Vendée Globe Real e Virtual - 16-1-2021

O Apivia continua liderando com pequena vantagem, num esforço continuo  e determinado

O Apivia continua liderando com pequena vantagem, num esforço continuo e determinado

o Equador está próximo

Na altura de Recife, mais um veleiro
entra na briga pela liderança

Herrmann (Seaexplorer) assumiu hoje o terceiro lugar e, próximo dos líderes Dalin (Apivia) e Burton (Bureau Vallée 2), compõe agora a elite em disputa da Vendée Globe 2020-21

Em dois dias ou menos, os líderes da Vendée Globe estarão navegando no hemisfério norte, na rota final rumo à tentativa de vencer a mais difícil regata de circum-navegação em solitário do mundo. Charlie Dalin é não apenas o líder atual, mas o único dos três que já esteve na liderança. Contudo, teve um problema num dos grandes hidrofólios de seu barco, sendo obrigado a perder várias horas em um reparo extremamente difícil. Conseguiu, mas o hidrofólio perdeu uma pequena fração da eficiência, suficiente para preocupá-lo.

O Apivia pertence ao grupo de empresas da seguradora francesa Macif e Charlie Dalin foi escolhido para trabalhar no projeto quando, há três anos, uniu-se ao grupo não apenas como navegador, mas também projetista naval. Na companhia de François Gabart (também do grupo), vencedor da Vendée Globe de 2012-13, ele não apenas ganhou experiência, mas também, como projetista, deixou sua marca nos detalhes de construção do Apivia. O seu barco é de última geração e sem dúvida um dos mais sofisticados participantes na Vendée Globe 2020-21.
Somando-se a um excelente barco, seu skipper reúne um currículo de grande sucesso como velejador em solitário, com vitórias nas mais disputadas competições oceânicas da França (Rota do Rum, Transat Jacques Vabre), além de extensa participação como velejador, desde sua estreia no Optimist, aos seis anos de idade. Antes do início desta regata já era tido como um dos principais favoritos pelos jornalistas franceses.

O segundo colocado tem uma história bem diferente. O Bureau Vendée 2 é, na verdade, o mesmo barco vencedor, o Macif, da Vendée Globe de 2012-13. É mais antigo, construído há mais de dez anos, mas foi talvez o melhor em sua época. Contudo, a tecnologia avança com rapidez, o que tornou o ex-Macif, ao menos teoricamente, um pouco mais lento do que os últimos Imoca construídos, como o de Dalin.

Louis Burton, 2ºcolocado, faz um belo duelo com seu compatriota francês Charlie Daline

Louis Burton, 2ºcolocado, faz um belo duelo com seu compatriota francês Charlie Daline

O skipper do Bureau Vallée 2, Louis Burton, é assim uma das maiores surpresas nesta regata: não estava entre os favoritos, nunca venceu nenhuma das regatas em solitário, sejam as da Mini-Transat, da Classe 40 ou da Figaro. Seu melhor resultado foi um 7º lugar na última Vendée Globe, uma ótima classificação, pois estava com outro barco, um dos mais antigos Imoca em 2012-13.

Apesar de jovem, com 35 anos de idade, esta é sua terceira Vendée Globe (sua primeira experiência terminou na costa portuguesa, quando seu barco chocou-se com um barco pesqueiro). E qual o segredo dele estar pela terceira vez numa Vendée Globe assim jovem? A resposta é estar integrado com a família Escoffier, uma das mais tradicionais do iatismo francês. A esposa de Louis Burton, Servane Escoffier, é prima de Kevin Escoffier, e também uma grande velejadora solo, tendo participado de várias Transat e de uma regata de circum-navegação. Bob Escoffier, seu pai, foi também um navegador solo com quem ela venceu em dupla algumas vezes. E seu tio Franck Yves Escoffier (pai de Kevin), foi o maior navegador da família e um dos maiores vencedores de regatas oceânicas da França em solitário.

Com certeza, junto dos Escoffier, não poderia deixar de ser um extraordinário velejador, o que já provou nesta Vendée Globe. Pois o Bureau Vallée 2, embora tenha sido um grande veleiro Imoca entre os construídos no início dos anos 2010, tem menos potencial na atualidade do que seus rivais mais novos.

Foi surpreendente, depois de ter ficado para trás por ter sido obrigado a ficar cinco horas parado ainda no Atlântico Norte, ter avançado a partir do Cabo da Boa Esperança, para se tornar o segundo colocado no Pacifico, atrás somente de Charlie Dalin, que navegava com um barco mais novo e mais rápido e sem problemas. Para os analistas e observadores, mesmo impressionados com o desempenho de Burton, ninguém imaginava que seria capaz de superar Dalin ou Ruyant (este também com um currículo de regatas impressionante).

Mas Burton sofreu com o mau funcionamento do piloto automático e, pouco depois, com um sério dano no trilho da vela grande, forçando-o a navegar sempre no segundo rize. Com isso, passou a perder desempenho. Ainda navegou um bom tempo com o grupo, mas era impossível conseguir um bom ritmo.

Ele parou então por várias horas tentando reparar o trilho da vela grande, subindo no mastro para isso. Mas estava nos 50 graus sul e foi impossível, em razão das grandes ondas e ventos fortes. Aborrecido por não ter como competir em velocidade com os demais, ele decidiu arribar para uma ilha remota para tentar fazer os reparos necessários.

Foram vinte e quatro horas na ilha e, finalmente, quando partiu novamente, estava a 938 milhas atrás de Yannick Bestaven, que liderava. Sem perder a motivação, navegou agressivamente o tempo todo, e 23 dias depois ultrapassava Bestaven, que já tinha sido deixado para trás por Dalin. Agora ele corre atrás de Dalin, buscando tirar a diferença para o líder.

O Seaexplorer é o veleiro mais moderno e sofisticado na regata. Agora está em 3º lugar, na briga pela vitória

O Seaexplorer é o veleiro mais moderno e sofisticado na regata. Agora está em 3º lugar, na briga pela vitória

Navegando no través de Recife, Boris Herrmann passou hoje para o terceiro lugar, superando Thomas Ruyant e Damien Seguin. O skipper do Seaexplorer – Yacht Club de Monaco tem sido conservador, procurando manter seu barco sem danos, assim somente agora no Atlântico vem navegando a 100% do potencial de seu veleiro, segundo sua equipe. O Seaexplorer é também de última geração (lançado em 2019) e um dos mais sofisticados da classe Imoca. É similar ao de Dalin e ao de Ruyant – e está com os dois hidrofólios perfeitos. Para se ter ideia, ele passou pelo Cabo Horn em décimo lugar e a 805 milhas atrás de Yannick Bestaven. Depois de Louis Burton, a melhor recuperação desta regata.

Herrmann, 37 anos, de Hamburgo, tem uma grande vantagem. Observadores entendem que o Seaexplorer é o barco restante nesta regata com maior potencial para vencer, por ser um dos mais sofisticados, e vem se aproximando bastante da dupla Dalin e Burton.

O líder anterior, Yannick Bestaven (Maître Coq IV) está agora 105 milhas atrás de Dalin. Em quinto lugar, Damien Seguin (Groupe Apicil) continua ainda na disputa, 60 milhas atrás de Dalin, e pouco menos atrás de Herrmann. Mas como seu equipamento, mais antigo, é 1,5 a 2 nós mais lento, ele não pode competir com os demais de igual para igual, embora teoricamente o barco de Burton seja também pouco mais lento que os demais que lideram ou já lideraram a regata.

Damien Seguin mantém a 5ª colocação, mas seu barco, mais antigo, tem desempenho de 1,5 a 2 nós inferior

Damien Seguin mantém a 5ª colocação, mas seu barco, mais antigo, tem desempenho de 1,5 a 2 nós inferior