Eis os AC 75 na raia
AC 75
Os fabulosos barcos voadores
Por Regina Hatakeyama
Chegou a hora de os novíssimos barcos AC 75, os monocascos inspirados nos aviões, mostrarem a que vieram
Não é de hoje que a America’s Cup é chamada de Fórmula 1 da vela. Impulsionada pelo dinheiro de gigantes do mundo dos negócios e da indústria apaixonados por velejar e pelo desafio de construir as mais velozes máquinas de corrida movidas a vento, a Copa América, como preferem alguns, nasceu grandiosa e assim tem permanecido durante os seus 170 anos de existência (saiba mais aqui.)
Para conquistar este que é considerado o mais antigo troféu esportivo internacional, equipes são formadas com não apenas velejadores de elite, obviamente, mas também com os melhores especialistas em projeto e construção de veleiros. Porque de nada adianta o talento do time de iatistas se o barco não navegar bem e não for veloz ou não resistir até o fim.
Nas disputas da America’s Cup, a chegada é decidida por centímetros, por segundos (ou menos que isso) de vantagem. Tem muita adrenalina numa regata dessas. Ainda mais agora que o atual detentor da Copa, o Emirates Team New Zealand, fazendo uso do seu direito de escolher o veleiro a ser utilizado na competição, decidiu por um tipo que voa. Não, não é força de expressão.
Nos AC 75, modelo definido para esta America’s Cup, o casco não toca na água nos momentos de ação. E, sim, foram concebidos para voar, até porque são inspirados nos aviões. A começar pela vela mestra, que é dupla, com duas camadas formando como que uma asa vertical.
O próprio casco, de 22,86 m (75 pés) de comprimento e 5 m de boca, é surpreendente. Já viu um veleiro monocasco sem quilha ou bolina? Pois os AC 75 não têm nada disso. E é aqui que entra a maior inovação: os hidrofólios dos AC 75. Hidrofólios em si não são nenhuma novidade. Por exemplo, os monocascos Imoca que atualmente disputam a regata de volta ao mundo Vendée Globe 2020-21 utilizam esse recurso.
O que os AC 75 têm de diferente, entre outras coisas, começa por um inédito sistema hidráulico acionado por baterias para levantar e abaixar os braços dos hidrofólios, que podem mover-se para baixo ou para fora do barco e são imensamente fortes e pesados. Ele é ativado à medida que o barco troca as amuras (muda de bordo), colocando um hidrofólio na água e levantando o outro, cujo peso passa a atuar como lastro, para manter o barco na vertical.
Já o desenho dos hidrofólios e mesmo o formato do casco é livre, com cada equipe podendo decidir por si, o que constitui uma arma secreta dos projetistas.
No geral, os hidrofólios têm formato de asa, que, por sua vez, têm flapes na borda de fuga, o que permite uma elevação extra na decolagem e controle mais preciso por parte da tripulação, como ailerons nos aviões. São eles que fazem o veleiro voar, podendo alcançar 50 nós, velocidade que poucos barcos a motor são capazes de atingir. (No vídeo a seguir, em inglês, Cooper Dressler, aviador e membro da equipe American Magic, fala das semelhanças entre os AC 75 e os aviões.)
A partir desta quarta-feira 17 de dezembro, na Nova Zelândia (madrugada de quarta para quinta-feira no Brasil), acontece uma amostra em primeira mão da batalha que esses barcos (quatro ao todo, contando com o da equipe defensora, Team New Zealand) irão travar pra valer a partir de 15 de janeiro, quando começa a Prada Cup, que decidirá a equipe que tentará tomar o caneco dos neozelandeses. É a America’s Cup World Series, que segue até o próximo dia 19, culminando com a Christmas Race. Uma prévia da sempre sensacional America’s Cup, que, nesta edição, a 36ª, será entre os dias 6 e 21 de março, nessas mesmas águas, na cidade de Auckland (confira os detalhes aqui).