Ocean Globe Race

O Maiden na volta a Cowes para completar a volta ao mundo como campeão da Ocean Globe Race. Foto: OGR 2023 - Aida Valceanu

E o Maiden venceu!

Por Roberto Negraes

Tripulação internacional, exclusivamente feminina, vence regata de volta ao mundo

O veleiro Maiden (Bruce Farr 58), de bandeira inglesa mas com uma tripulação totalmente feminina e internacional, comandada pela inglesa Heather Thomas, venceu a regata de volta ao mundo Ocean Globe, comemorativa dos 50 anos da primeira regata de volta ao mundo Whitbread.

Depois de uma disputa acirrada com o Triana (Swan 53, França) pela liderança, finalmente na quarta e última etapa, de Punta del Leste (Uruguai) a Southampton (Inglaterra), o título foi decidido com o Maiden cruzando a linha de chegada às 10h52 do dia 16 de abril, enquanto o Triana ainda navegava no Atlântico Norte, perdendo o tempo de chegada necessário para ganhar o título. O Maiden, um veleiro de alumínio de 58 pés projetado por Bruce Farr, fez história ao participar da Whitbread de 1989 com a primeira tripulação composta 100% por mulheres em uma regata de volta ao mundo, sob o comando da inglesa Tracy Edwards, e agora, com a primeira equipe feminina a vencer esse tipo de competição.

Atualmente, Heather Thomas é diretora de logística do The Maiden Factor World Tour, da DP World, um projeto beneficente com o objetivo de ajudar a meninas a alcançar seus potenciais, e para isso o Maiden navega há anos pelos mares do planeta, com mais de 30 mil milhas sob a quilha. Esteve em Santos em 2023 com uma tripulação de 11 mulheres de sete países, destinando uma doação de mais de R$ 70 mil para o projeto social local Bruto Fruto.

A grande disputa pela vitória incluiu ainda o veleiro Pen Duick VI, de 73 pés, comandado por Marie Tabarly, filha do lendário Eric Tabarly, navegador francês desaparecido no mar. O barco fechou a quarta etapa como fita azul, o primeiro a chegar em Cowes, na Inglaterra. Digna de nota foi a participação do italiano Translated 9 (modelo Swan 65), que venceu na geral as duas primeiras etapas da Ocean Globe, mas teve uma quebra na terceira etapa quando disputava com o Pen Duick VI, e na quarta etapa quase sofreu naufrágio, com uma trinca no casco, quando era certa sua chegada e possível vitória na Ocean Globe. Apesar de resolvido o problema nos Açores, o longo tempo perdido o deixou muito para trás

A Ocean Globe 2023-24

Após o sucesso da Golden Globe Race de 2018, comemorativa da primeira regata de volta ao mundo em solitário, o conceito de corrida oceânica retrô parece ter se firmado no gosto do público náutico. Assim, a nova Ocean Globe Race (OGR) é mais uma regata da velha escola, desta vez trazendo o espírito da Whitbread de 1973, volta ao mundo disputada por equipes.

Os treze veleiros participantes da OGR 2023, obrigatoriamente construídos antes de 1988, não tinham computadores, satélites, GPS e materiais de alta tecnologia, até mesmo música podia ser ouvida apenas com reprodutores de fita cassete. Os navegadores usaram apenas sextantes, seguindo as antigas tradições, levando tripulações de sete ou oito pessoas, com a obrigação pelo menos uma delas ser mulher.

Rota

A Ocean Globe Race teve início em Southampton (Inglaterra), em 19 de setembro de 2023 e foi disputada em quatro etapas, abrangendo o Oceano Antártico e os três Grandes Cabos (Boa Esperança, Leeuwin e Horn). As escalas foram na Cidade do Cabo (África do Sul), Auckland (Nova Zelândia) e Punta del Este (Uruguai), com a chegada da quarta etapa, também em Southampton.

Whitbread, a regata original

Conhecida simplesmente como "The Whitbread", a regata original ocorreu em 1973 (depois o nome mudou para Whitbread Round the World Race. Cerca de 20 veleiros de 45 a 74 pés alinharam para a largada em Portsmouth (Inglaterra). Mais dois se juntariam para as pernas posteriores.

O veleiro mexicano Sayula II (Swan 65, de construção finlandesa) comandado por Ramón Carlin venceu na classificação geral. No total, 324 tripulantes de vários países participaram distribuídos entre os barcos inscritos. Três marinheiros nunca retornariam, perdidos no mar durante as tempestades do Oceano Antártico. (Assista à história dessa regata no canal da Ocean Race no YouTube.)

Em 2016, a aventura do Sayula foi apresentada no documentário The Weekend Sailor.

No mundo atual, as regatas oceânicas mudaram com a tecnologia. Grandes orçamentos e profissionais de elite competem com iates de carbono personalizados que “voam” por hidrofólios, a custos superiores a um milhão de euros. Os dias ancestrais da Whitbread, por sua vez, remontam a uma época em que os orçamentos desempenhavam um papel pequeno, a tecnologia era mínima e os navegadores ousavam desafiar os oceanos sem previsões meteorológicas.

Barcos e regras

A Ocean Globe Race foi disputada por monocascos de 47 pés a 66 pés, projetados antes de 1988, com todos correndo sob as regras IRC: Triana (França), Maiden (Reino Unido), Spirit of Helsinki (Finlândia), Pen Duick VI (França), Galiana WithSecure (Finlândia), L’Esprit d’Équipe (França), Outlaw (Austrália), Neptune (França), Evrika (França), White Shadow (Espanha), Translated 9 (Itália), Sterna (África do Sul), Godspeed (EUA, abandonou), Explorer (Austrália, abandonou).

A primeira etapa foi vencida pelo Translated 9, seguido do Spirit of Helsinki e Maiden. Na segunda etapa o Translated 9 repetiu a vitória, seguido do Triana e Spirit of Helsinki. A terceira etapa teve a vitória do Triana, com o Pen Duick VI em segundo e o Galiana WithSecure completando o pódio.

A quarta etapa terminou com o Pen Duick VI em primeiro lugar, com L’Esprit d‘Équipe em segundo e Neptune em terceiro. O Maiden conseguiu sua vitória geral na regata com um terceiro lugar, dois quartos lugares e um quinto lugar nas quatro etapas, com tempo total corrigido de 179 dias, 1 hora, 24 minutos e 23 segundos. O segundo lugar coube ao Spirit of Helsinki, com 179 dias 18 horas 32 minutos e 45 segundos; enquanto Triana, com 180 dias 13 horas, 18 minutos e 50 segundos, terminou em terceiro.