Mulheres do Mar

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Pioneiras da

circum-navegação

Por Roberto Negraes

Se você veleja, com certeza sabe quem foi o primeiro homem a dar a volta ao mundo sozinho num veleiro — o americano Joshua Slocum, uma lenda dos mares. Mas saberia dizer quem foi a primeira mulher?

Afinal, quem foi a primeira velejadora a circum-navegar a Terra? Dependendo do ponto de vista, teremos várias respostas corretas. E se não conseguiu responder à pergunta acima de imediato, que vergonha, você um verdadeiro machista! Brincadeiras à parte, vamos conhecê-las?

Jeanne Baret

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A mulher pioneira em circum-navegação, numa época em que isso, oficialmente, seria impossível, foi uma francesa: Jeanne Baret. Motivada duplamente por amor (por seu amante e por plantas), ela não teve dúvidas em cortar os cabelos, comprimir os seios com panos e, passando-se por homem, embarcar, em 1765, como assistente de um famoso naturalista, Philibert Commerson, no navio L’Etoile. Viajariam em uma expedição científica ao redor do mundo. Na verdade, Commerson era seu amante e a ajudou no disfarce. Naqueles tempos, eram proibidas mulheres em navios da marinha francesa (e de outras nacionalidades).

A viagem, ordenada pelo rei Luís XV, era capitaneada e patrocinada por Louis-Antoine de Bougainville, oficial do corpo dos mosqueteiros, navegador e escritor. Essa expedição destacou-se não apenas pela coleta de inúmeros dados científicos, mas também por ter sido a primeira volta ao mundo (eram dois navios na expedição, La Boudeuse e L'Etoile). Como curiosidade, passaram pelo Brasil (Rio de Janeiro), onde foram coletadas e catalogadas diversas plantas.

Jeanne adorava explorar vegetações nativas, e como tal ajudou o naturalista a coletar uma coleção extraordinária, até hoje presente no Museu de História Natural de Paris. Dependendo de seus distraídos companheiros de viagem, aparentemente cegos para sua condição de mulher, teria completado a viagem sem problemas. Contudo, no Taiti, foi desmascarada pelos nativos — assim que viram aquele pretenso pesquisador de plantas, identificaram-no como mulher!

Com isso, Louis-Antoine de Bougainville desembarcou Jeanne e seu amante naturalista nas Ilhas Maurício. No entanto, ambos concluíram mais tarde a volta ao mundo, retornando à França como passageiros em navio comercial, separados, cada qual em seu tempo.

Krystyna Chojnowska-Liskiewicz

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Dificilmente, você encontrará o nome desta polonesa se pesquisar no Google no idioma português. Mas foi Krystyna a primeira mulher a dar a volta ao mundo solo, em veleiro de cruzeiro (projetado e construído por ela mesma), em viagem de 401 dias iniciada e encerrada nas Ilhas Canárias.

Ao longo de sua viagem, visitou as mais belas ilhas do Atlântico e Pacífico, navegando de forma livre, parando conforme queria (ou problemas surgiam) para rodear o mundo com seu pequeno veleiro. E muitos problemas aconteceram, com a polonesa os superando um a um. Assim, fez história como a primeira a dar a volta ao mundo sozinha.

Na verdade, seu projeto de viagem nasceu em 1975, declarado pelas Nações Unidas “Ano Internacional da Mulher”. Com isso, a Associação Polonesa de Vela teve a ideia de promover a viagem de uma velejadora ao redor do mundo. Para isso, procuraram uma mulher para realizar o feito, selecionando-a por meio de uma competição. E Krystyna, experiente navegadora, com travessias pelo Mar do Norte, inclusive capitaneando tripulações exclusivamente femininas, acabou sendo a escolhida. Uma vantagem foi ter formação de engenharia naval, trabalhando num estaleiro em Gdanski.

Seu marido, igualmente engenheiro naval, foi quem construiu o barco, um 32 pés denominado Mazurek (nome de uma dança tradicional polonesa), lançado em dezembro de 1975. Em seguida, o Mazurek foi transportado para as Ilhas Canárias, local escolhido para início e fim da viagem.

Krystyna teve muitos percalços durante a viagem, de quebras do motor auxiliar e outros equipamentos a tempestades, mas a tudo superou, consertando e fazendo reparos ela mesma, graças ao seu conhecimento como engenheira. Retornou pouco depois de um ano de viagem (401 dias). Se demorasse dois meses mais, teria perdido o título de pioneira para uma neo-zelandesa.

Naomi James

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Nascida na Nova Zelândia, Naomi James iniciou sua volta ao mundo partindo do porto de Devon (Inglaterra), em 9 de setembro de 1977, depois da polonesa Krystyna Chojnowska-Liskiewicz). Contudo, terminou sua circum-navegação em apenas 272 dias, escolhendo uma rota muito mais difícil, contornando os três grandes cabos (Boa Esperança, Horn e Lewin).

Naomi tinha mestrado e doutorado em filosofia. Começou sua carreira de velejadora ao conhecer Rob James, em Saint-Malo (França), onde este trabalhava comandando veleiros para o britânico Chay Blyth, e também fazendo charter. Acabaram se casando, e Rob ensinou a Naomi os segredos do mar e da vela. Depois de apenas algumas semanas velejando, Naomi decidiu dar a volta ao mundo, e seu marido a apoiou de imediato, conseguindo um veleiro (o Spirit of Cutty Sark) e acionando amigos e empresas para conseguir patrocínio. Conseguiram, e o veleiro, um 53 pés, foi rebatizado como Express Crusader.

Sua viagem não foi nada fácil, com quebra de mastro e até capotagem. Mas com a ajuda do marido e patrocinadores, conseguiu os reparos e continuou até chegar novamente em Devon, para ser a segunda mulher a dar a volta ao mundo em solitário (e a primeira pelo Cabo Horn).

Depois de sua façanha, passou a competir em grandes regatas, muitas vezes em companhia de seu marido. Contudo, em 1983, depois de a dupla vencer a Round Britain Race, Naomi afastou-se por estar grávida, e pouco tempo depois ocorreu uma fatalidade: Rob James estava velejando ao largo de Devon quando caiu no mar e afogou-se. Dez dias depois, Naomi deu à luz a filha do casal.

Naomi foi nomeada Lady Commander of the British Empire em 1979 e recebeu o título de New Zeland Sailor of the Year (1978).

Catherine Chabaud

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Esta francesa foi a primeira mulher a fazer circum-navegação sem escalas, e isso durante nada menos que a regata de volta ao mundo sem escalas Vendée Globe de 1996-1997, uma das mais difíceis e com grande número de desistências em razão de fortes tempestades encontradas pelos participantes durante o evento. Vários barcos capotaram ou perderam o mastro. Mas Catherine resistiu e continuou até finalizar o percurso.

Também ficou conhecida por ter vencido, no tempo corrigido, a célebre Fastnet Race, em 1999.

Além de velejadora, Catherine é jornalista, e escreveu um livro sobre seu feito. Anos mais tarde, tornou-se política, e atualmente tem assento no Parlamento Europeu pela França.

Denise “Dee” Caffari

Nascida na Inglaterra, Dee Caffari, como é conhecida, tornou-se velejadora ainda jovem, trabalhando como skipper e tocando um negócio de charter no Caribe.

Logo participava na Global Challenge Race, como navegadora do veleiro Imagine It. Done. Mas sua grande façanha foi ter dado a volta ao mundo em solitário no percurso inverso do tradicional, de leste para oeste. Foi a primeira mulher a circum-navegar o mundo nessas condições.

Continuando sua carreira de sucesso na vela de oceano, em 2009 participou da Vendée Globe, completando o famoso desafio e tornando-se a primeira mulher a dar a volta ao mundo em solitário em ambos os percursos (de oeste para leste e de leste para oeste).

Foi ainda tripulante do Turn the Tide on Plastic na Volvo Ocean Race de 2017-18.

Observação: Em alguns sites brasileiros, Dee Caffari é apresentada como a primeira mulher a dar a volta ao mundo em solitário. Na realidade, ela tinha apenas cinco anos de idade quando a polonesa Krystyna e a neo-zelandesa Naomi deram suas voltas ao mundo pioneiras. A confusão deve-se, provavelmente, à divulgação em sites de língua inglesa de que foi a primeira mulher a dar a volta ao mundo (na verdade, foi, mas de leste para oeste).