A Rota do Ouro

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Tentativa de Record

de Nova York a San Francisco

Por Roberto Negraes*

Uma regata virtual pela antiga rota utilizada pelos clippers do século 19, conhecida como The Golden Route, foi o desafio que me propus a participar com meu Ondazul-BST. Como meu veleiro virtual se saiu? Um excelente sétimo lugar com mais de 42 mil participantes!

Todos os anos, a Virtual Regatta oferece um desafio aos velejadores virtuais: quem consegue percorrer mais rápido a clássica Golden Route (Rota Dourada), antiga rota entre Nova York e San Francisco, passando pelo Cabo Horn. Isso mesmo, contornando o continente americano num percurso de mais de 13 mil milhas (ou seja, perto de 21 mil quilômetros)!

A origem desta aventura foi a descoberta de ouro na Califórnia, em 1848, levando milhares de aventureiros a viajar de Nova York para San Francisco em busca da riqueza. Naquela época, o único meio de atender à demanda seria pelo transporte marítimo, e os construtores navais não perderam tempo em construir novos navios que suportassem as duras condições de mar da longa viagem. Poucos sabem, mas esta foi a origem dos lendários clippers, veleiros de três mastros e grande área vélica, que dominaram a cena marítima no século 19.

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Recentemente, alguém sugeriu um desafio para veleiros de regata, uma tentativa de estabelecerem novos recordes de navegação para a Golden Route. E este feito está nas mãos do italiano Giovanni Soldini: em 2017, com seu Maserati (um VOR 70), estabeleceu o tempo de 47 dias, 42 minutos e 29 segundos, superando o recorde anterior pertencente ao Aquitaine Innovations, do francês Yves Parlier (este fez o percurso em 57 dias e 3 horas).

Vídeo do recorde real batido pelo Maserati:

Assim, na versão virtual, larguei de Nova York com meu Ondazul-BST no início de agosto (o prazo para a tentativa foi de 31 de julho a 4 de outubro de 2020). Estava otimista com as previsões, mas depois de quase 18 dias de navegação, prestes a contornar o Cabo Horn, do Atlântico para o Pacífico, o Ondazul-BST aparecia mal classificado, em mais de dois mil no ranking. Hesitei um pouco; afinal, foram 18 dias ocupando boa parte dos dias e noites com a navegação. Mas observando as novas previsões meteorológicas que chegavam para o trajeto a partir de Nova York, e como o regulamento permite reiniciar, desisti e recomecei.

Desta vez, as coisas deram certo para meu barco e o KikoPR-BST, do amigo (largou duas horas depois) Francisco Hopker (conheça este ótimo velejador virtual aqui). Passei pela linha do equador, descendo o Atlântico, no 230º lugar; no Cabo Horn, meu barco apareceu em 20º lugar; e na última linha de “cronometragem”, superando o equador (subindo o Oceano Pacífico), o Ondazul-BST passou na 8ª colocação! O KikoPR-BST melhor ainda neste ponto, em segundo!

Então pegamos carona, desde a América Central até a Baja California, em uma ótima tempestade, com ventos de mais de 30 nós, levando o Ondazul-BST e o KikoPR-BST muito rápido, de acordo com a estratégia escolhida. Um pequeno grupo de veleiros virtuais aproveitara os ventos, e seguiam quase juntos para as últimas quinhentas milhas até San Francisco. Imaginei os clássicos clippers competindo junto e estabelecendo recordes!

Uma curiosidade: percebi na regata virtual a presença da navegadora inglesa Samantha Davies, participando da New York - San Francisco com seu Initiatives Cœur (ela participará da Vendée Globe real em novembro próximo). Deve estar se divertindo e treinando para suas participações nas regatas do mundo real!

Foi então que aconteceram os sustos. Por dois dias seguidos, acabou a energia elétrica em casa, me deixando sem acompanhar as novas previsões e só tendo tempo, graças ao nobreak (presente do amigo Marcio Dottori), de colocar rumos provisórios e pedir ajuda ao Francisco, do barco KikoPR-BST (estava bem próximo do Ondazul-BST). Ao total, em 48 horas, fiquei 17 horas sem acesso ao meu veleirinho virtual. Felizmente, como as condições meteorológicas não mudaram significativamente, e com a ajuda do amigo Kiko, se perdi alguma coisa, foi pouca.

As últimas horas foram dramáticas. Infelizmente, fiquei posicionado muito para leste, e com ventos de proa, por bombordo, não podia abrir para oeste e depois fechar num TWA melhor, para ganhar mais velocidade na chegada. Ainda tentei, mas com a velocidade muito reduzida, forçando uma orça de 36 graus, não iria conseguir nada para uma arrancada final. Então, parti para o oposto, correr o mais possível para leste e entrar baía de San Francisco no limite. Creio ter sido a melhor opção, mas mesmo assim perdi de dez ou quinze minutos em razão disso. Ao cruzar a linha de chegada, surgiu uma janela anunciando o Ondazul-BST no 3º lugar provisório. Sabendo que haviam pelo menos quatro barcos mais rápidos, fiquei na expectativa. O KikoPR-BST, brasileiro da mesma equipe, fechou em segundo, sendo reposicionado em terceiro.

Final Golden Race 2020

Final Golden Race 2020

E como previsto, terminando o prazo para o desafio (ontem, dia 4 de outubro), meu Ondazul-BST finalizou em 7º lugar. Esta foi a primeira vez, desde que voltei a competir nas regatas virtuais, a utilizar todos os recursos oferecidos pela Virtual Regatta, o chamado “full pack” (velas e equipamentos completos).

 
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*Roberto Negraes é jornalista especializado em náutica e navegação, um dos pioneiros do setor. Em sua primeira participação numa regata virtual, conseguiu um 8º lugar numa das etapas da Volvo Ocean Race de 2008-09, além de 22º e 27º em outras etapas. Depois disso, passou a praticar e tornou-se o melhor brasileiro e melhor participante do continente americano durante anos, vencendo etapas de regatas internacionais como a Velux Five Oceans em 2010, vencendo na categoria SO (sem equipamentos extras) uma Solitaire du Figaro, conseguindo o 2º lugar na classificação geral da Cap-Istambul de 2010 (num final polêmico, com os próprios franceses lhe escrevendo que um bug do game havia lhe tirado a vitória), e terminando entre os Top 10 em 16 grandes eventos internacionais. Na Volvo Ocean Race de 2011-12, após vencer a regata experimental oferecida pela organização, esteve em 2º lugar na classificação geral até a sexta etapa, infelizmente não dando sorte nas duas últimas pernas e finalizando em 5º lugar entre 330 mil participantes de 184 países. Depois disso, parou de competir desde 2012, mas retornou agora às regatas virtuais, participando inicialmente de regatas como testes, para adaptar-se (a tecnologia desenvolveu-se muito nos últimos anos).