Farol da Barra, joia do mundo

Destaque internacional

O Farol de Santo Antônio da Barra, de Salvador, é eleito Farol Patrimônio do Ano 2020 pela IALA

(Colaboração CMG RM1 Alberto Piovesana Júnior)

“Quando o sol se põe, vem o farol/iluminar as águas da Bahia...” Quem já era crescido em fins da década de 1970, há de ter ouvido Farol da Barra, de Luiz Galvão e Caetano Veloso, na voz de Baby Consuelo — então do grupo Novos Baianos. A canção fala de um local caro a muitos, um cartão-postal que é ponto de encontro de toda gente. O farol em questão é o de Santo Antônio da Barra, marco da entrada da Baía de Todos os Santos desde o apagar das luzes do século 17, quando ficou pronta a sua torre original — que 141 anos depois foi substituída pela atual.

A capital da Bahia cresceu à luz desse farol, hoje o mais antigo em operação nas Américas e no hemisfério sul, e que por esta e outras credenciais acaba de ganhar o merecido título de Farol Patrimônio do Ano 2020 da IALA, International Association of Marine Aids to Navigation and Lighthouse Authorities (Associação Internacional de Autoridades de Auxílios à Navegação Marítima e Faróis), responsável pela padronização do sistema de balizamento marítimo utilizado mundo afora — nas Américas, usa-se o sistema IALA B. No início de junho, o Farol da Barra foi escolhido entre três finalistas — os outros dois foram os faróis Kõpu, da Estônia, e Mahabalipuram, da Índia — de um total de 16 inscritos.

Em nível nacional, a importância do farol de Salvador já é reconhecida há tempos. Junto à Fortaleza de Santo Antônio da Barra, que o abriga, na Ponta de Santo Antônio, é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan desde 1938. Aliás, foi um dos primeiros bens tombados no Brasil, ao lado do conjunto arquitetônico de Ouro Preto, em Minas Gerais, e das Missões Jesuíticas Guaranis, no Rio Grande do Sul, e atualmente é candidato a Patrimônio Mundial da Unesco.

O Farol da Barra é o segundo a ganhar o título da IALA, instituído em homenagem ao Dia Internacional dos Auxílios à Navegação Marítima, celebrado em 1º de julho desde o ano passado, para comemorar a data de criação da entidade, em 1957. O primeiro a receber a honra foi o Farol de Cordouan, o mais antigo da França em operação, construído entre 1584 e 1611. Para concorrer ao título, os faróis não têm, necessariamente, de ser velhos, mas devem ser operantes e é preciso provar sua importância cultural além de sua função e tempo atuais. O Farol da Barra, além de ser uma das principais atrações turísticas de Salvador, com até um museu marítimo anexo, é um marco onde começam e terminam os grandes eventos culturais, religiosos, políticos e esportivos da cidade. Ou seja, é um monumento histórico vivo, operante e, sim, um patrimônio do mundo.

O Farol de Santo Antônio da Barra

Latitude: 13 ° 00,61´ S Longitude: 038 ° 31,98´W

 
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Torre atual (1839)

De alvenaria, tem formato cônico, foi construída entre 1836 e 1839. Em 1969, para ficar mais visível durante o dia, a torre, que era totalmente branca, recebeu faixas na cor preta

O equipamento óptico original era catóptrico branco e vermelho rotativo com alcance de 15 milhas náuticas (27,7 km), moderno para a época. Foi substituído após 51 anos de uso, já desgastado e com mau funcionamento.

Altura: 22 m

Altitude: 39 m

Diâmetro inferior: 9,1 m

Diâmetro superior: 3,6 m

Característica da luz: 2 lampejos brancos e 1 encarnado (vermelho) com um período de 30 segundos

Alcance geográfico: 16 milhas (29,6 km)

Alcance luminoso: luz branca: 38 milhas (70,3 km); luz encarnada: 34 milhas (62,9 km)

Fonte de energia: eletricidade comercial. O farol foi eletrificado em 1936.

Dispositivo lenticular: é um BBT (da fábrica francesa Barbier, Bernard et Turene) dióptrico de 1ª ordem, instalado em 1890. Na época, seu alcance era de 18 milhas náuticas (33 km). Sua fonte de luz eram duas lâmpadas de querosene. Este aparelho lenticular é o mesmo que está em operação até hoje, com as atualizações tecnológicas para aumento da eficiência.

Máquina de rotação: o sistema de rotação é o mesmo instalado em 1890, porém com um motor elétrico. Anteriormente suportado em 12 rodas de bronze, e sujeito a danos frequentes, esse sistema foi alterado em 1955, e o conjunto lenticular começou a girar sobre um colar de esferas que requer pouca manutenção e funciona até hoje.

Uma curiosidade: antigamente, o setor de visibilidade da luz era irrestrito (360 graus). Até que, em 1943, um prédio alto foi construído cerca de 500 metros atrás do farol e a luz refletida nas janelas dos apartamentos passou a confundir os navegadores. Criou-se, então, um setor de invisibilidade em torno do prédio, mas houve quem tenha pensado que essa mudança foi para impedir que a luz perturbasse os moradores.

Torre original (1698)

 
Imagem: Eques Carvalho, circa 1775-1800

Imagem: Eques Carvalho, circa 1775-1800

 

Construída em alvenaria, tinha formato quadrangular e uma escada externa. A lanterna, vitrificada e de bronze, era composta por lâmpadas grandes, alimentadas com óleo de baleia.

O porto de Salvador era um dos mais movimentados do continente no século 17, e houve vários acidentes nas águas da região, sendo o mais impressionante deles o do galeão Santíssimo Sacramento, que naufragou, vitimando mais de 400 pessoas, em 1668, trinta anos antes da construção do farol.

Devido ao tsunami e aos incêndios que devastaram Lisboa, em consequência do grande terremoto que atingiu a cidade em 1755, muitos documentos se perderam para sempre, razão pela qual existem poucos registros históricos sobre a torre original.

Esta torre esteve em operação por 141 anos, até 1839, quando foi substituída pela torre atual.

Imagem: William Dampier, 1699

Imagem: William Dampier, 1699