Vendée Globe Real e Virtual - 11-11-2020

O L’Occitane, de Armel Tripon, foi obrigado a arribar em La Coruña para reparos

O L’Occitane, de Armel Tripon, foi obrigado a arribar em La Coruña para reparos

UMA NOITE NADA FÁCIL

Ventos fortes, quebras e outros problemas

Por Roberto Negraes

Nem todos passaram incólumes pela primeira tempestade enfrentada pelos 33 da Vendée Globe 2020-21. Os ventos fortes de sul castigaram os barcos durante toda a noite

Esta noite, pelas 22 horas, os 33 veleiros da Vendée Globe 2020-21 estiveram sob a tempestade tropical Thetis (assim batizada ontem pelos serviços meteorológicos), em ventos por volta de 30 nós (de sul-sudoeste), com rajadas de mais de 45 nós. O fator complicante é que os IMOCA são construídos para enfrentar melhor os ventos de popa, e nestas condições de vento (pela proa), têm mais dificuldades. Foi realmente um momento difícil para os que optaram por desafiar a tempestade (numa troca por melhor posicionamento posterior). Os barcos que escolheram navegar perto da costa de Portugal estão sofrendo menos, com ventos por volta de 23 nós e rajadas de 30 a 32 nós (em compensação, na continuidade da regata, teoricamente, estarão em áreas de ventos mais fracos).

De fato, ontem surgiu uma grande dúvida para os skippers: uma rota segura mas inferior ou uma rota ousada mas superior? Entre os ousados, analisando as posições plotadas, Kevin Escoffier (PRB) surpreende e surge em destaque, com o Jérémie Beyou (Charal) e Sam Davies (Initiatives Cœur) entre dez e vinte milhas à sua popa (e praticamente juntos, lado a lado). Pouco mais ao norte, próximo, está o Charlie Dalin (Apivia). E muito ao norte, na pior área da tempestade, estão os ainda mais ousados: Alex Thomson (Hugo Boss), Sébastien Simon (Arkéa Paprec), Boris Herrman (Seaexplorer - Yacht Club de Monaco), Armel Tripon (L'Occitane en Provence), Tomas Ruyant (Linked Out) e Louis Burton (Bureau Vallée 2). Os demais, procurando poupar seus equipamentos, navegam próximos da costa portuguesa, liderados por Maxime Sorel (V and B-Mayenne).

Quem sairá realmente em vantagem no final da primeira tempestade a atingir a Vendée Globe? Esta manhã, algumas baixas surgiram. A mais séria é de Armel Tripon (L'Occitane), que está sendo obrigado a rumar para o porto de La Coruña, 350 milhas distante, onde irá ancorar e fazer reparos (ele mesmo pois se tiver ajuda será desclassificado). Outro barco com problemas é o de Kevin Escoffier (PRB), que durante a noite havia se destacado, com dano em encanamento (o que permite entrada de água no casco).

É Pip Hare (Medallia) quem resume:"
Esta frente nos alerta de que navegar ao redor do mundo não vai ser um passeio no parque. Fui derrubada duas vezes de minha cadeira enquanto tentava escrever este e-mail. Acabei sentando num saco, no lado mais baixo e inclinado da cabine, pois não dá para cair mais quando se está lá. Mas depois, tive de levantar e procurar meus óculos, pois a tela do computador estava muito longe para eu continuar escrevendo".

Enquanto isso, os barcos virtuais venciam grandes ondas na simulação em 3D, sem quaisquer problemas. Confortavelmente sentado numa cadeira em frente ao computador, observo a tela e o que acontece no mar virtual, embora esteja também, ao mesmo tempo, seguindo os 33 heróis da Vendée Globe 2020-21 oficial. Como observou o veterano navegador Loïck Peyron (participou das duas primeiras Vendée Globe, de 1989-90 e 1992-1993, além de competir assiduamente nas mais importantes regatas internacionais): "Com meus cabelos brancos, prefiro ficar em frente ao computador participando da versão virtual".

Somente hoje no final da tarde teremos uma melhor definição sobre as estratégias que deram certo ou não.