Silvio Ramos
BRally Amazon 2021
Amazônia a vela
Por Roberto Negraes
Silvio Ramos conta sobre o BRally Amazon, seu cruzeiro de sonho pelo Rio Amazonas
Se existe um lugar no mundo atraente para uma aventura, este é a Amazônia brasileira. Então, que tal participar com seu veleiro de uma viagem em grupo, com toda segurança e um perfeito planejamento? Assim é o BRally Amazon, com visitas a praias e pontos de interesse, como aldeias ribeirinhas, fazendas de búfalos e a mais rica floresta de fauna e flora do planeta, idealizado pelo velejador e empresário Silvio Ramos (entrevistado adiante nesta matéria).
Em 2021, aconteceu o primeiro BRally Amazon, com a participação de 11 barcos e 75 tripulantes. O percurso total foi de mil milhas, quinhentas para ir, mais quinhentas para voltar, totalizando um mês no Rio Amazonas. Uma experiência tão fabulosa que os viajantes formaram um grupo pela Internet, com alguns pretendendo participar novamente do BRally Amazon.
Conta seu idealizador que o rali foi marcante também para os ribeirinhos ao longo do trajeto, que receberam os velejadores com muito entusiasmo. “Com certeza, o nosso segundo BRally Amazon já está sendo ansiosamente aguardado pelos habitantes locais”, comenta Silvio.
Antes da chegada da flotilha, os prefeitos eram avisados e se preparavam para recepcionar os cruzeiristas, os quais, evidentemente, traziam recursos para os municípios. “Em Soure, no Marajó, tivemos uma apresentação da dança típica local, o carimbó, que recebeu o título de patrimônio cultural imaterial do Brasil. Em Monte Alegre, também houve atrações espetaculares, bem como em Alter do Chão, onde tivemos o jantar de encerramento, com peixe na brasa preparado à beira-rio”.
BRally, um projeto de turismo internacional por Silvio Ramos
A ideia do BRally (Brazilian Rally), surgiu em 2012, quando o navegador Silvio Ramos, em sua volta ao mundo com o veleiro Matajusi, estava na África do Sul. Um grupo de cruzeiristas de vários países, que também circum-navegavam o planeta, interessaram-se em conhecer a costa brasileira, e lhe pediram para guiá-los nessa viagem — pois não conheciam o idioma português, os trâmites burocráticos exigidos pelas autoridades e os pontos de interesse para visitar.
“Foi assim que criei o primeiro BRally, trazendo velejadores estrangeiros para a costa brasileira. Criei, inclusive, um site com orientações gerais sobre todos os requisitos necessários para a visita ao nosso país. Este é, portanto, o objetivo do BRally: a inclusão do Brasil na rota dos circum-navegadores”.
A partir de então, o projeto ampliou-se, surgindo assim o BRally Amazon. “A ideia foi criar, na costa brasileira, eventos nos lugares interessantes e nas épocas certas para receber os veleiros estrangeiros, e nada melhor que a Amazônia, percorrendo o Rio Amazonas. Quem não gostaria de conhecer a nossa floresta?”, comenta Silvio.
Quem é o velejador e empresário criador do BRallly
Silvio Ramos começou sua trajetória de circum-navegador de um modo fora do comum. Normalmente, a pessoa começa a velejar, passa a fazer pequenos cruzeiros e, eventualmente, começa a sonhar com uma volta ao mundo. Já Silvio, sem ter experiência em vela, decidiu de cara dar a volta ao mundo num veleiro! Foi um começo extremo, e que deu certo por ele ter desenvolvido um bom projeto. Hoje, depois de ficar sete anos fora do Brasil, cinco deles navegando ao redor do planeta, é um velejador conhecido e respeitado no mundo dos circum-navegadores.
“Foi um projeto bem desenvolvido, já que não sofri com tempestades, nunca quebrou o mastro nem a quilha, não naufraguei, não fui mordido por tubarão, tudo correu perfeitamente bem. Por isso não sou famoso, pois nunca fui notícia de desastre”, avalia entre risos.
Completada a volta ao mundo, Silvio perguntou-se o que faltava fazer. O primeiro pensamento: “Ah, navegar na Patagônia e o Cabo Horn!”. Assim, em 2019, viajou para o extremo da América do Sul, onde ficou por dois meses no veleiro Guga Buy.
“Por coincidência, enquanto estava lá, aconteceu a primeira regata em volta do Cabo Horn. Amigos e outros brasileiros, como a Chris Amaral, resolveram participar. Eram sete etapas, saindo de Porto Williams e percorrendo um trajeto entre ilhas, passando pelo Cabo Horn. Depois havia o retorno pelo mesmo trajeto, mas como eu não tinha tempo para voltar, deixei a regata após o Cabo Horn, mas tenho comigo a medalha de participação na primeira regata e passagem pelo Cabo Horn”, relembra o navegador, que acaba de lançar os dois primeiros de um total de seis livros sobre a sua volta ao mundo (O Projeto Matajusi e Navegando a Costa Brasileira, disponíveis no formato e-book na Amazon, com um capitulo dedicado a muitas fotos da viagem).
O desafio seguinte
Ao conhecer o Cabo Horn, Silvio já imaginou sua próxima realização, na Amazônia! “Na época, conheci o comandante Hamilton, do Piatã (que faleceu logo depois). Ele se tornou um amigo e contou maravilhas de se percorrer de veleiro o Amazonas. Assim, além da ideia de navegar pelo Rio Amazonas, decidi realizar o BRally Amazon, atraindo tanto navegadores brasileiros quanto estrangeiros para um evento extremamente atrativo.” Foi o primeiro BRally montado no Brasil, já que o primeiro fora uma travessia desde a África do Sul até nosso país.
O planejamento exigia que as praias do rio fossem visíveis, pois na época de cheia, quando o Amazonas sobe, só se vê a floresta, não tem ponto de desembarque em praias. Essa época coincidia com a já tradicional regata Refeno (de Recife para o arquipélago de Fernando de Noronha), um evento com potencial de trazer estrangeiros para cá. Ficou então claro que um mês depois do término da Refeno seria a data ideal para a realização do BRally Amazon, pois muitos veleiros já estariam estrategicamente posicionados para uma rota até o Rio Amazonas. Assim, como a Refeno acontece em setembro, foi definida a data de 27 de outubro para o início do BRally subindo o Rio Amazonas.
Concretizando o BRally
Para viabilizar o projeto inédito, Silvio Ramos procurou bons parceiros e os encontrou em pouco tempo. Logo lembrou que uma sobrinha era casada com o Gelderson (conhecido como Gel), um empresário paraense do ramo de turismo de aventura, da Rumo Norte Expedições. “Eu iria com minha experiência de circum-navegador, e convidei dois dos participantes da Força-Tarefa, que criei para ajuda aos veleiros estrangeiros que chegam ao Brasil (leia sobre a reconhecida Força-Tarefa aqui), o coronel Cesar Mello e o Delcio Sá, o ‘Delcinho’, ambos residentes em Belém e com grande conhecimento da Amazônia. O coronel Mello, além de ter seu próprio veleiro, já havia percorrido por cinco vezes o Rio Amazonas, e era especialista em segurança, tendo trabalhado para isso na Ilha do Marajó. O Delcinho é um empresário com bom relacionamento político no Pará, principalmente na área de turismo. Finalmente, juntou-se a nós, do clube Cabanga (de Pernambuco), o Emílio Russell, que participou dos ralis Iles du Soleil (que anos atrás realizavam um roteiro semelhante ao do BRally Amazon) e de todas as Refeno. Com isto, possibilitamos uma parceria com essa tradicional e importante regata oceânica brasileira”, relembra o navegador.
Havia muitos detalhes para realizar um evento desse tipo com total segurança. “Foi então criada a infraestrutura para o primeiro BRally, com um barco de apoio com médico, cozinheiros e auxiliares, e mais doze militares, parte deles bombeiros, além de um barco patrulha da Marinha dando suporte durante toda a viagem”, enumera Silvio. “Só navegávamos de dia, sem paradas (às vezes, dávamos uma ajuda para crianças que vinham de canoa, pedindo brinquedos e ajuda). E de vez em quando ocorria algum problema em motor ou equipamento de um veleiro, para isso tínhamos mecânico e ajudantes (do barco de apoio) para resolver”, explica Silvio.
Corrigindo problemas do passado
Um motivo de resistência dos veleiros estrangeiros que dão a volta ao mundo em parar no Brasil é o histórico de violência em nossas águas, principalmente o episódio da morte do velejador neozelandês Peter Blake. “Focamos muito na segurança dos navegadores e fazemos campanhas para atrair os quase mil barcos de diferentes bandeiras que passam pela costa do Brasil, já que apenas uns cinco fazem escalas em nossa costa. Eles precisam ter garantias de que terão uma boa viagem em nossa terra. Estamos em contato não apenas com secretarias estaduais, mas também recentemente fizemos uma visita ao Ministério do Turismo, em Brasília, apresentando o turismo náutico internacional e sua importância para o Brasil. Acredito que estejamos num bom caminho para garantir uma boa recepção aos visitantes de outros países (e aos nossos nacionais, idem) sem os problemas que aconteceram no passado recente”, assegura Silvio.
“Graças a bons relacionamentos durante minha volta ao mundo com barcos de várias nacionalidades, mantenho contato com muitos deles, principalmente depois de criada a Força-Tarefa para recepção e ajuda para navegadores internacionais”, conta Silvio, que, por ter trabalhado nos Estados Unidos por muitos anos, fala fluentemente o inglês. “Desse modo, sei onde estão os veleiros em suas voltas ao mundo, e os convido a participar da excursão pelo Rio Amazonas conforme as suas atuais localizações: por exemplo, se estão no Oceano Índico, provavelmente no próximo ano poderão vir ao Brasil, e também os que estão no Pacífico poderão passar pelo Brasil daqui a dois anos”, diz.
Entusiasmado e incansável, o velejador já prevê outros roteiros para o BRally. “Este ano já temos dois barcos estrangeiros inscritos, além de vários nacionais, e acredito que logo teremos muitos mais participantes. O BRally está se tornando um sucesso. Com isto, já estamos planejando inclusive um futuro BRally Costa Verde, com percurso pelo litoral de Búzios a Paraty e provavelmente Ubatuba”, adianta Silvio, destacando que não é preciso ter barco próprio para embarcar na viagem. “Várias pessoas que não tinham veleiro ou barco de qualquer tipo se inscreveram e participaram em barcos de charter (estes se inscrevem antecipadamente e comercializam espaço a bordo)”.
Para mais informações sobre o BRally, visite o site do evento em www.brallyamazon.com.