RORC 600 Caribbean - Final

Uma disputa

de tática e estratégia

Por Roberto Negraes*

Fotos: Tim Wright - RORC - photoaction.com

Fotos: Tim Wright - RORC - photoaction.com

Uma regata sem ventos (os alísios sumiram!), mas por isso mesmo, emocionante!

   Foi realizada com grande sucesso a 12ª edição da RORC 600 Caribbean, tendo a participação de 63 equipes (compostas por 700 tripulantes) de 37 países. Contudo, os veleiros foram pegos por uma grande surpresa: os ventos alísios devem ter tirado férias, pois, ou havia calmaria total ou apenas brisas leves em todo o percurso de 600 milhas marítimas. Isso resultou numa batalha tática e estratégica inédita para a região. A experiência adquirida nas regatas anteriores de nada valeram. Evitar trechos de calmarias e descobrir áreas com alguma brisa estiveram mais para consultores astrológicos do que para o uso do GPS. Assim, de certo modo, pode-se dizer que aconteceram disputas acirradas por toda a flotilha, justamente pela quase imobilidade total. Para compensar, os competidores conseguiram apreciar a presença de baleias, golfinhos e tartarugas emoldurando a bela paisagem caribenha. Dizem até que alguns marinheiros aproveitaram para pescar...

   A vitória inédita do TP52 Outsider, de Tilmar Hansen, primeiro veleiro alemão a ganhar o troféu da RORC Caribbean 600, registrando o melhor tempo corrigido no IRC, marcou o fim de uma série de vitórias (sete anos) de barcos americanos. O veleiro terminou a corrida na quinta-feira, 27 de fevereiro, no dia do 70º aniversário de seu comandante Tilmar! Ele comentou: "Esta é uma grande corrida, uma das maiores experiências em meus 38 anos com esse time. Vencemos e isso se resume a um excelente trabalho em equipe e um barco bem preparado. O estranho na interrupção da série de vitórias americanas não é sermos apenas um barco alemão; a tripulação inclui pessoal da Austrália, Dinamarca, EUA, Polônia, Holanda e Áustria. Parabéns ao RORC pela organização meticulosa e também a Antígua pela fantástica recepção.”

Largada. Foto: Arthur Daniel - RORC

Largada. Foto: Arthur Daniel - RORC

   O Volvo 70 Wizard (EUA), de David e Peter Askew, recebeu o Monohull Line Honors pelo segundo ano consecutivo. "No início da regata, o máximo que pudemos fazer foi apenas manter o barco seguindo na direção ideal da melhor maneira possível", disse Peter. "O Wizard não é o melhor barco em ventos fracos, com certeza. Tínhamos que encontrar uma saída. Finalmente, chegamos ao Outsider (TP52) em Monserrat e ao Prospector (Mini Maxi) em Guadalupe. Entramos em uma brisa muito boa até Barbuda, fazendo 22-24 nós o tempo todo.”

   A luta pelo Multihull Line Honors foi um sucesso e grande atração da regata, com três dos multicascos mais rápidos do mundo realizando um confronto fascinante. A liderança mudou de mãos pelo menos sete vezes entre o Power Play (de Peter Cunningham, Ilhas Cayman), Argo (de Jason Carroll, EUA) e Maserati Multi 70 (de Giovanni Soldini, Itália). O Power Play, comandado pelo britânico Ned Collier Wakefield, ganhou por apenas quatro minutos de vantagem sobre o Argo, vencendo o último lançamento dos dados na reta final para Antígua. "Desisti de contar o número de vezes que mudou o líder, eu não teria dedos suficientes", comentou Peter Cunningham. “Foi a corrida mais fantástica. Absolutamente inacreditável. A equipe do Power Play é fantástica, a organização e quantidade de trocas de velas que tivemos durante todo o percurso. Tivemos momentos difíceis, mas ninguém se preocupou. Rimos um pouco quando tomamos uma bebida virtual de vez em quando, além de uma menta com chocolate quando nos saímos bem. O Argo foi realmente fantástico, até o fim, os barcos estiveram iguais no desempenho.”

   O vencedor da classe MOCRA foi o catamarã Allegra, de 83 pés, de Adrian Keller (EUA). Christiaan Durrant (Austrália) com seu trimarã de 63 pés Shockwave foi o segundo colocado. O MOD70 Argo, de Jason Carroll (EUA), ficou em terceiro.

   O IRC Zero foi ganho pelo Outsider, com o Wizard em segundo.

   Na IRC 1, o vencedor foi o Pata Negra (Inglaterra), de Giles Redpath, enquanto em segundo ficou o Albator (França), de Philipe Frantz.

   Na IRC 2, a vitória coube ao Oyster, de Ross Applebey (Inglaterra), com o Liquid (Antígua e Barbuda), de Jules White, em segundo.

   Na IRC 3, ganhou o In Theory, de Peter McWhinnie (EUA). A Emily of Cowes, de Katy Campbell (Canadá), ficou em segundo.

   A Classe 40 foi vencida pelo BHB, navegado por Arthur Hubert (França). O UP Sailing (França), de Morgane Ursault-Poupon foi o segundo colocado.

   O último barco a terminar a corrida, Cabbyl Vane, chegou na manhã seguinte à premiação. Trata-se de um Ohlson 35 de 1974, maravilhosamente restaurado e otimizado para a navegação em alto-mar. No ano passado, os irmãos holandeses Yoyo e Jan Gerssen correram em dupla, mas desistiram da ideia, exaustos nas condições difíceis de 2019. Este ano, eles se juntaram a Sam Frampton e Gertjan Andel. Um bom público no Iate Clube de Antígua aplaudiu sua chegada.

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*Roberto Negraes é jornalista especializado em náutica e navegação, um dos pioneiros do setor. Em sua primeira participação numa regata virtual, conseguiu um 8º lugar numa das etapas da Volvo Ocean Race de 2008-09, além de 22º e 27º em outras etapas. Depois disso, passou a praticar e tornou-se o melhor brasileiro e melhor participante do continente americano durante anos, vencendo etapas de regatas internacionais como a Velux Five Oceans em 2010, vencendo na categoria SO (sem equipamentos extras) uma Solitaire du Figaro, conseguindo o 2º lugar na classificação geral da Cap-Istambul de 2010 (num final polêmico, com os próprios franceses lhe escrevendo que um bug do game havia lhe tirado a vitória), e terminando entre os Top 10 em 16 grandes eventos internacionais. Na Volvo Ocean Race de 2011-12, após vencer a regata experimental oferecida pela organização, esteve em 2º lugar na classificação geral até a sexta etapa, infelizmente não dando sorte nas duas últimas pernas e finalizando em 5º lugar entre 330 mil participantes de 184 países. Depois disso, parou de competir desde 2012, mas retornou agora às regatas virtuais, participando inicialmente de regatas como testes, para adaptar-se (a tecnologia desenvolveu-se muito nos últimos anos).