Entendendo a classe Mini
Guia básico dos
barcos Mini
Por Roberto Negraes
Os veleiros Mini, de apenas 6,5 m de comprimento, são sucesso na Europa e começam também a conquistar as Américas
Os veleiros Mini (Mini 6.50) se originaram no final da década de 1970, com a Mini Transat, competição de barcos de 21 pés que tinha como objetivo permitir uma regata transatlântica a preço acessível para navegadores solitários.
As primeiras disputas, entre os anos de 1977 e 1983, começavam na Inglaterra e tinham como destino Antígua, no Caribe, com escala em Tenerife (Ilhas Canárias). Em 1985, a regata, que ocorre a cada dois anos, passou a largar da costa francesa. Assim, os barcos foram projetados para navegar nos ventos alísios de oeste, embora tenham de vencer um trecho inicial de ventos eventualmente mais fortes, típicos do trecho europeu do Atlântico. A evolução foi rápida, e os veleiros classe Mini logo se tornaram trampolins para categorias maiores, como a Classe 40 e os Imoca.
Os Mini são limitados ao comprimento de 21 pés (6,50 m). Dentro dessa regra, os projetistas são livres para inovações, supervisionados pela Classe Mini europeia (que regulamenta a categoria). Com isso, novos designs surgem quase anualmente, sempre tornando estes pequenos veleiros mais rápidos e seguros.
Protótipos e barcos Mini 6.50 de série
Existem dois tipos de barcos separados dentro da classe Mini: os protótipos e os produzidos em série. Os primeiros seguem a limitação do comprimento máximo, mas podem usar os chamados materiais exóticos (como fibra de carbono, para assegurar maior resistência e menor peso) e, portanto, mastros mais altos e quilhas mais profundas, sem contar bolinas, tanques de lastro e até hidrofólios. Interessante notar que algumas inovações criadas para os Mini acabaram migrando para classes maiores.
Já os barcos de série são sujeitos a padrões impostos pela classe Mini. Para competir com um barco de produção, é necessário que tenham sido construídas pelo menos dez unidades do modelo. Os ditos materiais exóticos são proibidos nos veleiros de série, que devem ter mastreação de alumínio e a estrutura — casco e convés — em resina de poliéster. No entanto, mesmo com as restrições dos barcos de série, estes são capazes de bom desempenho sob ventos fracos e atingir velocidades de até 20 nós com ventos mais fortes.
Atualmente, há vários projetos de barcos Mini produzidos em série: Nacira 650 (Alexis Muratet), Super Calin 6.50 (Jean-Pierre Magnan), Argo 650 (Marc Lombard), Ofcet 6.50 (Etienne Bertrand), Pogo 1 (Pierre Rolland), Pogo 2 (Jean-Marie Finot), Pogo 3 (Guillaume Verdier), Dingo 1 (Pierre Rolland), Ginto (Sébastian Magnen), Maxi 6.50 (David Raison), Vector 6.50 (Etienne Bertrand).
O interesse de brasileiros
Em 2001, a cidade de Salvador, na Bahia, passou a ser o ponto de chegada da regata Mini Transat, despertando o interesse de velejadores brasileiros pela competição, inclusive em eventos europeus. Um dos destaques foi o baiano Kan Chuh, que participou em diversas regatas europeias e transatlânticas. Até mesmo um estaleiro começou a produzir barcos Mini em série, mas já encerrou suas atividades.
Atualmente, o destaque brasileiro é Jonas Muro Gomes, que tem participado de regatas em solitário. Recentemente, disputou a Solo Med 2022, na Espanha, com seu veleiro Borrachudo (morador de Ilhabela, não pode deixar de fazer sua homenagem ao sempre presente mosquito). “Esta regata foi desafiadora para mim. Correr uma regata solo de 160 milhas já foi novidade, mas o piloto automático não funcionou em todo o percurso, tive de levar manualmente! Foi exaustivo, estressante e em alguns momentos até assustador, 21 horas ininterruptas no timão, com planeios a 12 nós, ventos com rajadas de até 30 nós na madrugada, depois calmaria e troca de jaibes de balão na chegada!”, relatou Jonas, cujo.objetivo maior é participar da regata Mini Transat 2023, atravessando o Atlântico em solitário.
Mais minis
Seguindo a ideia dos barcos Mini europeus (Classe Mini 6.50), de barcos pequenos e seguros para regatas oceânicas, surgiu nos Estados Unidos a Class Mini 5.80, com design de Janusz Madersky. O conhecido projetista polonês (foi pioneiro em projetos de multicascos), resgatou a tradição da madeira, com barcos de 5,80 m de comprimento e 2,27 m de boca construídos em plywood, mais curtos e com desenho inspirado em veleiros direcionados a longas regatas oceânicas, inclusive, de circum-navegação!
Apesar de a iniciativa ter ocorrido nos EUA, o fundador da Class Mini 5.80 foi o australiano Don McIntyre, CEO da classe (agora rebatizada Class Globe 5.80) e criador também das regatas Golden Globe e Ocean Globe, competições de volta ao mundo aos moldes das primeiras disputas do gênero (a Sunday Times Golden Globe e a Whitbread), com barcos e equipamentos de época. Em sua equipe estão a secretaria e administradora Jane Zhou (China), a relações públicas Aida Valceanu (França) e o organizador das regatas Lutz Kohne (Alemanha). A proposta é que o próprio dono seja capaz de construir seu barco.
Características dos Class Globe 5.80
Comprimento total: 5,80 m
Comprimento do casco: 5,70 metros
Boca: 2,27 metros
Calado: 1,4 m
Deslocamento leve: 920 kg
Quilha com bulbo: 244 kg
Volta ao mundo num miniveleiro
A estreia da nova classe de miniveleiros deveria ter ocorrido numa regata transatlântica em 2021 (largando de Portugal, com escala na Ilha da Madeira e final na Martinica, no Caribe), mas a pandemia de Covid-19 obrigou ao cancelamento.
Neste ano, contudo, teremos finalmente a estreia dos Class Globe 5.80, numa regata ao longo da costa americana. Em seguida, outra regata ao longo da costa de Portugal, e, em 2023, a estreia em travessia transatlântica.
O projeto, porém, vem com grandes ambições: já está programada para 2024 a regata Mini Globe Race, a primeira competição de volta ao mundo para miniveleiros!
Assista ao primeiro barco Mini 5.80 navegando: