Sail GP
Melhor que a
Fórmula 1?
Por Roberto Negraes*
Os catamarãs F50, disputando a série anual SailGP, costumam ser chamados de F1 dos mares. Mas acho isso injusto. São bem mais interessantes que a categoria máxima do automobilismo
As corridas não se chamam corridas, e sim regatas, e são disputadas pelo estado da arte de fantásticos veículos marítimos com dois cascos, os F50; simplesmente os mais rápidos veleiros de competição do mundo, podendo atingir velocidades de mais de 50 nós (ou seja, 100 km/h na água, o que corresponderia aos 300 km/h em terra do F1). E o tamanho? Medem 15 metros de comprimento (fazem aqueles carrinhos parecerem baratas), utilizam hidrofólios de 8,8 metros, e em vez dos motorzinhos poluidores da F1 usam a politicamente correta energia eólica (ou seja, o vento), por meio de velas de 24 metros de altura (podem ser reduzidas para 18 metros em caso de ventos muito fortes).
Portanto, se você chegou à conclusão, como eu, de que a F1 virou uma chatice há anos, trago esta sugestão: mudem de “canal” para as regatas de SailGP (oficialmente em vídeos, tempo real, pela Internet)!
São seis etapas por temporada (por enquanto), mas para cada etapa é considerada a soma de pontos de quatro regatas mais uma (os dois primeiros disputam a final), durante dois dias! Não existe um simples piloto a bordo, e sim nada menos que cinco tripulantes, um deles no comando; não há uma torcida por esta ou aquela marca, e sim uma torcida nacional, pois cada barco é inscrito por um país; e não existem diferenças nos “motores” e desempenho, pois a velocidade é determinada pelo vento, igual e justo para todos. Finalmente, digamos, não existe nenhuma competição por veículos que seja tão dependente da natureza, e ao mesmo tempo emocionante, pois capotagens, mergulhos inesperados e outras peripécias acontecem várias vezes em cada etapa. Como os eventos são disputados em baías, junto a portos, podem ser acompanhados por toda a população da cidade que quiser comparecer, e de graça. Um aplicativo ajuda a assistir às regatas a partir de câmeras instaladas nos próprios catamarãs e até em drones, além da divulgação e transmissão ao vivo por especialistas — em canais digitais.
Este ano, temos a segunda temporada da SailGP, iniciada em Sidney (Austrália), com a vitória do barco representando a Grã-Bretanha, comandado por Ben Aisley (resultados completos ao final da matéria). Infelizmente, a segunda etapa, prevista para maio em São Francisco, foi cancelada em razão da pandemia de COVID-19. A terceira etapa será em Nova York (12 e 13 de junho), a quarta em Cowes, na ilha de Wight (Inglaterra), em 14-15 de agosto, e a final em Copenhagen (Dinamarca) em 11-12 de setembro.
Cada evento inclui dois dias de competição, apresentando quatro regatas da flotilha e uma quinta regata apenas entre os dois líderes. Os pontos são acumulados em cada etapa ao longo da temporada, culminando com uma emocionante corrida de 1 milhão de dólares na Grande Final.
Sustentabilidade e programação de jovens
Como um esporte disputado nas águas, o SailGP aproveita o poder do vento, impulsionando os limites da tecnologia e da inovação para oferecer métodos e materiais cada vez mais eficientes para alcançar um objetivo de zero carbono, e ainda mais rapidamente que qualquer outro esporte convencional.
Paralelamente, o programa SailGPInspire cimenta o compromisso da organização com o futuro e torna o esporte acessível a todos, por meio de programas educacionais dedicados. Esses programas são adaptados às habilidades e à idade dos jovens, oferecendo novos caminhos profissionais para o esporte e incluindo navegação prática e experiência de trabalho para jovens de todos os países.
Como se sustenta a categoria
O SailGP foi criado por Larry Ellison, marinheiro apaixonado e comprometido pessoal e financeiramente com o crescimento e o avanço da navegação por várias décadas. A SailGP opera um modelo híbrido de serviços compartilhados para evitar a duplicação de recursos, enquanto caminha para uma proposta de franquia com equipes dirigidas por parceiros externos que entrarem no esporte.
O SailGP é sancionado pela World Sailing (entidade máxima do iatismo no mundo) e possui uma equipe de gestão de regatas internacional, liderada por Ian Murray, atleta olímpico e ex-timoneiro da Copa América. Richard Slater, um dos principais árbitros internacionais e vice-presidente do Comitê de Regras do World Sailing Racing, atua como árbitro principal e é responsável pelas regras de regata. O SailGP utiliza tecnologia da informação, hardware e software de navegação no gerenciamento e controle de regatas para garantir consistência, justiça e segurança.
Embora a maioria das equipes do SailGP seja totalmente formada por atletas nativos do país que representam, países selecionados sem a experiência necessária para pilotar os F50s podem incluir progressivamente cidadãos da nacionalidade com prazo de cinco anos.
O BARCO
Alimentado por uma vela de 24 metros de altura e voando acima da água, como aerobarcos, o F50 marca um enorme passo à frente na tecnologia. Espera-se que as novas atualizações produzam um ganho de desempenho de 15% na maioria das condições de corrida, em comparação com o AC50 (veleiro usado na Copa America). O catamarã F50 é um conceito revolucionário nas corridas de vela, depois de dez anos de desenvolvimento em corridas de multicascos de alto desempenho.
O F50 foi coroado o Barco do Ano 2019 da World Sailing.
Números do F50:
· Regra estrita de design único, classe de desenvolvimento
· Comprimento total: 15 metros
· Largura: 8,8 metros (incluindo anexos)
· Altura padrão da vela: 24 metros. Pode ser reduzida a 18 metros, para condições climáticas adversas
· Tripulação: 5 pessoas
· Limite de peso da tripulação: 438 kg (média de 87,5 kg por marinheiro)
· Velocidade máxima: 52 nós ou mais
· Câmeras de bordo: 3
· Microfones de bordo: 3
O F50 é uma classe de desenvolvimento e design únicos. Isso significa que os barcos que levam para a raia em cada evento são idênticos. Qualquer diferença de desempenho é devido à habilidade da tripulação. Esse é o grande benefício das regatas de design único e serve para promover corridas próximas e emocionantes, com um resultado imprevisível.
No entanto, diferentemente da maioria das classes de projeto único, a F50 permanece aberta ao desenvolvimento. Os principais designers e engenheiros irão constantemente aprimorar e evoluir os barcos para aumentar seu desempenho e garantir que eles permaneçam na vanguarda. Ideias e projetos serão testados e implementados em cada barco ao mesmo tempo, garantindo que cada melhoria seja aplicada igualmente em toda a flotilha, tornando as regatas mais rápidas e competitivas.
As câmeras a bordo proporcionam regatas no ponto de vista do espectador, enquanto microfones dão aos fãs a sensação de estarem no barco enquanto ouvem as chamadas táticas.
Todos os dados gravados nos barcos serão transmitidos aos treinadores da equipe via Oracle Cloud, permitindo que eles analisem o desempenho e se comuniquem com suas tripulações em horários predeterminados durante uma corrida. Os dados também serão usados para criar uma experiência única de segunda tela pelo aplicativo SailGP, no qual os fãs poderão selecionar até duas equipes para acompanhar e receber todas as informações importantes sobre o desempenho dos barcos. Tudo isso será integrado à transmissão de regata mais informativa e próxima ao público que o esporte já produziu.
Fundamentalmente, os catamarãs F50 podem ser desmontados e transportados entre locais em contêineres padrão de 40 pés (12,2 metros). Os barcos podem ser montados e preparados para a regata em cada local dentro de 48 horas após a chegada à vila do evento.
(O campeonato mundial https://esailing-wc.com/, reconhecido pela World Sailing, usa estes mesmos barcos)
Resultado da etapa inaugural (em Sidney, Austrália) e pontuação do campeonato
1. Grã-Bretanha - comandado por Ben Ainslie = 10 pontos
2. Austrália - comandado por Tom Slingsby = 9 pontos
3. Japão - comandado por Nathan Outteridge = 8 pontos
4. Espanha - comandando por Phil Robertson = 7 pontos
5. Estados Unidos - comandando por RomeKirby = 6 pontos
6. Dinamarca - comandado por Nicolai Sehested = 5 pontos
7. França - comandado por Billy Besson = 4 pontos
Como assistir (quatro opções, além do uso do aplicativo):
SailGPApp - Apple // Android
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Eis um vídeo fantástico da temporada 2020:
*Roberto Negraes é jornalista especializado em náutica e navegação, um dos pioneiros do setor. Em sua primeira participação numa regata virtual, conseguiu um 8º lugar numa das etapas da Volvo Ocean Race de 2008-09, além de 22º e 27º em outras etapas. Depois disso, passou a praticar e tornou-se o melhor brasileiro e melhor participante do continente americano durante anos, vencendo etapas de regatas internacionais como a Velux Five Oceans em 2010, vencendo na categoria SO (sem equipamentos extras) uma Solitaire du Figaro, conseguindo o 2º lugar na classificação geral da Cap-Istambul de 2010 (num final polêmico, com os próprios franceses lhe escrevendo que um bug do game havia lhe tirado a vitória), e terminando entre os Top 10 em 16 grandes eventos internacionais. Na Volvo Ocean Race de 2011-12, após vencer a regata experimental oferecida pela organização, esteve em 2º lugar na classificação geral até a sexta etapa, infelizmente não dando sorte nas duas últimas pernas e finalizando em 5º lugar entre 330 mil participantes de 184 países. Depois disso, parou de competir desde 2012, mas retornou agora às regatas virtuais, participando inicialmente de regatas como testes, para adaptar-se (a tecnologia desenvolveu-se muito nos últimos anos).