Troféu Julio Verne 2020

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Volta ao Mundo em 40 dias?

duelo francês por Novo recorde

Os skippers franceses Franck Cammas e Charlie Caudrelier (em dupla no Edmond de Rothschild) e Thomas Coville (Sodebo Ultim 3) são os desafiantes

Depois de uma espera desgastante de 20 dias, finalmente os maxitrimarãs franceses Edmond de Rothschild (Gitana) e Sodebo Ultim 3 partiram para a tentativa de estabelecer um novo tempo recorde da volta ao mundo, na disputa do prestigioso Troféu Júlio Verne. O recorde atual pertence a outro maxitrimarã francês, o Idec Sport, comandado por Francis Joyon, com o tempo de 40 dias, 23 horas e 30 minutos.

O primeiro a cruzar a linha oficial de partida do Troféu Jules Verne — entre os faróis Créac'h (Ouessant, França) e Lizard (no sudoeste da Inglaterra) — foi o Sodebo Ultim 3, às 02h55 (horário francês) da última quarta-feira (25). Na manhã da véspera, o skipper Thomas Coville e sua tripulação de sete integrantes navegaram para aprovar os reparos realizados pela equipe de terra no hidrofólio de boreste do barco, que havia sido danificado em 8 de outubro, após uma colisão com um ófni (objeto flutuante não identificado). Depois disto, retornaram a Lorient e, três horas mais tarde, partiram novamente para aproveitar a situação meteorológica favorável.

O Edmond de Rothschild, mais recente veleiro da equipe Gitana, com a dupla de skippers Cammas-Caudrelier e mais quatro tripulantes, cortou a linha de largada às 3h26 (horário francês) nessa mesma quarta-feira. A equipe ficou aliviada de saber, por seu meteorologista/estrategista, Marcel van Trieste, que havia a possibilidade de chegarem à linha do equador em quatro dias e dez horas.

Ao cruzarem a linha de largada com menos de uma hora de diferença, os dois veleiros estabeleceram de imediato uma promissora velocidade de 40 nós! E agora estão correndo uma disputa não entre sí, mas contra o relógio e o trimarã Idec Sport, de Francis Joyon.

A janela meteorológica

“Eles estão com um vento noroeste, por boreste dos trimarãs, de cerca de 20 nós, o que oferece condições manejáveis de navegação", esclareceu Jean-Luc Nélias (da equipe Gitana). “Devem, então, encontrar vento mais forte até o norte de Portugal, antes de descer rapidamente em direção ao equador, que podem cruzar, teoricamente, em menos de cinco dias. Uma vez no hemisfério sul, o desafio é negociar o máximo possível o anticiclone de Santa Helena para chegar ao Cabo das Agulhas, entrada do Oceano Índico, em menos de 12 dias”.

Patricia Brochard, copresidente da Sodebo, comentou: "O Troféu Júlio Verne é um recorde antológico batido anteriormente pelos maiores nomes das regatas oceânicas. Esta tentativa de quebrar o recorde vem em um contexto especial e espero que faça o público sonhar tanto quanto nós. Pela primeira vez, vamos assistir o novíssimo Sodebo Ultim 3 em modo de ‘voo’”. 

Da mesma forma, o máxi Edmond de Rothschild, projetado por Guillaume Verdier e equipe, com o escritório de design da Gitana, foi idealizado para ser um “barco voador”.

Veja, abaixo, dois vídeos a bordo do Edmond de Rothschild e do Sodebo Ultim 3, em que ambos aparecem navegando um ao lado do outro.

História do Troféu Júlio Verne

  Júlio Verne, quando escreveu, em 1872, seu magnífico livro A Volta ao Mundo em 80 Dias, nunca poderia supor o sucesso e inspiração resultantes de sua obra. A mais interessante consequência, sem dúvida, foi a iniciativa de um grupo de navegadores em lançar um desafio similar para veleiros, batizado com o nome Trophée Jules Verne em homenagem ao escritor. Assim, o troféu seria conferido ao barco que realizasse a volta ao mundo mais rápida, sem escalas. No ano do primeiro desafio, o veleiro catamarã Explorer, do francês Bruno Peyron, estabeleceu o primeiro recorde, de 79 dias, 6 horas, 15 minutos e 56 segundos, superando os 80 dias imaginados por Júlio Verne.

   Já o troféu elaborado como prêmio, em si, seria inimaginável na época em que Júlio Verne escreveu seu livro. Trata-se de uma escultura com o perfil de um casco de veleiro mantido suspenso no ar por um campo magnético. A obra é do escultor Thomas Shannon, artista americano comissionado pelo Ministério da Cultura da França.

Foto: Fanny Schertzer - Wikimedia Commons

Foto: Fanny Schertzer - Wikimedia Commons

   Na verdade, a ideia do desafio surgiu em meio a uma conversa entre navegadores sugerida por Yves Le Cornec, isso em 1985. Durante anos, foi amadurecendo até que, em 1990, dois vencedores de grandes regatas naquele ano — a velejadora francesa Florence Arthaud (campeã da regata transatlântica Rota do Rum em 1990) e o também francês Titouan Lamazou (primeiro vencedor da Vendée Globe, em 1990) — levaram o plano adiante. Desse modo, em 1991, foram definidas as regras do Troféu Júlio Verne por um comitê formado pelos mais respeitados velejadores da época: Arthaud, Lamazou, Bruno Peyron, Peter Blake, Robin Knox-Johnston, Jean François Coste, Yvon Falconnier, Gabie Guilly, Yves Le Cornec, Olivier de Kersauson e Didier Ragot. Em 29 de janeiro de 1991, foi criada oficialmente uma organização sem fins lucrativos para dar suporte ao evento. Estava lançado o grande desafio de volta ao mundo.

Realizado anualmente, o Troféu Júlio Verne não impõe quaisquer restrições ao tipo e tamanho de veleiro nem à quantidade de tripulantes a bordo. Para ser validado, o desafiante precisa apenas inscrever seu barco e pagar uma taxa à organização. Ao longo dos anos, o recorde já foi quebrado nove vezes, sendo o último obtido em 2017 pelo navegador francês Francis Joyon, com o Idec Sport, um trimarã de 103 pés (31,50m) e área vélica de 828m², deslocando 18 toneladas. Seu recorde reduziu pela metade o sonhado por Júlio Verne — o Idec Sport concluiu a volta ao mundo em apenas 40 dias, 23 horas, 30 minutos e 30 segundos. Este maxitrimarã, lançado ao mar em 2006, já teve outros nomes famosos: Groupama 3, Banque Populaire VII, Lending Club 2 e Idec 3. Como curiosidade, o Idec Sport, quando tinha o nome de Groupama 3, já tinha sido recordista em 2010, comandado por Franck Cammas (também francês), com 48 dias e 7 horas.