Xamã campeão da Santos-Rio
Barco de Santos
“fez barba, cabelo e bigode”!
Fita azul na 71ª Regata Santos–Rio, Xamã Matrix Energia é também o primeiro em duas classes
Destaque entre as tripulações que correram a 71ª Regata Santos–Rio, Lars Grael, medalhista olímpico e campeão sul-americano e mundial nas classes Star e Tornado, comentou ao completar esta sua vigésima participação na competição: "Posso afirmar que a definição mais precisa, mais uma vez, é de que foi uma regata dura e exaustiva". Jonas Gomes confirma essa dureza no seu relato sobre o percurso até o Rio como tripulante do Daddy-O, vencedor na classe Mini 6.50 (leia abaixo).
No comando do IMX 40 Avohai, da flotilha do Iate Clube do Rio de Janeiro, Lars Grael conseguiu o segundo lugar na categoria VPRS, atrás do Grand Soleil 46 Xamã Matrix Energia, do comandante Sergio Klepacz, que foi o fita-azul da regata e venceu também na classe ORC.
Jonas Penteado, vice-comodoro do Iate Clube de Santos - ICS, realizador da regata junto do Iate Clube do Rio de Janeiro, comemorou a vitória do Xamã: "Defendendo as cores do Iate Clube de Santos, conquistou não só a fita azul, como primeiro barco a chegar no Rio, mas venceu ainda nas classes ORC e VPRS, ou seja, fez barba, cabelo e bigode, como se diz na gíria esportiva". O Xamã chegou na madrugada de domingo (24), 37h29min20s após a largada, precedida por um desfile dos veleiros no Canal de Santos e exibição da Esquadrilha da Fumaça.
Esta é a primeira fita azul de um representante do ICS desde 2012, e a segunda participação do Xamã na Santos–Rio. Em sua estreia, em2020, o barco classificou-se em segundo lugar na classe ORC. "Quando compramos o barco e começamos a utilizá-lo em regatas, ficamos surpresos. Percebemos que tínhamos um canhão nas mãos (...) No ano passado, caçamos gente no clube para completar a tripulação. Neste ano, diferentemente, treinamos a equipe e estávamos preparados para escorar, tomando vento e água na cara. A disciplina a bordo, quase militar, fez a diferença, e o sacrifício de passar frio e fome foi determinante para a vitória", comentou o comandante Klepacz.
A Santos-Rio abre o Circuito Rio, que terá prosseguimento entre os dias 30 de outubro e 2 de novembro.
Resultados da 71ª Santos–Rio
Classe ORC
1º - Xamã Matrix (Grand Soleil 46) - Comandante Sérgio Klepacz (ICS)
2º - Maestrale (Felci 315) - Comandante Adalberto Casaes (ICRJ)
3º - Avohai (IMX 40) - Comandante Lars Grael (ICRJ)
4º - +Bravíssimo (Felci 315) - Comandante Luciano Secchin (ICES)
5º - Ventaneiro 3 (Dufour 500) - Renato Cunha (ICRJ)
Classe VPRS
1º - Xamã Matrix (Grand Soleil 46) - Comandante Sérgio Klepacz (ICS)
2 º - Avohai (IMX 40) - Comandante Lars Grael (ICRJ)
3 º - Maestrale (Felci 315) - Comandante Adalberto Casaes (ICRJ)
4 º - +Bravíssimo (Felci 315) - Comandante Luciano Secchin (ICES)
5 º - Dona Bola (Océanis 41) - Comandante Ricardo Tramujas (ICRJ)
Classe BRA RGS
1 º - Dona Bola (Océanis 41) - Comandante Ricardo Tramujas (ICRJ)
2 º - Beleza Pura 2 (Farr 38) - Comandante Felipe Ferraz (Ubalegria)
3 º - Áries III (Frers 43) - Comandante Marcos Pereira (ICRJ)
4 º - Criloa (Impala 35) - Comandante Carina Seixas –
5 º - Santeria (Fast 260 R) - Comandante Newton Ferreira (Forte São João)
Classe Bico de Proa
1 º - OKA - André Coutinho (Bracuhy-RJ)
2 º - H2Orça – Hilpert Zimmer (Ilhabela - SP)
Classe Mini 6.50
1 º - Daddy-O - Comandante José Carlos de Souza (Supmar - Santos - SP)
2 º - Xavante - Comandante Sérgio Cracasso –
3 º - Bloody Bones - Comandante João Caldas (Supmar - Santos - SP)
A Santos-Rio a bordo de um veleiro de 6,50 m
Se correr a Santos-Rio não é moleza nem com barcos de 40 pés, como o Avohai do Lars Grael, imagina com um casco de pouco mais de 21 pés, como é um Mini 6.50 (apesar de esta classe de veleiros ser utilizada na regata intercontinental a solo Mini Transat)?
O Jonas Gomes conta, aqui, como foi velejar (e vencer em sua classe) da Baía de Santos à Baía da Guanabara a bordo do Daddy-O.
“Largamos de Santos em contravento fraco. Conseguimos uma boa largada com vento limpo, Aloísio fazendo a tática, e eu no leme. Logo no início, abrimos vantagem por termos acertado o lado mais favorável da Baía de Santos e montamos em primeiro (lugar) a boia de contravento. O vento se manteve instável/fraco durante a tarde, mas seguíamos em bom rumo e tivemos um belo pôr de sol para a primeira noite.
Nossa estratégia para essa noite era seguir até próximo da Ilha de Montão de Trigo (São Sebastião – SP) e então cambar para o mar e passar por fora de Ilhabela, amarando bem antes de cambar de volta para a costa.
Acabamos navegando na faixa entre Montão e Alcatrazes, com mar picado contra fazendo o barco sofrer um pouco, e lua cheia tornando a velejada mais agradável.
Tivemos algumas quebras simples de resolver, mas percebemos que o barco começava a reclamar das batidas no mar contrário e, perto da manhã, resolvemos entrar no Canal de São Sebastião para poupar o equipamento. Esse trecho até Ilhabela em contravento parece infinito!
O grande destaque da noite foi o Dudu, saindo da cabine com uma pizza e um maçarico na mão, e proporcionando à tripulação uma deliciosa refeição quente no meio do frio!
Dentro do canal, a velejada foi ótima! Com 18 a 20 nós de contravento e mar liso, o Daddy-O voava baixo sem sofrer. Saímos ainda com vento bom, subimos um pouco na costa leste de Ilhabela e cambamos com proa na Ponta Negra.
Próximo a Ubatuba, o vento caiu muito e virou para norte/noroeste, em preparação para a frente fria esperada à noite.
Com a previsão falando em 50 nós de rajadas em Ilhabela e contando com uma vantagem de oito horas sobre o Xavante, resolvemos ser bem conservadores e já botamos terceiro rize e buja de tempestade (!) para aguardar a pancada que, no final das contas, entrou mais fraca que o esperado — mas ainda proporcionou surfadas a mais de 8 nós só com isso de pano.
Na mesma madrugada, abrimos a code 0 para ajudar, e de manhã já navegávamos a todo pano com mestra plena e spi max (balão), embaixo de chuva e mar cruzado.
Entre a Ponta Negra e o final de Ilha Grande, o vento foi bem instável. Tivemos vento em popa, contravento e até uma nuvem de rolo enorme, que nos forçou a descer toda a mestra e velejar de genoa apenas — mesmo assim, quase atravessando... mas da Ilha da Marambaia em diante, o vento sudoeste firmou e proporcionou um show de velejo de spi max, surfando a quase dez nós — isso, com a mestra presa em terceiro rize por conta de um enrosco nos runners, que resolvemos depois.
À noite, o vento se manteve em intensidade e rondou para oeste. Trocamos para a code 0 por precaução contra eventuais quebras e ainda fazíamos 6 a 7 nós em rumo praticamente direto, cruzando a chegada — em primeiro da classe Mini — às 00h11 da segunda-feira, depois de 60 horas de regata.
Foi uma velejada variadíssima, com todo tipo de condições. O barco se portou muito bem e foi uma delícia de velejar em todos os momentos. A tripulação foi fantástica tecnicamente e divertidíssima de se conviver — com grande destaque para o comandante Zé Carlos, do alto dos seus 73 anos, encarando um desafio desses em um Mini e saindo campeão!
Não podia pedir por nada melhor!
Obrigado, galera, foi um velejaço para ficar na memória.
Daddy-O - Classe Mini 6.50
Tripulação:
José Carlos Chrispim
Aloísio Costa
Luís Eduardo A. Campos "Dudu"
Jonas M. Gomes”