Globe40

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Um Sonho

Para quem ama velejar

Por Roberto Negraes

Globe40, uma nova competição de volta ao mundo com escalas realizada por duplas de velejadores em barcos de 40 pés

Você já ouviu falar da Globe40? Estamos nos referindo a uma regata de volta ao mundo, mais acessível financeiramente tanto a profissionais quanto a amadores, muito mais do que qualquer outra existente. Uma competição combinando desempenho, aventura e viagem pelos mais belos lugares do planeta.

Dar a volta ao mundo velejando é, com certeza, um dos sonhos mais populares entre navegadores e até mesmo pessoas que nunca foram ao mar anteriormente. É um desafio, um verdadeiro mito. Vai muito além de mero contexto esportivo, pode ser de um desafio pessoal à tentativa de uma conquista inigualável e ainda uma busca por autorrealização.

Quem participar da Globe40 terá a oportunidade de conhecer tantas culturas diferentes quanto as milhares de ilhas no roteiro, pisar nas mais belas praias do mundo. E ainda desafiar o famoso e temido Cabo Horn. Os barcos serão conduzidos em duplas.

Ian Lipinski e Adrien Hardy, dupla vencedora da Transat Jacques Vabre em 2019, a bordo do veleiro Classe 40 Crédit Mutuel

Ian Lipinski e Adrien Hardy, dupla vencedora da Transat Jacques Vabre em 2019, a bordo do veleiro Classe 40 Crédit Mutuel

A grande diferença desta competição são os custos. Participar da Globe40 significa gastar uma fração dos custos das mais famosas regatas de volta ao mundo com trimarãs gigantes ou os sofisticados monocascos Imoca (utilizados na Vendée Globe) e VO 65 (da Ocean Race).

A inspiração para esta regata inédita vem resgatar os valores originais das grandes corridas offshore dos velhos tempos, e, para os admiradores de todo o mundo, a história de Bernard Moitessier narrada em seu livro O Longo Caminho (La Longue Route).

A Globe40 será dividida em oito etapas, com no máximo 30 dias de duração, evitando os trechos mais difíceis dos mares do Sul (embora seja obrigatória a passagem pelos grandes e desafiadores cabos ao sul dos continentes).

É importante notar que esta regata de volta ao mundo certamente será mais lenta que qualquer outra. O motivo é o tamanho dos barcos (40 pés), menor que outras classes utilizadas em competições de volta ao mundo. Por exemplo, enquanto um classe Imoca 60 chega a 17,54 nós com ventos de 20 nós e 110º TWA (ângulo em relação ao vento), o Classe 40, com ventos e ângulos idênticos, pode atingir uma velocidade máxima de 15,26 nós.

Contra ventos de 25 nós, um Imoca, a 60º TWA, chega a 13,03 nós. O Classe 40, nas mesmas condições, chega a 10,16 nós. Outro fator a ser levado em conta é o tamanho e deslocamento comparando um Imoca a um Classe 40: este sendo bem menor, tem mais dificuldade contra ventos fortes, e o skipper precisa ter mais cautela.

A Largada

A regata começará no dia 26 de junho de 2022, em Tanger (Marrocos). A primeira etapa, de cerca de 2.200 milhas, terá como destino as ilhas de Cabo Verde, com as ilhas da Madeira e Canárias como marcos de passagem. A segunda etapa será um grande trecho de 6.200 milhas (previsão de trinta dias para a chegada do primeiro barco), com passagem pelo Cabo da Boa Esperança, e, em seguida, uma subida pelo Oceano Índico ao sul de Madagascar até as Ilhas Maurício.

Depois das Maurício, vem outro longo curso de 6.200 milhas em direção à Austrália e seu famoso Cabo Leeuwin, e depois o Estreito de Bass antes de cruzar o Mar da Tasmânia em direção a Auckland (Nova Zelândia).

A quarta etapa levará a flotilha à Polinésia Francesa. À frente está uma rota ao norte, de 2.100 milhas, com um curso entre as Ilhas de Sotavento do arquipélago da Sociedade antes de chegar a Papeete (Taiti).

A quinta etapa terá uma descida de 4.400 milhas rumo ao Cabo Horn, no extremo da América do Sul, e seguirá, via Canal de Beagle, para a cidade argentina de Ushuaia, na Terra do Fogo, a cidade mais ao sul do planeta.

O destino da sexta etapa, de 3.300 milhas, é Recife. De lá, a flotilha partirá para a ilha caribenha de Granada, e depois para uma corrida de cerca de 3.600 milhas passando pelo arquipélago dos Açores rumo a Lisboa, onde terminará esta volta ao mundo.

Ao completar a volta ao mundo, os barcos, que largarão no domingo 26 de junho de 2022 e retornarão em meados de março de 2023 para os líderes, terão navegado aproximadamente 30.000 milhas — algo como 140 dias no mar para o primeiro a chegar. As etapas, para os veleiros na dianteira, terão duração entre 12 e 24 dias, enquanto a última etapa está estimada em oito dias. A empresa contratada para realizar um estudo climatológico e de roteamento da Globe40 é a Great Circle, que tem colaborado com a Vendée Globe, Volvo Ocean Race, Route du Rhum e America’s Cup.

Até o início de julho, havia 12 inscrições oficializadas e outras seis em andamento para a regata real, mas a virtual, na plataforma Virtual Regatta, já está acontecendo desde o dia 17 de julho. Os vencedores de cada etapa ganharão prêmios da fabricante de agasalhos náuticos Helly Hansen; e o campeão geral, uma viagem para duas pessoas para a Polinésia.   

A Classe 40

Desenhos de projeto do Classe 40 Crédit Mutuel e, acima, o barco em ação

Desenhos de projeto do Classe 40 Crédit Mutuel e, acima, o barco em ação

O veleiro Classe 40 é uma síntese de ideias boas e simples. Durante anos, antes do lançamento da categoria, em 2004, projetistas, velejadores e construtores de barcos vinham trabalhando na criação de um barco oceânico de competição de 40 pés. A intenção era ocupar a lacuna entre os Mini 6.50 (ou Mini Transat, de 21 pés) e os veleiros de 60 e 65 pés, como os Imoca e os VO 65.

Em 2004, o navegador e jornalista francês Patrice Carpentier tomou a iniciativa de redigir as regras para a Classe 40 e, com outros apaixonados pela vela, criou a associação Class 40, com o objetivo de projetar um barco simples, confiável e rápido. Um ano depois, no Salão Náutico de Paris, aconteceu a apresentação oficial das regras da Classe 40, junto a um programa de participação em regatas, com destaque para a Rota do Rum de 2006. Logo surgiram os primeiros protótipos e, em outubro de 2006, largaram para a Rota do Rum 25 veleiros Classe 40, um terço da flotilha da regata! Hoje, a Class40 é composta por velejadores de 22 países.