America’s Cup 2024
É penta!
Por Roberto Negraes
Emirates Team New Zealand vence pela terceira vez seguida e se torna pentacampeão da America’s Cup
Foi um desempenho perfeito que colocou o Emirates Team New Zealand no livro dos recordes como o primeiro a vencer a Copa América três vezes consecutivas. Sua velocidade superior, aliada ao brilhantismo tático em uma raia difícil e inconstante, fez com que a equipe, liderada por Peter Burling, dominasse a série por 7 a 2 e defendesse com sucesso a 37ª Copa América Louis Vuitton.
A competição foi realizada em sua totalidade no porto espanhol de Barcelona, no mar Mediterrâneo, desde as classificatórias (a Louis Vuitton Cup) para definir o desafiante (o time inglês Ineos Britannia, comandado por Ben Ainslie, que venceu o italiano Luna Rossa Prada Pirelli) do defensor, o neozelandês Emirates Team New Zeland. O evento ainda incluiu duas disputas inéditas: a Puig Women America’s Cup (com participação exclusivamente feminina, velejando em barcos da classe AC40) e a America’s Cup e-Series, a disputa em versão virtual pelo troféu.
Celebração
Com palco na Race Village de Barcelona, reunindo os participantes de todos os eventos, a cerimônia de entrega de prêmios da 37ª Copa América Louis Vuitton ocorreu no sábado, dia 19 de outubro. O cobiçado troféu, que começou a ser disputado 173 anos atrás (em 1851) foi entregue ao Emirates Team New Zealand em meio a muita celebração de fãs e apoiadores.
Bernard Arnault, presidente e CEO do grupo LVMH (dono da marca Louis Vuitton, cujo envolvimento com a America’s Cup começou em 1983), e Pietro Beccari, presidente e CEO da Louis Vuitton, subiram ao palco para a entrega do Auld Mug (em inglês, “Velho Caneco”, como ficou conhecido o tradicional troféu), até então devidamente acondicionada em um baú com o famoso logotipo da grife francesa. “A Copa América é mais que uma disputa. É um símbolo da engenhosidade humana, do trabalho em equipe e uma inspiração para futuros marinheiros. A Louis Vuitton continua comprometida com este esporte magnífico e esperamos muitos mais anos de competição e momentos inesquecíveis como o de hoje. Obrigado", disse Bernard Arnault.
Emirates Team New Zealand x Ineos Britannia
Depois de vencer nos três primeiros dias da Copa (com realização de duas regatas por dia), estabelecendo o placar de 4 x 0, o Emirates Team New Zealand parecia absolutamente imbatível. Contudo, no quarto dia do duelo (disputado no sistema de melhor de 13 regatas, ou seja, vence quem primeiro conseguir sete vitórias), Ineos Britannia reagiu, dando esperanças para sua torcida de que ainda poderia virar o jogo, ficando o embate em 4 x 2.
Entretanto, no quinto dia, o entusiasmo do ingleses feneceu rapidamente. Mais duas vitórias consecutivas, e a equipe defensora ampliou para 6 x 2. E no dia 6, uma nova vitória do Emirates Team New Zealand definiu a 37ª Louis Vuitton America’s Cup, e a Copa continua com a equipe defensora.
A opinião de Roberto Negraes, nosso editor de vela:
Assistindo a todas as regatas, cheguei a ter pena dos ingleses. A diferença de desempenho foi demasiada, com exceção do quarto dia, quando ocorreram as duas vitórias do Ineos Britannia, que, creio, aconteceram em razão de um erro pouco antes da largada da primeira regata.
O AC75 do Emirates Team New Zeland perdeu o “voo” e ficou “atolado”, sem conseguir decolar por vários minutos, enquanto o Ineos Britannia partia e ia embora com grande vantagem. Com isso, os “kiwis” com certeza devem ter ficado abalados o suficiente para perder também a segunda regata do dia. De qualquer modo, retornaram no dia seguinte para mostrar novamente seu imenso potencial, sem dar mais nenhuma chance para os ingleses.
Acompanhando os comentários postados nas notícias oficiais da organização da Louis Vuitton America’s Cup, percebi que alguns comentaristas não estavam tão entusiasmados com as regras, criticando o excesso de tecnologia nos barcos atuais — monocascos da classe AC75 — e perguntando se esses veleiros têm futuro. A principal dúvida levantada pelos críticos é se as equipes que disputam a America’s Cup, com seus engenheiros acumulando mestrados e doutorados, e especialistas em inteligência artificial, não estariam desenvolvendo barcos demasiadamente radicais. As atuais embarcações da America’s Cup seriam reconhecidas pelas pessoas comuns como algo dentro de sua visão do esporte da vela?
Nesses comentários, havia quem questionasse se o velejador amador consegue se identificar com os AC75. Coincidentemente, em minha opinião, o radicalismo tecnológico adotado fica realmente um pouco distante do público, que apesar de vibrar torcendo pela equipe de seus país, parece, em sua maioria, não entender muito bem como funcionam esses “veleiros” modernos que disputam um dos mais cobiçados troféus do iatismo. Barcos que mais parecem hidroaviões, com tecnologias a cada ano mais distantes dos veleiros que navegam tanto em cruzeiros como em regatas em todo o mundo, parece algo descolado demais da realidade comum.
Destaque
O destaque desta 37ª America’s Cup foi certamente o timoneiro e navegador neozelandês Peter Burling, campeão olímpico na classe 49er em 2016, no Rio de Janeiro, e prata na Olimpíada seguinte, que foi o escolhido para comandar o Emirates Team New Zealand. Depois de liderar a equipe na terceira vitória seguida para o país na disputa pelo troféu esportivo mais antigo do mundo, ele se tornou herói nacional.
Porém, além do talento individual de cada membro da equipe, conta muito a capacidade para bancar um projeto na America’s Cup. Estima-se que os neozelandeses tenham despendido por volta de 300 milhões de dólares para conseguir três vitórias consecutivas. Ou seja, hoje, colocar um barco na disputa significa gastos que ultrapassam os 100 milhões de dólares.
Para os britânicos, foi a primeira vez em mais de nove décadas, desde 1934, que venceram duas regatas em uma Copa América. Naquele ano, o Endeavour, de sir Thomas Sopwith, marcou as duas primeiras vitórias antes do estadunidense Rainbow, de Harold Vanderbilt, voltar com força e fechar a série por 4 x 2.
America’s Cup das mulheres
Em Barcelona, esta clássica regata teve, pela primeira vez, a realização em paralelo de uma versão do troféu disputada exclusivamente por mulheres. Batizada como Puig Women’s America’s Cup, teve a participação de 12 equipes: seis representando os times confirmados para a disputa da seletiva para a America's Cup em Barcelona (Nova Zelândia, Reino Unido, EUA, Itália, Suíça e França) e seis convidadas de clubes da Espanha, Holanda, Canadá, Alemanha, Suécia e Austrália).
As equipes femininas competiram em barcos monocascos com hidrofólios da classe AC40, iniciando com regatas seletivas em flotilha e terminando com duelos de match race. Na competição final, a vitória foi da equipe italiana Luna Rossa Prada Pirelli, derrotando com grande desempenho a britânica Athena Pathway.
America’s Cup e-Series
Também em Barcelona, e pela primeira vez, foi disputada a America’s Cup e-Series , com várias regatas disputadas presencialmente através de uma versão virtual da Louis Vuitton America’s Cup.
Com finalistas de vários países, a vitória ficou para o neozelandês Liam Dimock, de apenas 14 anos. Além do troféu, o jovem recebeu um prêmio de 25 mil libras inglesas.