Vendée Arctique 2022
Correndo
numa fria
Por Roberto Negraes
Velejadores solitários disputam a Vendée Arctique 2022, de olho na Vendée Globe 2024
No dia 8 de junho, dezenas de milhares de pessoas alinharam-se ao longo do canal de Les Sables d'Olonne para assistir à largada dos 25 navegadores em disputa na regata Vendée Arctique, segunda etapa da Imoca Global Series. O percurso de 3.500 milhas (aproximadamente 6.500 km), partindo da França, circum-navegando a Islândia e passando pelo Círculo Polar Ártico, começou às 17 horas, horário local, com uma brisa leve a moderada de nordeste.
Esta é a primeira regata válida para a qualificação de candidatos à disputa da legendária volta ao mundo em solitário Vendée Globe, em 2024. Uma hora depois do tiro de partida, os veleiros Imoca mais rápidos já estavam navegando a mais de 27 nós (50 km/h), rumo ao norte. De início, Louis Burton (skipper do Bureau Vallée) foi o mais rápido, seguido de Charles Dalin (Apivia), o vencedor da etapa anterior da Imoca Global Series.
A maioria dos veleiros avançou imediatamente para o oeste da Irlanda, em busca de uma passagem por um centro de alta pressão, um formidável obstáculo com cerca de 150 milhas (278 km) a 200 milhas (370,5 km) de extensão de ventos muito fracos, em contraste com os bons ventos da largada. Logo destacaram-se, rumando decididamente para oeste, Charlie Dalin, Jérémie Beyou, Thomas Ruyant e Louis Burton, os favoritos à vitória. Ainda nas primeiras 24 horas de regata, o primeiro abandono: o húngaro Szabolcs Weöres retornou após constatar problema com a quilha.
Desde o segundo dia, a corrida na busca de uma passagem pelos ventos fracos da alta pressão intensificou-se. Uma surpresa surgiu quando dois novatos na classe Imoca, com barcos mais antigos, sem hidrofólios, começaram a destacar-se na regata. Um deles, o jovem francês Benjamin Ferré (Monnoyeur-Duo), de 31 anos de idade, foi o primeiro a encontrar passagem pela alta pressão, seguido de perto por Guirec Soudée (Freelance.com), de 30 anos.
Ferré tem como técnico o veterano Jean Le Cam. Seu barco foi o vencedor da Vendée Globe 2012, com François Gabart, e da Rota do Rum com Paul Meilhat em 2018. Já Soudée foi o navegante mais jovem a completar a Passagem do Noroeste (a rota marítima entre os Oceanos Atlântico e Pacífico, através do Ártico). Nessa viagem, passou 130 dias preso no gelo, sobrevivendo apenas com ovos e arroz. Ovos no meio do nada? É que sua companheira de viagem foi uma galinha batizada como Monique... O veleiro Imoca deste novato é o mesmo com o qual Alex Thomson chegou ao terceiro lugar na Vendée Globe de 2012. Ambos os jovens velejadores foram amplamente elogiados por observadores em terra.
Finalmente, os Imoca, um a um, superaram a alta pressão que desde o segundo dia bloqueava parcialmente a passagem para a Islândia, a partir do oeste da Irlanda. Esperava-se uma frente de baixa pressão com ventos de 20 nós (37 km/h), que aceleraria a regata. Porém, esse sistema foi se intensificando, e aos poucos — quando Charlie Dalin, numa navegação perfeita, mostrando que é mesmo o melhor skipper do momento, abriu nada menos que cem milhas sobre os demais — a depressão transformou-se numa tempestade com ventos de 40 nós (74 km/h) e rajadas de 50 (92,5 km/h).
Diante de tal ameaça à segurança dos velejadores, a organização decidiu, na noite de sexta-feira (17 de junho), abreviar a regata, estabelecendo como linha de chegada da Vendée Arctique – Les Sables d'Olonne de 2022 um "portal", entre pequenas ilhas. Os líderes, já próximos da Islândia e livres do alcance mais forte da tempestade, não tiveram grandes problemas. Mas o estudo dos padrões meteorológicos na área onde vinte dos participantes ainda estavam em evolução, revelou a necessidade óbvia de permitir que rapidamente procurassem abrigo ou encontrassem um caminho para fugir do perigo. Por isso, a linha de chegada foi estabelecida junto à costa da Islândia.
Francis Le Goff, diretor da regata, declarou: "O objetivo é que, na tarde de sábado, quando o pior da depressão tiver passado, os capitães possam voltar a Les Sables d'Olonne, o que não será tão simples; não estarão protegidos de novos ventos fortes, mas poderão administrar a navegação como bons marinheiros. Sabíamos das rápidas e brutais mudanças climáticas na área, mas aconteceu pior do que poderíamos imaginar".
Contudo,castigados pelos vendavais, alguns barcos acabaram abandonando a regata. Foram eles: o MACSF, de Isabelle Joschke; o La Mie Câline (pego num dos piores pontos da tempestade, tendo enfrentado rajadas de até 60 nós, ou 111 km/h); o Groupe Sétin, de Manuel Cousin; o Laboratoires de Biarritz, de Denis Van Weynbergh; além do Szabi Racing, de Szabolcs Weöres, que desistira no primeiro dia da regata. Um destaque foi o skipper japonês Kojiro Shiraishi (DMG Mori Global One), que também foi pego por ventos extremamente fortes, mas, depois de navegar em árvore seca por um bom trecho, conseguiu cruzar a linha de chegada.
Classificação da Vendée Arctique 2022
Apivia (Charlie Dalin)
Charal (Jérémie Beyou)
Linked Out (Thomas Ruyant)
Monnoyeur - Duo for a Job (Benjamin Ferré)
Bureau Vallée (Louis Burton)
Freelance.com (Guirec Soudée
Hublot (Alan Roura)
Fives - Lantana Environnement (Louis Duc)
Groupe Apicil (Damien Seguin)
Banque Populaire (Nicolas Lunven)
Guyot Environnement - Water Family (Benjamin Dutreux)
Prysmian Group (Giancarlo Pedote)
Medallia (Pip Hare)
Commeunseulhomme Powered by Altavia (Eric Bellion)
Cap Agir Ensemble #SponsorsBienvenus (Sébastien Marsset)
Ebac Literie (Antoine Comic)
Fortinet - Best Western (Romain Attanasio)
Imagine (Conrad Colman)
Nexans - Art et Fenêtres (Fabrice Amedeo)
DMG Mori Global One (Kojiro Shiraishi)