Fim de semana perfeito

Foto: Enrique Ortega Miranda/Unsplash

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Muita vida

a bordo

Um exemplo de como pode ser (e é) um passeio de três dias embarcado em um grande iate

Se você se pergunta como seria um fim de semana num grande iate, posso dar uma ideia muito próxima do que é. A ideia de um iate sempre vem à cabeça quando pensamos em luxo. Um avião ou um helicóptero podem até custar mais que muitos barcos, mas impedem que você “veja e seja visto” -- algo muito importante para quem alcançou o sucesso. Tampouco permitem desfrutar uma viagem mais demorada utilizando sua própria estrutura. Imagine só…

Na sexta-feira, você decide ir a Angra dos Reis de carro porque não há teto para decolar de helicóptero. O capitão do seu iate acompanha a viagem por um aplicativo. Então, quando você chega à marina, dois tripulantes impecavelmente uniformizados que o esperavam, levam as bagagens para o cais. Você e seus convidados apreciam os outros barcos no entorno. O (enorme) barco de apoio leva todos até seu reluzente iate. À popa, outros tripulantes os recebem.

Ao adentrar o salão refrigerado, encontram um aperitivo de boas vindas com alguns canapés de haddock e caviar para os entreter, enquanto as bagagens são distribuídas nos camarotes. Logo depois, os motores são acionados e vocês partem para uma linda enseada na Ilha Grande. O sol já se põe no horizonte. Após o fundeio, todos descem para se arrumar e um pouco mais tarde se encontram para combinar o dia seguinte. Da cozinha, vem o perfume do que deverá ser o jantar.

Por volta das nove horas, as brusquetas de cogumelos da entrada saem do forno e se brinda com o vinho que você escolheu para acompanhar um prato de massa italiana recheada que chega logo a seguir, um parmegiano DOC complementa o prato. De segundo, um leve pernil de cordeiro com legumes. Na sobremesa, surgem tortinhas de chocolate e frutas vermelhas, antes do licor. Alguns vão para o salão, para assistir a um filme; outros vão para o flybridge ver as estrelas, ao passo que você vai para sua suíte, descansar.

Pela manhã, após um sono restaurador, um tripulante já avisa que a temperatura da água do mar está próxima dos 30 graus, prometendo um belo mergulho. No balcão de apoio da cozinha, está montado um pequeno bufê com pães, bolos, frios, frutas, sucos, grãos e tudo o que é necessário para um belo café da manhã, sem esquecer do drink: uma refrescante mimosa. Na popa do barco, os tripulantes já colocaram na água todos os equipamentos de diversão aquática. As garotas saem de SUP e caiaque, os rapazes preferem realizar um mergulho até a costeira e um tripulante segue à distância, observando as bolhas de ar que brotam na superfície.

Quando a manhã chega ao fim, caipirinhas e vinho branco começam a circular, entre tira-gostos de todos os tipos. As pessoas se esticam no solário e o som ambiente troca de ritmo de acordo com a alegria geral. No meio da tarde, todos se encontram em um dos conveses à popa onde um bufê de saladas e entradas os aguarda. Depois, uma bela paella repleta de enormes camarões vem para ser servida, enquanto um vinho verde de excelente procedência embaça as taças. De sobremesa, um mil folhas com calda de damasco ou frutas da estação. Café e licor estão à mesa, enquanto um Cohiba Robusto é aceso. Após o almoço, alguns voltam ao sol; outros preferem visitar a cabine. O sol se põe mais uma vez e algumas pessoas dão o último mergulho do dia, antes da ducha. As luzes se acendem, dos barcos ao redor vêm vozes e música ao longe.

Tarde da noite, os convidados retornam ao salão e são chamados a compartilhar uma enorme mesa com queijos, parma e outros frios curtidos, geleias, frutas secas, pães de variados tipos e azeites de boa estirpe. Três garrafas de vinho estão vestidas, escondendo os rótulos e anunciando uma divertida degustação às cegas: Bordeaux, Toscana e Napa para deleite de todos. Após muita conversa e alegria, chega um sorbet no melhor estilo, momento em que o champanhe é aberto para o brinde final da noite. Num dos ambientes, se reúnem alguns aficionados das cartas e em outro, os amantes do cinema, enquanto que alguns casais circulam nos românticos espaços externos.

Domingo amanhece esplêndido, nenhuma nuvem no céu, temperatura em ascensão. Após o brunch, o iate parte para a Ilha da Gipoia, onde dezenas de barcos se encontram em plena festa. O dia passa entre mergulhos, banhos de jaccuzzi e passeios de bote e moto aquática. No fim da tarde, os convidados embarcam mais uma vez no potente barco de apoio e seguem para a marina, a fim de pegar seus carros.

Você observa a tripulação cuidar do embarque de bagagens e pessoas, enquanto se despede de todos. Como o dia estava convidativo, você decide permanecer mais um tempo a bordo. Quem sabe, rumar a Paraty e jantar em algum de seus bons restaurantes, ou pernoitar no tranquilo Saco do Céu, ou mesmo optar por jogar tênis em um dos resorts da região. Alguns dias depois, você chama seu helicóptero e retorna a seus afazeres.

Preferi utilizar Angra para este passeio, mas poderia ser as Ilhas Virgens, as Baleares ou qualquer outro lugar do mundo. Se acha isto conto de fadas, posso assegurar que organizei pessoalmente dezenas de fins de semana muito semelhantes a este. No iate imaginário do exemplo, uma dedicada tripulação trabalhava ininterruptamente por 18 horas diárias, alguns permaneciam acordados durante toda a noite, até que o último convidado se recolhesse. Durante a noite, o comandante mantinha atenção a qualquer mudança de tempo e o chefe de máquinas alternava os geradores, cuidava da produção de água dessalinizada. Os marinheiros limpavam o orvalho todas as manhãs, o cozinheiro e auxiliares preparavam e serviam dezenas de refeições, enquanto que outros limpavam e arrumavam as cabines, tudo para que a estadia fosse perfeita.

Neste tipo de barco, apenas a perfeição é aceita, mas para merecer tudo isto, é preciso saber que dar a seu comandante as condições de desenvolver um bom e requintado serviço, selecionar e treinar uma tripulação eficiente e disciplinada, manter seu barco em perfeitas condições de uso e exigir o padrão que lhe é desejado faz parte do dia a dia de um iatista de alto nível.

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Alvaro Otranto