Vendée Globe Real e Virtual - 20-12-2020

Para qual rumo seguir? Eis a questão de hoje para Yannick Bestaven

Para qual rumo seguir? Eis a questão de hoje para Yannick Bestaven

Eu tenho a Força!

Eu troco fraldas!

Com bom humor, criei as frases acima, pois traduzem bem o significado das entrevistas de hoje de alguns skippers na luta diária pela Vendée Globe

Manhã na pequena ilha Macquarie, localizada a 930 milhas ao sul da Austrália. Cena rara, um veleiro ancorado naquele fim do mundo, e um homem trabalhando no topo do mastro. De repente, ele grita, eufórico, olhando para o gravador de vídeo: “Terminei! Esta foi uma das coisas mais difíceis que fiz na minha vida! Coloquei um novo trilho para a vela grande, agora posso navegar com força total, rumo a Les Sables d’Olonne!”

Um feliz Louis Burton volta a correr nas ondas, à caça dos líderes

Um feliz Louis Burton volta a correr nas ondas, à caça dos líderes

O Bureau Vallée 2, renovado, segue em busca do tempo perdido

O Bureau Vallée 2, renovado, segue em busca do tempo perdido

Sim, Louis Burton, apenas um dia e uma noite trabalhando no seu Bureau Vallée 2, termina os todos os reparos necessários para continuar na Vendée Globe. Este skipper francês estava em segundo lugar, num desempenho impressionante, subindo na classificação dia a dia, vindo de 12 horas parado por penalidades (queimou a largada, e ainda a equipe aprontou algo errado), quando um problema no piloto automático causou um jibe inesperado, provocando vários danos. Ele continuou, mas com isso, muito aquém do desempenho que vinha demonstrando. Até decidir parar na ilha Macquarie e tentar resolver a situação. Conseguiu. E berra feliz, num aviso aos atuais líderes, que está de volta (Confira no vídeo a seguir).

 
 

Enquanto isso, por acaso, os líderes estão enfrentando um momento difícil em razão de condições atmosféricas complicadas e nada fáceis de superar. Principalmente Yannick Bestaven, no Maître Coq IV. Contornar ou passar pelo centro de um grande anticiclone bloqueando o caminho para o Cabo Horn, com seus ventos fracos? Imagino daqui da minha sala, no meu confortável sofá, o Yannick com sua roupa de guerreiro de Westeros olhando preocupado para um dos dragões da Daenerys Targaryen…

Bestaven tem de abrir um caminho, que poderá servir de referência positiva ou negativa para seus rivais mais próximos, Charlie Dalin (Apivia) e Thomas Ruyant (Linked Out), seguirem ou evitarem.

“Estou começando a gostar de ter embarcado com alimentos para 80 dias no mar”, confidencia Thomas Ruyant, enquanto termina um prato de risoto. Logo depois, dá um jibe para aproveitar um “túnel” de ventos fracos, porém melhores que os de “fora do túnel”, entre 13 e 15 nós.

Sim, já é consenso que o recorde da volta ao mundo pela Vendée Globe continuará com Armel Le Cléac’h, vencedor em 2016-17 em pouco mais de 73 dias.

Já o quarto colocado, o alemão Boris Herrmann (Seaexplorer – Yacht Club de Monaco), confidencia que a situação climática atual, indefinida e cheia de surpresas, obrigando a estar o tempo todo atento e sem dormir, o faz lembrar de sua esposa tratando do filho, levantando para atender o choro no meio da noite, voltando para a cama, e de novo a criança chora, e lá vai ela, e quando volta e pensa em dormir, novamente o choro retorna inesperado...

Os skippers dos barcos mais atrasados, que estão navegando com bons ventos, com certeza não estão reclamando. Milha após milha, vão ficando mais perto, desde Armel Tripon (L’Occitane en Provence), em 14º lugar, se aproximando do grupo dianteiro (no momento, navega ao sul da Tasmânia), a Jérémie Beyou (Charal), atualmente em 21º, avançando rápido sobre o grupo intermediário no Oceano Índico, já próximo do Cabo Leeuwin!

Tenho uma sensação de que ainda tem muita história a ser escrita nesta imprevisível Vendée Globe, que mais parece uma daquelas séries de tevê, cheia de reviravoltas.