Troféu Júlio Verne

O trimarã IDEC Sport, recordista em 2017 com Francis Joyon. Foto: JM Liot-ALEA-IDEC Sport

O trimarã IDEC Sport, recordista em 2017 com Francis Joyon. Foto: JM Liot-ALEA-IDEC Sport

A volta ao mundo

mais rápida

Por Roberto Negraes

Está lançado o desafio: quem se habilita a bater o recorde de volta ao mundo a vela? Os interessados têm mesmo de se apressar, porque a corrida já começou (em 18/11/2019)! Mas ainda dá tempo de participar (prazo final 31/03/2020)

   Júlio Verne, quando escreveu, em 1872, seu magnífico livro A Volta ao Mundo em 80 Dias, nunca poderia supor o sucesso e inspiração resultantes de sua obra. Foram realizados ao menos dois filmes de sucesso baseados no livro (o primeiro em 1957, com David Niven e Shirley MacLaine, e o segundo em 2004, com Jackie Chan e Steve Coogan), mas a mais interessante consequência, sem dúvida, foi a iniciativa de um grupo de navegadores em lançar um desafio similar para veleiros, batizado com o nome Trophée Jules Verne em homenagem ao escritor. Assim, o troféu seria conferido ao barco que realizasse a volta ao mundo mais rápida, sem escalas. No ano do primeiro desafio, o veleiro catamarã Explorer, do francês Bruno Peyron, estabeleceu o primeiro recorde, de 79 dias, 6 horas, 15 minutos e 56 segundos, superando os 80 dias imaginados por Júlio Verne.

   Já o troféu elaborado como prêmio, em si, seria inimaginável na época em que Júlio Verne escreveu seu livro. Trata-se de uma escultura com o perfil de um casco de veleiro mantido suspenso no ar por um campo magnético. A obra é do escultor Thomas Shannon, artista americano comissionado pelo Ministério da Cultura da França.

O Troféu Júlio Verne paira no ar, suspenso por um campo magnético. Foto: Fanny Schertzer - Creative Commons

O Troféu Júlio Verne paira no ar, suspenso por um campo magnético. Foto: Fanny Schertzer - Creative Commons

   Na verdade, a ideia do desafio surgiu em meio a uma conversa entre navegadores sugerida por Yves Le Cornec, isso em 1985. Durante anos, foi amadurecendo até que, em 1990, dois vencedores de grandes regatas naquele ano — a velejadora francesa Florence Arthaud (Rota do Rum) e o também francês Titouan Lamazou (Vendée Globe) — levaram o plano adiante. Desse modo, em 1991, foram definidas as regras do Troféu Júlio Verne por um comitê formado pelos mais respeitados velejadores da época: Titouan Lamazou, Bruno Peyron, Peter Blake, Florence Arthaud, Robin Knox-Johnston, Jean François Coste, Yvon Falconnier, Gabie Guilly, Yves Le Cornec, Olivier de Kersauson e Didier Ragot. Em 29 de janeiro de 1991, foi criada oficialmente uma organização sem fins lucrativos para dar suporte ao evento. Estava lançado o grande desafio de volta ao mundo.

Realizado anualmente, o Troféu Júlio Verne não impõe quaisquer restrições ao tipo e tamanho de veleiro, nem à quantidade de tripulantes a bordo. Para ser validado, o desafiante precisa apenas inscrever seu barco e pagar uma taxa à organização. Ao longo dos anos, o recorde já foi quebrado nove vezes, sendo o último obtido em 2017 pelo navegador francês Francis Joyon, com o IDEC Sport, um trimarã de 103 pés (31,50m) e área vélica de 828m², deslocando 18 toneladas. Seu recorde reduziu pela metade o sonhado por Júlio Verne — o IDEC Sport concluiu a volta ao mundo em apenas 40 dias, 23 horas, 30 minutos e 30 segundos. Este maxitrimarã, lançado ao mar em 2006, já teve outros nomes famosos: Groupama 3, Banque Populaire VII, Lending Club 2 e IDEC 3. Como curiosidade, o IDEC Sport, quando tinha o nome de Groupama 3, já tinha sido recordista em 2010, comandado por Franck Cammas (também francês), com 48 dias e 7 horas.

   Neste ano de 2019, agora no início de dezembro, o francês Yann Guichard tentou por duas vezes bater o recorde com o maxitrimarã Spindrift 2 (antigo Banque Populaire V, barco recordista em 2012, com o igualmente francês Loïck Peyron), mas foi obrigado a abandonar por quebras que colocaram o veleiro em risco.

Barcos e recordistas

1993 - Explorer (catamarã) com Bruno Peyron
1994 - ENZA New Zeland (catamarã) com Robin Knox-Johnston e Peter Blake
1997 – Sport-Elec (trimarã) com Olivier de Kersauson
2002 - Orange (catamarã) com Bruno Peyron
2004 - Geronimo (trimarã) com Olivier de Kersauson
2005 - Orange II (catamarã) com Bruno Peyron
2010 - Groupama 3 (trimarã) com Frank Cammas
2012 - Banque Populaire V (trimarã) com LoïckPeyron
2017 - IDEC Sport (trimarã) com Francis Joyon

O site oficial do Troféu Julio Verne é http://www.tropheejulesverne.org/en/

Como em todo grande evento de iatismo offshore, está sendo realizada a versão virtual do Troféu Júlio Verne. Que tal tentar quebrar o recorde atual comandando um maxitrimarã virtual de grande desempenho? O desafio na versão virtual começou em 18 de novembro passado e irá até o dia 31 de março de 2020. Portanto, você tem alguns meses para tentar o desafio.

Link para a regata virtual: https://www.virtualregatta.com/en/offshore-game/ (é preciso selecionar o Trophée Jules Verne entre as competições oferecidas).

Circunavegação pelos extremos do planeta: candidatos ao troféu devem largar da costa francesa, passar pelos Cabos da Boa Esperança (África), Leeuwin (Austrália) e Horn (América do Sul), e retornar ao ponto de partida, sem escalas. Tanto a versão no …

Circunavegação pelos extremos do planeta: candidatos ao troféu devem largar da costa francesa, passar pelos Cabos da Boa Esperança (África), Leeuwin (Austrália) e Horn (América do Sul), e retornar ao ponto de partida, sem escalas. Tanto a versão no mundo real como no virtual tem prazo até 31 de março de 2020

Nosso velejador virtual

Foto: Arquivo pessoal

Foto: Arquivo pessoal

*Roberto Negraes é jornalista especializado em náutica e navegação, um dos pioneiros do setor. Em sua primeira participação numa regata virtual, conseguiu um 8º lugar numa das etapas da Volvo Ocean Race de 2008-09. Depois disso, passou a praticar e tornou-se o melhor brasileiro e participante do continente americano durante anos, vencendo etapas de regatas internacionais como a Velux Five Oceans em 2010, vencendo na categoria SO (sem equipamentos extras) uma Solitaire du Figaro, 2º lugar na Cap-Istambul de 2010, e terminando entre os Top 10 em 16 grandes eventos internacionais. Na Volvo Ocean Race de 2011-12, esteve em 2º lugar até a sexta etapa, infelizmente não deu sorte nas duas últimas pernas e finalizou em 5º lugar entre 330 mil participantes de 184 países. Depois disso, parou de competir desde 2012, mas retornou agora às regatas virtuais, participando inicialmente de regatas como testes, com os veleiros Ondazul e Curupira, para adaptar-se (a tecnologia desenvolveu-se muito nos últimos anos).