Vendée Globe Real e Virtual - 3-1-2021

Primeira volta ao mundo e passagem pelo mítico Cabo Horn na vice-liderança: o estreante Charlie Dalin é só alegria na volta às águas do Atlântico

Primeira volta ao mundo e passagem pelo mítico Cabo Horn na vice-liderança: o estreante Charlie Dalin é só alegria na volta às águas do Atlântico

O segundo no Cabo Horn

Charlie Dalin vai no encalço de Yannick Bestaven

De volta ao Oceano Atlântico, os skippers da Vendée Globe deverão retomar o modo regata

  14 horas e 56 minutos depois do líder, o francês Yannick Bestaven (Maître Coq IV), o também francês Charlie Dalin, de 36 anos, tornou- se, na madrugada deste domingo, o segundo skipper da Vendée Globe a contornar o Cabo Horn, no comando do Imoca projeto Verdier Apivia.

  Na batalha pelo caminho para o norte, com ventos de 30-35 nós, Dalin passou a apenas seis milhas da costa do Cabo Horn, durante as horas de escuridão. Esse estreante no "grande sul" — como ontem foi Bestaven — completou sua iniciação como “cabo horniano” chamando e cumprimentando o solitário guardião do farol no fim do mundo, enquanto saboreava com grande alívio a satisfação de voltar ao Oceano Atlântico como quem retorna ao lar.

  Dalin lamentou apenas ter sido líder em dois dos três grandes cabos da competição, porém, não no terceiro. Mas se, em sua mente metódica e empírica de matemático, isso contraria o ideal de completar o conjunto, no mínimo, aumentará a sua vontade de reencontrar Bestaven durante a subida do Atlântico, que se prenuncia tão complicada em termos de estratégia geral e táticas de curto prazo quanto foi, cinco semanas atrás, a descida para os Roaring Forties, pela região do anticiclone de Santa Helena.

  “É só felicidade. Um ótimo momento. Também estou feliz por não ter mais os grandes mares que estiveram conosco por vários dias”, disse Dalin, que antes de começar esta que é sua primeira volta ao mundo se descreveu como 'alguém que sempre fará o melhor que puder com o que tem'. Dalin enfrentou problemas com um rolamento de alumínio, o que o levou a perder a liderança para Bestaven no dia 16 de dezembro, mas no dia de Natal ele recuperou momentaneamente o primeiro lugar.

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  Bestaven, que tenta uma rota mais a leste de um sistema de alta pressão em formação, falou com entusiasmo sobre as horas desde o Cabo Horn: “Na minha vida de velejador, essa foi a maior tempestade que já vi. Mares loucos, nunca vi tão grandes, e rajadas de 60 nós. É um grande alívio agora, porque tem sido muito difícil”.

  Na live de hoje da Vendée Globe, Bestaven parecia exausto. “Quando acalmou, eu fiquei totalmente acabado por seis horas, estava realmente exausto.”

Nessa mesma live, Dalin sorriu de orelha a orelha: “Comemorei colocando mais velas (risos). Passei perto das ilhas, das rochas. Sem dúvida, foi a primeira terra que vi desde as ilhas de Trinidad. Depois de tantos dias, eu tinha esquecido que ele existia. A plataforma continental era paralela ao swell e ao vento, por isso não notei diferença no estado do mar. Por outro lado, tive que sair um pouco da costa para não cair na sombra do vento (...) É uma nova fase da corrida. Estou trabalhando há alguns dias na estratégia para a subida de volta, há várias coisas acontecendo.”

  Um complicado Atlântico Sul, outra vez

  Agora, a estratégia para a subida de volta é olhar para o longo prazo. As estratégias iniciais parecem ter Bestaven indo para o leste para contornar o anticiclone e Dalin tentando o oeste e parecendo que passará pela Ilha dos Estados através do Estreito de Le Maire — inicialmente, ele terá uma vantagem, mas o resultado real não irá durar por mais de dez dias, quando eles finalmente voltarem aos ventos alísios do anticiclone de Santa Helena.

  Sébastien Josse, consultor meteorológico da Vendée Globe, explica: “Vemos esta alta pressão indo para o leste e, portanto, para o Maître Coq, que tem de ficar à direita, a leste da alta pressão, mas ela está se movendo muito rápido e ele (Bestaven) pode acabar estacionado nesta área de ventos fracos. (...) é difícil traçar uma estratégia de longo prazo.” Ele acrescenta: “Há muito trabalho à frente deles agora, uma alta pressão, uma baixa pressão e uma alta pressão para chegar aos ventos alísios e, além disso, à estagnação. Portanto, os próximos 14 dias serão de trabalho árduo e intenso para os dois líderes”.

  As cordilheiras do sul do Chile atingem mais de 3.000 metros e as ilhas da Patagônia têm picos de quase 1.000 metros. Com vento de oeste, pode haver muitas áreas de ventos fracos, especialmente perto de terra. E embora os modelos meteorológicos tenham melhorado muito, a realidade na água costuma ser diferente. E, como Dalin observou hoje, os skippers estão fora do modo de grande oceano e de volta ao modo de regata, mantendo uma média alta e segura para um ajuste fino, dormindo menos e ajustando mais.

  Um sistema de alta pressão está se desenvolvendo agora na costa da América do Sul, ao norte das Ilhas Malvinas. Ele então se estenderá gradualmente até a Zona de Exclusão Antártica, forçando o segundo grupo a cruzá-lo ou fazer um grande desvio para o leste, mas sem garantia de encontrar qualquer vento extra.

  Christian Dumard, o especialista em clima que trabalha em conjunto com Josse, confirma: “Há duas opções possíveis, seguir a rota mais curta e direta para o norte e tentar atravessar a alta antes que se expanda demais, ou ir para o leste em busca de mais vento, que é a melhor opção de longo prazo.”

  Thomas Ruyant (Linked Out) e Damien Seguin (Apicil) estão empatados na corrida para chegar ao terceiro lugar no Cabo Horn, com Seguin a cinco ou seis milhas mais perto do cabo (classificação do início da tarde deste domingo). Com 195 milhas náuticas pela frente, eles devem fazer uma passagem rápida nesta segunda-feira, e podem considerar um café da manhã tardio na volta ao Atlântico.

O Linked Out, de Thomas Ruyant, deve ser um dos próximos a cruzar o Horn nesta segunda-feira

O Linked Out, de Thomas Ruyant, deve ser um dos próximos a cruzar o Horn nesta segunda-feira