Vendée Globe Real e Virtual - 30-12-2020
Nova depressão impacta a Vendée Globe
Barcos aproximam-se do Horn com mar e ventos fortes
Como a distância entre os 14 barcos mais bem colocados vem caindo há dias, a tensão aumenta. Posições no ranking se ganham e se perdem em horas
A nova frente fria que chegou para os líderes da Vendée Globe não é das fracas. Com ventos de 45 nós e ondas de sete metros, a situação está sendo vista com apreensão por alguns participantes. Ainda mais com a decisão da diretoria de regata, tomada hoje, de “descer” a zona de exclusão de gelo dos 50 para os 55 graus Sul. Isto significa que os skippers, com certeza, irão usar esse novo espaço disponibilizado, mesmo que signifique enfrentar uma navegação assustadora, com os ventos tradicionalmente fortes e grandes ondas dessa região do Pacífico.
Os líderes Yannick Bestaven (Maître Coq) e Charlie Dalin (Apivia) já desceram para além dos 50 graus Sul. Para o pelotão da frente da Vendée Globe, faltando apenas 1.300 milhas para o Cabo Horn, pode ser um momento eletrizante, mas é também de estresse para os competidores. A distância entre os 14 primeiros colocados vem diminuindo de modo constante há dias.
Nas condições encontradas nesta área remota do Pacífico, além do Ponto Nemo, os skippers precisam equilibrar força física e mental. Pois precisam tirar tudo de seus Imoca, ao mesmo tempo procurando não danificar o barco e manter a mente com o menor desgaste possível nas condições extremas que se aproximam.
É interessante notar que deste grupo de 14 primeiros na classificação atual da Vendée Globe, apenas três acumulam experiência anterior neste que é considerado o mais perigoso trecho de navegação do mundo. Louis Burton já esteve aqui uma vez, Boris Herrmann três, e Jean Le Cam nada menos do que em sete oportunidades, uma delas se constituindo num dos momentos mais dramáticos da história da Vendée Globe. Jean sofreu uma capotagem e ficou preso dentro do casco emborcado por 16 horas (ninguém sabia se estava vivo ou não), até ser resgatado de forma espetacular por Vicent Rioux (PRB). Este conseguiu salvar o companheiro, porém, pagou um preço alto: o mastro de seu veleiro quebrou durante o resgate e ele também foi obrigado a abandonar a regata. No fim, pelo resgate heroico, foi reclassificado em 4° lugar daquela que foi a sexta edição da Vendée Globe.
A difícil arte de obter desempenho sem destruir o barco
A experiência de enfrentar o Horn ajuda? Com certeza. Mas as condições meteorológicas atuais preveem grandes dificuldades, pois os competidores terão de se esgueirar em um fino “túnel” de ventos mais fracos até deixar esse obstáculo para trás. Quem não conseguir terá de segurar as rédeas de seu Imoca puro-sangue — mas não muito, para não perder terreno.
O britânico Mike Golding, com experiência de várias passagens pelo Cabo Horn, afirmou ontem: "Durante uma Vendée Globe, à medida que cada um dos três grandes cabos se aproxima, o navegador sente a emoção desses momentos, e como o Cabo Horn é o maior desafio de todos (além de o skipper saber que está prestes a subir de volta para o hemisfério norte), a tensão aumenta".
Destaques de hoje entre os skippers
A inglesa Pip Hare (Medallia) vem ganhando crescente destaque na imprensa que cobre a Vendée Globe. E por um bom motivo: com o veleiro Imoca mais antigo desta regata de volta ao mundo, sem hidrofólios nem reformas atualizadoras, e com um orçamento extremamente limitado (ela só largou por sua determinação em realizar o sonho de estar na Vendée Globe), Pip está realizando uma regata extraordinária. Quase todos os dias, jornalistas e a assessoria de imprensa da Vendée Globe vêm entrando em contato com ela, em busca de novidades. Esperava-se que ela apenas participasse como coadjuvante, mas vem na frente de muitos bons barcos e navegadores mais conhecidos, e lutando sempre por ultrapassagens.
Outra navegadora, a franco-alemã Isabelle Joschke (MASCF), vem realizando também um grande trabalho, mas com um barco moderno, chegando a ocupar a 5ª colocação ontem. Contudo, como todos estão muito próximos, perdeu essa posição nesta manhã. Outro skipper num vaivém na classificação é Jean Le Cam. A situação está mesmo complicada, com muitos barcos próximos. Vamos aguardar o Cabo Horn para uma melhor definição do ranking.
Boas notícias surgiram a partir de Stéphane Le Diraison (Time for Oceans), que havia anunciado necessitar uma escala na Ilha Macquarie (desse jeito, logo vão ter de montar uma marina por lá), mas conseguiu, com a orientação de sua equipe, efetuar o reparo antes de arribar. Por outro lado, Jérémie Beyou (Charal) e Armel Tripon (L’Occitane en Provence) continuam ganhando terreno em grande recuperação. E outra navegadora, esta francesa, Clarisse Cremer (Banque Populaire X), comemorou seu 31º aniversário ao passar hoje pelo Ponto Nemo.