Trawler x troller
Afinal, “trawler”
ou “troller”?
As diferenças de conceito, além do nome, para definir um tipo muito peculiar de iate de cruzeiro a motor
Quando os ingleses aprenderam a navegar além do Tâmisa, os portugueses já haviam dado a volta ao planeta, mas acabamos influenciados pelo vocabulário náutico inglês e várias expressões já fazem parte do nosso dia a dia. Até porque, para muitas, ainda não encontramos boas traduções. No que se refere a iates, é o que acontece com os termos trawler e troller. Além de ainda não existir um bom nome em português para este tipo de barco de cruzeiro a motor, há uma contenda sobre o uso entre um e outro.
Mesmo na América do Norte, há uma interminável discussão sobre o nome correto para esta categoria de embarcação. A princípio, as duas expressões parecem significar a mesma coisa, mas não. Trawlers são barcos grandes, empurram uma enorme quantidade de água, impulsionados por motorização bastante forte e têm borda muito alta, como os nossos arrastões de pesca, projetados e construídos para enfrentar o oceano e permanecer longos períodos em mar alto, arrastando redes gigantescas (em inglês, trawl = rede de arrasto) e transportando toneladas de gelo e pescado.
Os trollers, por sua vez, foram inspirados nos barcos de pesca de salmão da Costa Oeste norte-americana, que utilizam linhas de reboque ou corrico (em inglês, troll), como chamamos este tipo de traina; portanto, seriam mais parecidos com as nossas traineiras. São barcos mais leves, de motorização menor, que transportam menos peixe, visto que o valor agregado ao salmão é geralmente maior que dos peixes pescados “no atacado”, e isto lhes permite realizar saídas mais rápidas e rentáveis.
O capitão George Buehler, autor do livro The Troller Yacht Book, pregava que os trawlers não eram adequados ao uso no iatismo, e que apenas o troller traduz nossas verdadeiras aspirações. Pode ser que ele tenha certa razão, mas a verdade é que boa parte dos donos de barcos de cruzeiro a motor gosta da aparência robusta dos trawlers, que continuam sendo construídos nos quatro cantos do planeta.
De toda forma, o pioneiro deste tipo de embarcação de cruzeiro a motor foi o comandante Robert P. Beebe que lançou em seu livro Voyaging under Power, a proposta de uma categoria própria, a do passagemaker, ou cruzador, numa tradução (bem) livre. Baseado em sua experiência no Pacífico durante a 2ª Guerra Mundial e um sonho de realizar grandes travessias em regiões de pouco vento, ele acabou por projetar e construir um tipo de barco de borda baixa, pequena motorização, grande autonomia e casco de qualidades marinheiras. Apesar de considerar o nome cruzador bastante adequado a esta filosofia de navegação, é difícil não associá-lo aos cruzadores de guerra. Embarcações muito utilizadas no fim do século 19, caíram em desuso durante a Segunda Grande Guerra, pois eram menos ágeis que as fragatas e dependiam de escolta.
Portanto, um iate de cruzeiro a motor deve ser chamado assim, até que se consiga batizar a categoria de maneira mais adequada. Da mesma forma, não se deve utilizar a expressão iates de cruzeiro oceânico, pois nem só de grandes travessias se faz a vida a bordo, como veremos em outra oportunidade.
Acredito que é bastante válido buscar inspiração em modelos de barcos de pesca para adequar nossos projetos e mesmo soluções para problemas, já que os barcos de pesca costumam enfrentar condições de mar bastante diversas. No entanto, são preparados para operar equipamentos rústicos, oferecendo quase nenhum conforto a bordo e, geralmente, utilizando motores de baixa performance, com muito ruído e vibração.
Quanto aos trawlers e trollers, cada um tem seu espaço e cada proprietário seu gosto, mas que uma traineira é um barco mais ágil, econômico, simpático e prático que um arrastão, lá isto é!
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