São Paulo Boat Show 2020

Raia Olímpica da USP:  salão náutico ao ar livre foi bem menor que o habitual, realizado a portas fechadas, mas o mercado de barcos de lazer está aquecido como poucas vezes se viu

Raia Olímpica da USP: salão náutico ao ar livre foi bem menor que o habitual, realizado a portas fechadas, mas o mercado de barcos de lazer está aquecido como poucas vezes se viu

Um novo e pujante

mercado de barcos

Por Marcio Dottori

Sem o tamanho dos salões anteriores, mas charmoso e prestigiado por público ávido em busca de um barco novo, o São Paulo Boat Show 2020 retratou a atípica e incrível atividade náutica brasileira

  Pouquíssimas vezes houve tantos barcos vendidos em tão curto espaço de tempo quanto neste ano. Esta tendência, vista também no mercado de usados, principalmente seminovos, começou no fim do primeiro semestre de 2020 e explodiu no segundo.

  Afinal, sem poder viajar para fora do país, com o dinheiro rendendo pouco em algumas aplicações financeiras e com a família confinada em casa devido à pandemia, por que não comprar um barco? Muitos brasileiros pensaram assim e trataram de realizar, agora, um desejo reprimido.

  O resultado disso é que estaleiros e fabricantes de motores e acessórios estão trabalhando intensamente para dar conta das encomendas. Porém, o que poderia ser uma situação ideal para a indústria trouxe junto um problema: matérias-primas, componentes de todos os tipos, resinas e motores passaram a ficar escassos no mercado.

  Além disso, o dólar subiu muito, puxando junto toda a cadeia fornecedora de insumos, principalmente motores. Mesmo assim, e com os estaleiros explicando que a maioria dos modelos só poderá ser entregue em meados do ano que vem, as vendas de barcos continuam. Os vendedores argumentam: “Se um imóvel leva meses para ficar pronto, por que seria diferente com um barco?”. Obviamente, alguns estaleiros que tinham estoque aproveitaram o bom momento para esvaziar seus galpões.

  Menor que as edições anteriores, o São Paulo Boat Show 2020, realizado neste mês na Raia Olímpica da Universidade de São Paulo, espelhou o excepcional momento deste mercado. Mesmo sem a facilidade logística dos grandes espaços de eventos de negócios, o que impediu a presença de barcos de comprimento acima de 47 pés (14,30 m), os corredores estiveram bem movimentados.

  Apesar das limitações do local, houve uma boa variedade de barcos expostos e com preços para todos os bolsos. Entre os mais caros, pelo tamanho, as reluzentes lanchas de wakesurf, wakeboard e esqui importadas, com valores superiores a meio milhão de reais. Já os jets topos de linha, como o novo Sea Doo RXP-X, de 300 hp, passavam dos R$ 100 mil.

  Os principais lançamentos têm entre 33 pés (10 m) e 34 pés (10,36 m), com destaque para a bem-acabada Schaefer V33, da catarinense Schaefer Yachts, uma lancha muito moderna, bem ao estilo mediterrâneo, com proa vertical, console central, largo espaço de circulação, cockpit muito espaçoso disponível em quatro arranjos e cabine para um casal.

  A NHD, também de Santa Catarina, exibiu sua nova estrela, de 34 pés, com passagem lateral para a proa e um detalhe único em lanchas nacionais desse tamanho: as laterais traseiras do casco são basculantes, ou seja, podem ser abertas, de modo a compor uma grande plataforma na popa.

  De Pernambuco, veio a NX 340, com solário na proa acessado por uma passagem lateral no cockpit, recurso cada vez mais frequente em barcos nacionais.

  Embora sem grandes barcos expostos, alguns fabricantes mostraram maquetes e projetos de iates. Foi o caso do cearense Inace, representado pela Yacht Collection, que está atualizando seu catálogo. Os clássicos trawlers dividem lugar agora com modelos mais refinados e conectados com o mercado internacional, produzidos com a assessoria de projetistas europeus e do brasileiro Fernando de Almeida, nome que evoca beleza e modernidade — ele desenhou para a marca a linha Explora, de 90 a 120 pés.

Inace Explora 90

Inace Explora 90

  O empresário Marcio Christiansen, que alguns anos atrás fabricava os luxuosos barcos da marca italiana Ferretti, está retornando ao mercado como projetista do estaleiro Vega Yachts de lanchas cabinadas com flybridge, a partir de 50 pés, com características singulares, com a superestrutura ocupando toda a boca da lancha, sem convés lateral e com grandes janelas de vidro.

  Barcos pequenos, para quem está começando e não quer ultrapassar a cifra dos R$ 100 mil, são as novidades dos estaleiros Mestra Boats, de São Paulo, e Ventura, de Minas Gerais, com os modelos Mestra Fishing 16, de console central, e Ventura One, este uma lancha de 17 pés com proa aberta e dois consoles.

Fabricante de lanchas de passeio, a gaúcha Solara inovou com um elegante modelo de 30 pés, de console central, para pescadores, especialidade da paulista Sedna, agora sediada em Santa Catarina, que além da sua conceituada linha de barcos para pesca costeira e oceânica, levou para o São Paulo Boat Show a sua coleção de passeio, herdada da Cimitarra e hoje construída no novo padrão do estaleiro.