pontos
Barco envolvido: mínimo de 2 pontos (se tivesse sido possível evitar)
Colisão causando danos
Danos: equipe técnica necessária para análise e reparo
Barco responsável: 8 pontos
Barco envolvido: mínimo de 4 pontos (se tivesse sido possível evitar)
Colisão causando danos graves
Danos graves: retirada das regatas do dia
Barco responsável: 12 pontos
Barco envolvido: mínimo de 6 pontos (se tivesse sido possível evitar)
Impacto na temporada
As penalidades de ponto de evento são descontadas da pontuação da equipe na temporada.
4 pontos de evento = menos 2 pontos na temporada
5-8 pontos de evento = menos 4 pontos na temporada
9-12 pontos de evento = menos 8 pontos na temporada
13 ou mais pontos de evento = menos 12 pontos na temporada
Condução perigosa (bandeira preta)
Os árbitros podem dar uma desqualificação imediata de bandeira negra a uma equipe que coloque outra equipe em alto risco de colisão ou grave risco de virar.
Largada
As equipes são penalizadas por iniciar as regatas mais cedo, ou “estar no lado do percurso” (OCS, on course side). Isto acontece quando um barco atravessa a linha de partida antes do tiro de largada; aí, a equipe que errou precisa ir para trás de toda a flotilha.
Manter-se afastado
Um barco com amuras a bombordo (com o vento vindo do lado esquerdo) deve dar lugar a um barco com amuras a boreste (com o vento vindo do lado direito).
Sobreposição (compromisso)
Quando os barcos se sobrepõem (estão em “compromisso”, com um deles posicionado adiante da popa do outro) enquanto seguem na mesma direção, o barco mais próximo do vento (barlavento) deve ficar fora do caminho. Isso significa que o barco mais distante do vento (sotavento) tem a posição de controle.
Quando os barcos não se sobrepõem e estão navegando na mesma direção, o barco de trás deve se afastar do barco da frente.
Limite
Há uma zona de 80 m estabelecida na área de regata. Quando dois barcos estão dentro dessa zona, o barco mais próximo do limite pode pegar a rota mais rápida para dentro e para fora da zona.
Contorno de marcas
Assim como os limites, as marcas têm uma zona circular de 50 m de diâmetro em torno delas. Quando os barcos se sobrepõem nessa zona, o barco por dentro deve ter espaço para contornar a marca. O barco do lado de fora deve permitir que o barco de dentro faça a curva.
Quando os barcos não estão sobrepostos, o barco que entrou na zona primeiro tem o direito de contornar a marca. As equipes lutam muito pela linha interna, especialmente na importante primeira marca.
Direito de passagem
Quando uma equipe com direito de passagem faz uma mudança significativa em sua direção, precisa dar tempo para os barcos próximos reagirem. Mesmo com o direito de passagem, devem fazer tudo o que puderem para evitar uma colisão.
Foto: Ricardo Pinto - Sail GP
A regata
Embora a configuração básica do percurso das regatas seja sempre a mesma, visando à velocidade e ao engajamento do público, o seu tamanho e posição podem sofrer alterações, dependendo das condições climáticas locais.
Geralmente, o momento mais emocionante é o começo, com as equipes duelando com bordos e jibes pela melhor posição dentro da área de partida, e o relógio em contagem regressiva para a largada.
Depois de largar, os barcos aceleram ao máximo em linha reta para chegar à marca número 1, já traçando estratégias sobre qual lado do portão será mais vantajoso para, dali, seguir com velocidade para o portão de sotavento, no fundo da raia, e voltar contra o vento em direção ao portão de barlavento, no topo da raia. As equipes repetem as voltas algumas vezes antes pegar a reta final para o portão de chegada. Um formato de regata sempre emocionante.
Próximo evento da temporada 2024-25 do Sail GP será em maio, no Rio
A equipe Brasil Mubadala
Martine Grael (Brasil): capitã
Marco Grael (Brasil): grinder
Mateus Isaac (Brasil): grinder
Andy Maloney (Nova Zelândia): controlador de voo
Leigh McMillan (Reino Unido): regulador de asa
Paul Goodson (Reino Unido): estrategista
Kahena Kunze (Brasil): reserva
Richard Mason (Reino Unido): reserva
Foto: Felix Diemer - Sail GP
A equipe que representa o Brasil no Sail GP foi montada por Alan Adler, três vezes olímpico e empresário ligado a importantes projetos da vela brasileira e hoje envolvido com grandes eventos esportivos, por meio da IMM, da qual é CEO. Essa turma, composta por Marco Grael, Mateus Isaac e Kahena Kunze, é liderada pela bicampeã olímpica (junto de Kahena Kunze) Martine Grael, a primeira pilota a comandar um catamarã F 50 no Sail GP. Além dos brasileiros, o Brasil Mubadala leva a bordo experientes velejadores de outras nacionalidades: o neozelandês Andy Maloney, campeão da America’s Cup; o britânico Richard Mason, que já fez parte das equipes da Grã-Bretanha, Dinamarca e Suíça no Sail GP; o também britânico Leigh McMillan, que participou de duas America’s Cup. O estrategista é Paul Goodson, outro experiente velejador do Reino Unido, com participação em três Olimpíadas (foi medalha de ouro nos Jogos de Pequim, na classe Laser) e três títulos mundiais em barcos com hidrofólios (classe Moth).