Francisco Höpker, o “Kiko”, fala de seu hobby

Foto: Arquivo pessoal

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Com a palavra:

O Comandante do Veleiro
Kiko BST, das regatas virtuais

Velejador experiente no mundo real, Francisco tem como hobby as regatas virtuais. Nesta entrevista, ele compara como é navegar no mundo real e online, e fala do sucesso dos brasileiros neste hobby apaixonante

Por Roberto Negraes

   Um dos veteranos e bons representantes do Brasil nas regatas virtuais é o engenheiro eletricista Francisco Höpker, o “Kiko”. Atualmente com 67 anos de idade, participa das regatas virtuais desde 2008, sendo um dos brasileiros mais experientes nas artes da navegação online, totalizando 11 anos de competições em dezenas de eventos internacionais.

   Graças ao avô, imigrante alemão que velejava pelo litoral do Paraná, sempre sentiu atração pelo esporte da vela: “Embora eu não o tenha conhecido pessoalmente, meu pai contava muitas histórias sobre ele. Comecei a velejar com windsurf logo que esta modalidade surgiu no Brasil, e tive a oportunidade de praticar windsurf nos lagos suíços, o pessoal de lá era muito bom!”.

   Para se aprimorar no esporte, Francisco, ao mudar-se do Paraná para São Paulo por razões profissionais, fez cursos de vela na represa Guarapiranga. Pouco depois, um amigo carioca comprou um veleiro de oceano com 34 pés, e então viajar pela Ponte Aérea para velejar se tornou quase um hábito para velejar. Em 2005-2006, acompanhou a Volvo Ocean Race (a mais tradicional regata de volta ao mundo), que contava na época com um veleiro representando o país, o Brasil 1, com o grande skipper brasileiro, o Torben Grael.

   “Foi quando conheci o grupo Boteco 1, formado por velejadores e fãs da vela oceânica. Na VOR 2008-09 (Volvo Ocean Race), entusiasmado pelo grupo, comecei a participar com eles da versão virtual da regata, conhecida então como VORG (Volvo Ocean Race Game). Naquele tempo, eram várias as interfaces para a prática da vela oceânica virtual, como a Liveskipper, Sailonline e Virtual Regatta. Desde então, tornei-me praticante assíduo das regatas virtuais. Na turma do Boteco1, chegamos a fazer uma regata exclusiva nossa. Utilizamos a interface de um site de regatas virtuais e estabelecemos uma rota: saída do Rio e chegada no Havaí, pelo Cabo Horn. Tínhamos até um dos participantes como o ‘rankeador oficial, com classificação diária e tudo mais. E recordo que foi um orgulho geral quando um dos participantes do Boteco 1 foi convidado a participar da regata Fastnet (tradicional competição inglesa), em sua versão real, premiando seus bons desempenhos nas virtuais”.

Na opinião do Francisco, desde o início, participar das regatas virtuais o motivou bastante, pois “elas utilizam as condições de ventos reais e ainda passam por locais interessantes, uma atração a mais para alguém como eu, que gosta de geografia. As questões dos ventos, velas, rumos, ângulos de ventos, estratégias e outros fatores similares às condições reais de regatas oceânicas reais tornam as regatas virtuais extremamente interessantes”.

   O barco KikoPR tem um ótimo retrospecto, embora constantes reuniões de trabalho não permitam a Francisco a dedicação desejada para melhores performances. De qualquer modo, considera um grande divertimento, e isso ainda ajuda a acompanhar as grandes regatas oceânicas (reais) que acontecem pelo mundo:

“Na atual fase, na Virtual Regatta, já cheguei em sexto lugar numa regata, em 15º em outra e muitas vezes entre os ‘TOP 100’. E numa etapa da VOR (Volvo Ocean Race) cheguei em 43º, o que foi ótimo, pois o número de barcos era de mais de um milhão, de todo o mundo”.

   Segundo Francisco, competir nas regatas virtuais para ganhar não é fácil:

“Para ganhar, tem que dedicar tempo, ser persistente e prestar atenção nos detalhes. Aliás, como em qualquer outra atividade. E depois do Boteco 1, a partir de 2017, criamos um novo grupo de aficionados dentro do site internacional da Virtual Regatta chamado Brazilian Sailing Team (BST). Cada um com seu barco, lutando por ganhar posições dos veleiros de outros países e de equipes estrangeiras e rivais. Os franceses são muito fortes e competem com vários times. Os holandeses também são bons, assim como os neozelandeses (por coincidência, países onde a vela oceânica é praticamente um dos esportes nacionais). Todos os participantes da equipe colocam BST no final do nome de seus barcos e tem conseguido resultados muito bons. Recentemente, nosso Comandante Marco, do barco Macotoso BST, ficou várias semanas em primeiro lugar no ranking mundial da Virtual Regatta! E o Comandante Guilherme, do barco Dog Boris BST ficou logo atrás, em 5º ou 6º no ranking mundial! Assim, somos também bastante respeitados lá fora”.

Um dos pontos interessantes sobre as regatas virtuais, para Francisco, são os contatos com pessoas de todo o Brasil e também de diferentes países:

“Surgem amizades no mundo real que se formm a partir dos contatos online. Considero muito interessante você poder falar com pessoas de ambientes totalmente diferentes, mas que têm um ponto comum: as regatas e os assuntos em torno. Como as regatas duram vários dias, semanas ou meses, você tem que voltar todo dia ao mesmo site. Com isso, os contatos acabam se tornando constantes. Até montamos um grupo de Whatsapp exclusivo para as regatas e trocamos idéias sobre o jogo e temas afins. Com isso temos amigos virtuais nos mais diversos locais do Brasil, sendo o interesse comum o esporte da vela e as regatas. Chegamos a combinar encontros com grupos de pessoas cuja origem da amizade foi virtual.”

Para encerrar, Francisco explica como amigos e familiares veem sua dedicação às regatas virtuais:

“Tem uns que acham interessante e outros que acham divertido. Mas muitos acham loucura!”, conta rindo. “Sempre digo que cada louco com a sua loucura predileta... Tem gente que fica assistindo séries de TV, outros jogam paciência, poker ou games como Battlefield. As opções de passatempos virtuais são infinitas hoje em dia. Este das regatas virtuais tem a fascinante característica de unir o real e o virtual num mesmo ambiente dentro do seu notebook, celular ou tablet.”