Vendée Globe Real e Virtual - 18-1-2021

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Davi (Burton) vs Golias (Dalin)

Do ponto de vista de patrocínios e recursos técnicos, há uma luta desigual neste momento no Atlântico norte, onde os dois líderes já se aproximam da latitude das ilhas de Cabo Verde

Conforme afirmou hoje o experiente Jean Le Cam, saberemos o nome do vencedor desta Vendée Globe apenas quando cruzarem a linha de chegada. “Não somos nós quem produzimos as condições meteorológicas, embora sempre nos peçam, de certo modo, para fazê-lo”, ironizou. A chegada dos líderes pode acontecer a partir do próximo dia 28.

O diretor de regata, Jacques Caraës, reforçou a declaração de Le Cam, dizendo que “a organização ainda não tem a menor ideia de quem será o primeiro a chegar a Les Sables d’Olonne”.

Burton segue para uma rota mais a oeste, procurando evitar uma alta pressão mais acima, no Atlântico

Burton segue para uma rota mais a oeste, procurando evitar uma alta pressão mais acima, no Atlântico

Contudo, lendo atentamente o conteúdo dos últimos informes divulgados ontem e hoje pela Vendée Globe, fico com uma cisma e me pergunto: “Estaria a organização torcendo pela vitória de Dalin?”

Eis o que andaram publicando:

Os dois rivais pela vitória possuem currículos bem diferentes. Charlie Dalin tem o patrocínio da marca Apivia, parte do gigante grupo Macif de seguros, já vencedor da Vendée Globe por intermédio de François Gabart, em 2012-13. A empresa de Gabart, MerConcept, gerencia o projeto do Apivia com o próprio Gabart cuidando pessoalmente dos detalhes, e Dalin recebeu treinamentos e conselhos do navegador Pascal Bidégorry (vencedor da Volvo Ocean Race), além de ter um grupo de engenheiros e designers à disposição. Ele foi escolhido como sucessor de Gabart como skipper da Vendée Globe por ter vencido o campeonato francês de offshore com quatro pódios consecutivos no circuito Figaro”.

Jean Le Cam: “Dificil prever as condições meteorológicas. Só conheceremos os vencedores na linha de chegada”

Jean Le Cam: “Dificil prever as condições meteorológicas. Só conheceremos os vencedores na linha de chegada”

Burton é dois anos mais novo que Dalin, com 35 anos de idade, veleja de modo inteligente e fez boas escolhas até aqui, mas ele não tem a mesma experiência de Dalin, com vitórias e boas regatas nas classes Mini, Figaro e Imoca. Depois de estrear na Classe 40 com seu irmão Nelson em 2011, Burton fez uma boa apresentação na Transat Jacques Vabre com um Imoca com problemas técnicos e encerrou a regata em 11º lugar. Terminou em 7º em sua primeira regata em solitário B to B, em Saint Barths (Caribe). E para se preparar para a Vendée Globe, Burton tem uma pequena equipe com a qual treina praticamente sozinho, selecionando a dedo as regatas das quais participa, por contar com patrocínio modesto”.

Enquanto a empresa de François Gabart, a Mer Concept, junto com Dalin, tem se encarregado de desenvolver, refinar e otimizar os Imoca de última geração do consagrado arquiteto (Guillaume) Verdier (o Apivia é um deles), Louis Burton e Bruno Peyroles (presidente da Bureau Vallée, uma gigante em produtos para escritórios) decidiram comprar o vencedor da última Vendée Globe, o Banque Populaire, de Armel Le Cléac’h, renomeado como Bureau Vallée 2”.

Espero ser apenas minha impressão, lendo os textos acima, se a organização da Vendée Globe já não estaria pronta para receber Dalin e seu grande esquema de projeto e patrocínio como vencedores da Vendée Globe… E então lá do fundo do Atlãntico surge um Imoca inesperado, com pequeno e modesto projeto e um skipper quase desconhecido para complicar um pouco (ou ao menos adiar até a linha de chegada).

O alemão Boris Herrmann (Seaexplorer – Yacth Club de Monaco) passou um dia anterior e metade da noite passada preso nas calmarias dos doldrums, e com isso perdeu o contato com Burton e Dalin. Mas continua na frente dos demais veleiros que ainda acompanham os líderes de perto, e procura se manter vivo para a luta pelo pódio.

Atrás de Hermann, um grupo de seis barcos está se reagrupando e procurando rotas para a batalha, “com tendência mais por oeste do que numa direção direta, o que pode trazer benefícios para eles”, diz o diretor de regata, Jacques Caraës.

Conta Hermann: “Passei 24 horas bem desafiantes, principalmente em termos psicológicos, com o dia de ontem sem ventos, e parte da noite com o barco sequer obedecendo ao piloto automático. Mas agora chegaram ventos, fracos e com chuva, entremeados de aguaceiros fortes, e o barco tem de suportar a ação de ventos de 27 nós sobre equipamentos aprovados apenas para onze nós, tenho muito trabalho e tensão”.

Sim, tem tudo para ter um gran finale a grande corrida para um lugar no pódio. Melhor assim. No máximo em duas semanas, saberemos, afinal, quem serão os grandes vencedores desta diferente Vendée Globe 2020-21 — que chegou até aqui ainda sem favoritos, coisa rara depois de uma corrida ao redor do mundo.

Hermann ficou preso nos doldrums e perdeu contato com Burton e Dalin

Hermann ficou preso nos doldrums e perdeu contato com Burton e Dalin