Rota do Rum 2022

A partida da flotilha em Saint-Malo (França), rumo a Guadalupe (Caribe). Foto: © Vincent Olivaud - Divulgação RDR2022

A rainha

das regatas

Por Roberto Negraes

Começou uma das regatas oceânicas mais populares do hemisfério norte

Chamada de "Rainha das Regatas", a Route du Rhum (Rota do Rum), criada em 1978, é um clássicos da vela offshore (de alto-mar). Só a Vendée Globe (de volta ao mundo) a supera em popularidade e público na França e na Europa.

A largada da edição de 2022, a 12ª desta que é uma das mais importantes regatas oceânicas do mundo, aconteceu às 14h15 (hora local) de quarta-feira, 9 de novembro, em Saint-Malo, na costa noroeste francesa. Sozinhos a bordo, 138 velejadores em barcos divididos em seis classes (quatro profissionais e duas amadoras), enfrentarão o Atlântico até a ilha de Guadalupe, no Caribe.

A partida (que deveria ter sido no domingo, mas foi adiada por conta do mau tempo) teve condições ideais para os velejadores: sol e ventos de oeste entre 15 e 20 nós. No entanto, o britânico Sam Goodchild, a bordo do Leyton, grande favorito entre os multicascos Ocean Fifty, feriu-se no rosto pelo retorno da manicaca do “moedor de café”, durante o procedimento de partida. Hospitalizado, ele anunciou seu abandono da regata algumas horas depois. Enquanto isso, a flotilha liderada pelos barcos Ultim 32/23 disparava para chegar ao Cabo Fréhel, primeira marca do percurso.

O risco de colisão é uma das armadilhas que os velejadores enfrentam, e dois da classe Imoca tiveram esse azar: o suíço Oliver Heer (Oliver Heer Ocean Racing) e o japonês Kojiro Shiraishi (DMG Mori Global One), que tiveram de retornar a Saint-Malo com seus barcos danificados.

Como definir a Rota do Rum? Homens, mulheres, um veleiro e o oceano. O conceito é simples e fácil de entender: na Route du Rhum – Destination Guadeloupe (Rota do Rum – Destino Guadalupe, nome oficial desta corrida marítima), todos os competidores devem cobrir as 3.543 milhas náuticas (6.562 quilômetros) do percurso partindo ao mesmo tempo, num espetáculo de velas e veleiros de todos os tamanhos e cores, em uma única linha de largada, que é uma das mais fantásticas imagens da vela oceânica mundial. O primeiro de cada classe a cruzar a linha de chegada vence.

Criada em 1978 por Michel Etevenon, a Route du Rhum Destination Guadeloupe é considerada a "rainha" das regatas transatlânticas em solitário desde sua primeira edição. Por 44 anos, o evento liga Saint-Malo, na Bretanha, a Pointe-à-Pitre, em Guadalupe, reunindo a maior flotilha de veleiros oceânicos, de várias classes diferentes (no final do texto, está a lista de categorias aceitas).

Desde a primeira edição, o regulamento foi elaborado como uma corrida livre em termos de classes participantes (existem até duas categorias criadas para veleiros que não se enquadram em qualquer das outras categorias!), de modo que alguns dos melhores skippers, tanto profissionais quanto amadores, encontram-se de quatro em quatro anos não apenas para disputar uma regata, mas principalmente para participar de uma das maiores confraternizações de velejadores oceânicos da atualidade.

Dezenas de homens e mulheres já deixaram sua marca na história das regatas solo; ora estabelecendo recordes, ora vencendo por pequena margem até de segundos. O sucesso da Route du Rhum deve-se em grande parte a este legado contínuo desde a primeira edição, que teve um final incrível, com apenas 98 segundos de diferença entre o pequeno trimarã de Mike Birch e o grande monocasco de Michel Malinovski. Entre as vitórias a serem lembradas, a mais conhecida foi a da "pequena noiva do Atlântico", a francesa Florence Arthaud.

Os nomes sinônimos da Route du Rhum incluem Mike Birch, Alain Colas, Florence Arthaud, Loïck Peyron, Marc Pajot, Philippe Poupon, Laurent Bourgnon, Ellen MacArthur, Franck Cammas, Loïc Caradec, Michel Desjoyeaux, Francis Joyon, mas há muitos outros, profissionais de ponta ou simples aventureiros amadores, que gravaram seus nomes na história da corrida. Entretanto, nem tudo foi sempre festa na Route du Rhum, ja ocorreram grandes dramas, como os desaparecimentos de Alain Colas em 1978, durante uma tempestade ao largo dos Açores, e o de Loïc Caradec em 1986.

Alain Colas merece um parágrafo aqui nesta matéria. Foi um dos mais famosos navegadores franceses, nascido em 1943, sendo o primeiro velejador a efetuar uma volta ao mundo a vela num multicasco. E isso com pouca experiência em navegação se comparado com outros grandes velejadores oceânicos. Sua vida profissional teve início quando partiu da França para a Austrália, aos 22 anos de idade, como professor de francês do St John’s College, em Sydney, onde ensinou literatura francesa. Em 1967, encontrou Éric Tabarly, que disputaria a regata Sydney-Hobart, e lhe propôs embarcar como tripulante. Alain Colas descobriu, assim, a navegação a vela e, durante três anos, navegou e aprendeu com Tabarly. De 1972 a 1974, com o trimarã Pen Duick IV, Colas bateu dois recordes de travessia do Atlântico. Ele desapareceu no mar perto das ilhas dos Açores com o trimarã Manureva. Tornou-se uma lenda, e até uma música foi composta em sua homenagem, Manureva (confira vídeo no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=nn6nC8U_TFQ&t=1s)

Há seis classes disputando os troféus principais da Route du Rhum:

Ultim 32/23: a categoria principal de maximulticascos com mais de 100 pés (32 metros de comprimento e 23 m de largura)

Ocean Fifty: multicascos de 50 pés (15 metros de comprimento), todos pertencentes à mesma classe

Imoca: os monocascos Vendée Globe, de 60 pés (18,28 metros de comprimento), vários dos quais (os mais modernos) equipados com hidrofólios

Classe 40: monocascos de 12,18 metros de comprimento, todos pertencentes à mesma classe

Rhum Multi: barcos de dois ou três cascos, de até 64 pés (19,5 metros), que não podem entrar em nenhuma das classes definidas acima

Rhum Mono: monocascos acima de 39 pés (11,88 metros) e que não se enquadram em nenhuma classe definida acima

Os três primeiros de cada classe a passar pelo Cabo Fréhel

(skipper / barco / hora local)

Ultims 32/23

Charles Caudrelier - Edmond de Rothschild, às 15h21

Armel le Cléac’h - Banque Populaire, às 15h29

François Gabart - SVR Lazartigues, às 15h31

Ocean Fifty

Quentin Vlamynck - Arkéma, às 15h48

Sébastien Rogues - Primonial, às 15h50

Armel Tripon - Les P’tits Doudous, às 15h53

Imoca

Charlie Dalin - Apivia, às 16h07

Louis Burton - Bureau Vallée, às 16h14

Jeremy Beyou – Charal, às 16h17

Classe 40

Matthieu Perraut - Inter Invest, às 18h15

Ambrogio Beccaria - Allagrande Pirelli, às 18h18

Luke Berry - Lamotte Module Création, às 18h23

Rhum Mono

Jean-Pierre Dick - Notre Méditerranée - Ville de Nice, às 18h26

Catherine Chabaud - Formatives ESI Business School Ocean As Common, às 18h30

Willy Bissainte - Tradyson gwadloup, às 18h48

Rhum Multi

Fabrice Payen - Ille et Vilaine Cap vers l’inclusion, às 18h23

Gilles Buekenhout - Jess, às 18h38

Gwen Chapalain - Guyader Saveol, às 18h39

Roberto Negraes