Semana de Vela de Ilhabela

A equipe +Bravíssimo comemora a vitória na classe ORC na 48ª Semana Internacional de Vela de Ilhabela. Foto: Caio Souza - On Board Sports

A equipe +Bravíssimo comemora a vitória na classe ORC na 48ª Semana Internacional de Vela de Ilhabela. Foto: Caio Souza - On Board Sports

Bravíssimo

campeão

Título da 48ª Semana Internacional de Vela de Ilhabela vai para o barco capixaba +Bravíssimo, comandado por Luciano Secchin

A Semana Internacional de Vela de Ilhabela voltou a animar o inverno do litoral norte paulista após o hiato do ano passado, quando, devido à pandemia de covid-19, aconteceu apenas no formato virtual, tendo como vencedor o gaúcho Phillipp Grochtmann.

Desta vez, finalmente (e pela primeira vez), a competição foi realizada nas duas versões, virtual e presencial, na qual, inclusive, Grochtmann participou como integrante do Itajaí Sailing Team.

As disputas online ocorreram entre os dias 20 e 22 de julho, na plataforma Virtual Regatta, mesmo simulador utilizado nas competições da World Sailing (Federação Internacional de Vela), que permite jogar em computadores, tablets e celulares. “As principais regatas de oceano do mundo já adotam o modelo de competições online em paralelo às disputas na água”, comentou Mauro Dottori, organizador da Semana Internacional de Vela de Ilhabela.

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Os mais de 70 competidores virtuais dividiram-se entre as classes Offshore, J-70 e Fareast 28. O campeão foi o brasiliense Lucas Dantas, de 16 anos, líder do ranking nacional de vela online, que terminou como vice na competição do ano passado. 

A competição presencial veio a seguir, entre os dias 25 e 31 de julho, sediada pelo Yacht Club de Ilhabela (YCI). Participaram cerca de 600 velejadores, em 81 veleiros das classes ORC, RGS, Bico de Proa, Clássicos, Mini Transat, Multicascos, C30 e HPE 25.

Alcatrazes, Toque-Toque e Renato Frankenthal

A competição começou com as regatas Alcatrazes por Boreste Marinha do Brasil (percurso de 55 milhas, contornando o arquipélago de Alcatrazes, para as classes ORC e RGS A e B), Ilha de Toque-Toque por Boreste (25 milhas, classes C 30, HPE 30, RGS C, Bico de Proa e Clássicos) e Renato Frankenthal (10 milhas, classe HPE 25).

Antes do tiro de largada, o público em terra pôde assistir ao desfile que os barcos participantes da Semana de Vela realizaram em frente ao Píer da Vila e de outros pontos do centro histórico de Ilhabela, sob ventos fracos e calor fora de época de quase 30 graus. As regatas foram acompanhadas pelos navios-patrulha GuajaráAPA.

O primeiro a montar Alcatrazes, e fita-azul em sua primeira regata, foi o novíssimo puro-sangue Phoenix do multicampeão na Semana de Vela Eduardo Souza Ramos, um Botin 44 de carbono, o mais moderno veleiro de competição do país, lançado no evento. Após 6 horas e 54 minutos para completar o percurso, Eduardo Souza Ramos, veterano da Semana de Vela de Ilhabela, comentou: “O barco é uma delícia, muito bom. O resultado hoje deve ter sido muito ruim, mas só por erros nossos”. O tempo recorde da Alcatrazes por Boreste (6 horas, 1 minuto e 42 segundos) pertence ao veleiro Crioula, desde 2018. No tempo corrigido, o vencedor da Alcatrazes por Boreste na classe ORC foi o Xamã – Matrix Energia, barco de Ilhabela, de Sérgio Klepacz. O fita-azul Phoenix ficou em sétimo lugar geral na ORC.

Sergio Klepacz confessou ter tido dificuldade na largada. “O vento parou na saída do canal, o que para nós não é das melhores coisas, pois o barco é pesado entre os de ponta”, disse o comandante. No entanto, na volta a Ilhabela, a tática salvou o dia. Contando com a experiência do velejador local Tinah de Jesus, o Xamã acertou no momento da aproximação de Toque-Toque, o que foi decisivo para a vitória. “Contornamos Alcatrazes em uma posição que já não era muito boa (...), nosso tático veio com uma estratégia até conhecida mas que as outras equipes não usaram, que foi orçar no sentido da entrada do canal. A gente foi na direção de Toque-Toque e, chegando na boca do canal, as coisas melhoraram”, detalhou Klepacz. Rudá, de Mário Martinez, classificou-se em segundo lugar e o Asbar IV, de Jonas Penteado, em terceiro. 

Na Regata Ilha de Toque-Toque por Boreste, os C30 Katana e Zeus, ambos de Santa Catarina, protagonizaram uma chegada eletrizante, com apenas 3 segundos de diferença entre eles. Katana, de César Gomes Neto e tendo a bordo o velejador profissional Bruno Fontes, cruzou na frente. ”A regata foi tensa. Largamos escapados e voltamos. Mas no momento final pegamos vento melhor que os adversários”, comentou Bruno. ”Viemos de trás, defendendo o vento de terra. Foi a única tática que restou. Foi cabeça a cabeça, proa a proa!”, explicou o atleta em seu retorno à Semana de Vela após anos dedicados a campanhas olímpicas.

Já na Regata Renato Frankenthal, o HPE 25 Conquest-Ecom, de Marco Hidalgo, venceu a briga nas últimas milhas contra o Ginga e o Mussulo 25.

Regata Vela do Amanhã: um incentivo para a formação de futuros velejadores. Foto: Fred Hoffmann - SIVI 2021

Regata Vela do Amanhã: um incentivo para a formação de futuros velejadores. Foto: Fred Hoffmann - SIVI 2021

Após as regatas longas, os participantes tiveram um dia de folga, aproveitado para, pela primeira vez, realizar-se a Regata Vela do Amanhã, com a participação de 40 crianças e adolescentes entre 7 e 16 anos de projetos sociais de Ilhabela (SP), São Sebastião (SP), Praia Grande (SP) e Paraty (RJ). A bordo de 11 barcos, elas tiveram aulas com velejadores da Semana de Vela. “Nosso futuro e o futuro da vela estão aqui! Sem eles, não tem amanhã. Fiquei muito feliz em trazer tantas crianças para a vela”, disse Cuca Sodré, responsável pela realização técnica das regatas.

Tempo bom, tempo ruim

Ao voltar para a raia, os velejadores encontraram uma situação inversa à da abertura da 48ª Semana Internacional de Vela de Ilhabela. O calor de 30 graus, pouco vento e mar calmo deram lugar ao frio de 14 graus (com sensação térmica de menos de 10 graus), ventos de mais de 20 nós e mar pesado, em decorrência da entrada de uma frente fria com muita chuva.

A mudança de tempo, no entanto, é habitual na Semana de Vela de Ilhabela. “Sempre vemos provas com mais ou menos vento (...) As equipes precisam mostrar habilidade para vários tipos de condição de vento e mar”, explicou Walter Boddner, da comissão de protestos.

Houve avarias de barcos, como aconteceu com o Atrevida, um clássico de 1923, o mais antigo veleiro na Semana de Vela. “Estávamos velejando e perdemos o governo do barco, o leme trancou (...) Constatamos que tinha soltado o eixo do flange do motor, que desconectou o hélice”, contou o tático do Atrevida, André Gick.

O frio e os ventos fortes, com rajadas de até 30 nós, fizeram a comissão de regatas cancelar as provas do dia 29, uma quinta-feira.

Brasileiro de C30

No dia seguinte, sexta-feira, o destaque foi a decisão do Campeonato Brasileiro da classe C30, que durante a disputa da Semana de Vela consagrou bicampeão nacional o Caballo Loco, de Mauro Dottori, somando os resultados no Circuito Oceânico Ilha de Santa Catarina, realizado em janeiro, e em Ilhabela — as regatas do dia 30 foram as últimas válidas para o Brasileiro de C30. Kaikias e Katana terminaram com, respectivamente, segundo e terceiro lugares.

“Tiramos essa vitória do fundo do poço. Quarta-feira foi um dia em que nada deu certo, um tripulante caiu na água, rasgamos dois balões, nos retiramos. E tivemos a prova de que a classe C30, se não é a melhor, está no topo. Os comandantes todos abriram mão da última regata, na quarta, por causa do Caballo Loco. Então, já de cara, o meu muito obrigado a todos eles”, declarou Mauro Dottori. “Hoje foi um dia excepcional. Ganhamos a primeira regata. Na segunda, só não fomos melhor porque queimamos a largada, mas ficamos em segundo. E ganhamos a última com certa distância dos adversários. Juntando com os resultados que tivemos em Florianópolis, isso acabou nos tornando campeões brasileiros”, concluiu.

Decisão da Semana

No último dia de regatas, sábado, os ventos abrandaram e a temperatura voltou a subir. Com persistência e regularidade ao longo da Semana, quem terminou no primeiro lugar geral foi o barco capixaba +Bravíssimo, de Luciano Secchin, que relatou: “Ganhamos a competição sem ganhar nenhuma regata. O que mandou foi a regularidade. Na quarta-feira, quando ventou muito, conseguimos nos defender, diferente dos barcos menores. Nos dias em que ventou pouco, fomos bem”.

A briga na classe ORC, dos veleiros mais modernos e velozes, que somaram 18 competidores neste evento, foi grande. Concorrendo com o +Bravíssimo, outros três barcos — Phoenix, Xamã-Matrix Energia e Rudá — alternaram-se nos primeiros lugares durante a semana.

Sobre ter vencido o Phoenix, o barco mais moderno da raia, Luciano Secchin ponderou: “Quando eles acertarem o barco, serão imbatíveis. Estão aprendendo a andar num Porsche. O nosso barco é um Honda Civic, mas tiramos tudo dele”. Já Eduardo Souza Ramos assegurou estar muito satisfeito com sua nova máquina de regatas: “Foi melhor do que esperávamos, considerando que nossa primeira velejada com esse barco foi um dia antes do início do evento (...) Mesmo hoje, com ventos de 12 nós, ele chegava a planar em alguns momentos”.

O Kaikias, que dias antes encerrara o Brasileiro de C30 em segundo lugar, venceu a Semana de Vela de Ilhabela na classe, à frente do campeão brasileiro Caballo Loco em segundo lugar e do Zeus Team em terceiro. “Foi a nossa primeira conquista na classe!”, comemorou Beto de Jesus, tático do Kaikias.

Na HPE 25, a vitória foi para o Espetáculo, sob comando de Luis Fernando Staub, que superou o hexacampeão de Ilhabela Ginga, de Breno Chvaicer, vice-campeão nesta edição e o Salô, de Marcelo Zemach, que terminou em terceiro lugar.

Outra merecedora de nota é a Mini Transat, classe internacional de veleiros de regata transoceânicos monotripulados, que participou da Semana de Ilhabela pela primeira vez, com quatro barcos na raia, numa disputa que foi decidida apenas na regata final. O último dia da Semana de Vela começou com o Bloody Jones, de Jonas Gomes, e o Jacaré, de Pedro Fukui, empatados no primeiro lugar e apenas um ponto na frente do segundo colocado, o Daddy-O, de José Chrispin. Quem acabou levando a melhor foi o Jacaré. “Foi uma semana ótima. Começamos ganhando a primeira regata, mas na sequência o Jonas, do Bloody Jones, usou uma tática melhor que a nossa. No fim, erramos menos e vencemos”, resumiu Pedro Fukui.

Demais classes

Na classe RGS, com 14 barcos na disputa, o favorito Zeus, de Paulo Fernando de Moura, campeão geral em 2019, venceu novamente.

Na classe Multicascos, o Maré XX, de Benoit Joufflineau, venceu todas as regatas.

“Foi uma semana muito boa, com vento fantástico. Pena que tivemos poucos barcos na Multicascos. Estávamos em três”, lamentou o comandante.

Na Bico de Proa, a classe mais numerosa na raia, com 20 barcos participantes, venceu o BL3 Mangalô, veleiro da escola de vela BL3, que ao longo da semana disputou a liderança com o Super Bakanna. “A BL3 competiu com dois veleiros. Foi uma vitória muito emocionante. Precisávamos colocar um barco entre nós e o Super Bakanna, e isso foi possível. Terminamos a última regata em primeiro, com o Susso em segundo e o Super Bakanna em terceiro. Empatamos na pontuação e vencemos por critério de desempate”, explicou o comandante Pedro Rodrigues. Na categoria B da Bico de Proa, o campeão foi o H2Orça, tripulado por vários alunos de escolas de vela. “Nós trazemos os alunos para aprenderem a velejar e já colocamos na Semana de Vela. Aqui eles podem aprender a manejar o barco, entender melhor as regatas, e partir para outras classes. A Bico de Proa é a porta de entrada da vela oceânica”, disse Hilper Zamith, comandante do H2Orça.

Liderando os barcos clássicos de ponta a ponta sob o comando de Mark Essle, o Kameha Meha venceu o Atrevida, comandado por Alexandre Ferrari, que classificou-se em segundo lugar, e o Baforada 3, de Elymara Santos, que ficou em terceiro. Ao todo, sete veleiros concorreram nesta categoria. “Nós tivemos um desempenho excelente, estávamos todos muito afinados a bordo. E trouxemos gente nova para velejar conosco. Mas a grande atração da classe será daqui a dois anos. Será a 50ª edição da Semana de Vela, e marcará os 100 anos do Atrevida”, antecipou Mark Essle.

O comandante do C30 Caballo Loco e organizador da Semana de Vela de Ilhabela Mauro Dottori comemorou o evento: “Num ano tão complexo como este, trouxemos 81 barcos, gente que veio de Florianópolis, de Vitória, do Rio de Janeiro, de Santos (...) principalmente, queremos que os velejadores venham não para ganhar, mas para se divertir, respeitar uns aos outros e sentir como esse litoral, um dos mais bonitos do Brasil, recebe a todos de braços abertos”.

Os campeões da 48ª Semana Internacional de Ilhabela

ORC Geral: +Bravíssimo
ORC A: Rudá
ORC B: +Bravíssimo
ORC Silver: Lucky/Alforria
RGS Geral: Zeus
RGS A: Zeus
RGS B: Beleza Pura 2
RGS C: Brazuca
Bico de Proa Geral: BL3 Mangalô
Bico de Proa A: BL3 Mangalô
Bico de Proa B: H2Orça
Bico de Proa C: Super Bakanna
C30: Kaikias
HPE25: Espetáculo
Clássicos: Kameha Meha
Mini Transat: Jacaré
Multicascos: Maré XX

Confira os resultados completos no site oficial da Semana Internacional de Ilhabela.

Regina Hatakeyama