Vendée Globe pronta para a largada

O barco de Sébastien Simon: os monocascos desta corrida pelos mares foram projetados especificamente para os hidrofólios, de modo a poderem “voar” por períodos prolongados

O barco de Sébastien Simon: os monocascos desta corrida pelos mares foram projetados especificamente para os hidrofólios, de modo a poderem “voar” por períodos prolongados

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Vendée Globe 2020-21

Coletiva de imprensa deu início aos preparativos para a largada da mais dura corrida marítima de volta ao mundo, que terá 33 competidores velejando sozinhos e sem descanso nos mais modernos monocascos de 60 pés, um desafio comparável à escalada do Everest com a perícia e tecnologia da F1

Faltando apenas 52 dias para a largada da nona edição da Vendée Globe (regata de volta ao mundo sem escalas, em solitário), o luxuoso Palácio Brongniart, em Paris, foi palco, na quinta-feira passada (17 de setembro), da coletiva de imprensa oficial do evento. Tudo pronto para a largada no próximo 8 de novembro!

Pela apresentação de organizadores, equipes e velejadores inscritos, esta nona edição, de 2020-21, promete ser um dos eventos de destaque do esporte mundial. Em 8 de novembro, em Les Sables d'Olonne, na costa francesa do Departamento de Vendée, 33 velejadores solitários irão começar uma disputa acirrada ao redor do mundo. Desde a edição de 2008-2009, na qual houve trinta competidores, esta é a maior Vendée Globe, não apenas no número de inscritos como também pela presença de dez iatistas não franceses, além de nada menos que seis mulheres (novo recorde na história desta regata).

O alto nível de qualidade dos concorrentes é particularmente notável, com a presença do velejador britânico Alex Thomson (que estará competindo pela quinta vez), e do francês Jérémie Beyou (em sua quarta tentativa). Estes dois experientes navegadores enfrentarão uma forte concorrência de velejadores menos experientes mas ambiciosos.

Grandes campeões e novatos

Haverá 18 'bizuths' (novatos), navegadores que saem para enfrentar a Vendée Globe pela primeira vez, embora já tenham acumulado experiências apropriadas e sucesso em outros eventos de vela e diferentes tipos de navegação. Entre eles está o campeão francês de vela paraolímpica múltipla (Damien Seguin - Apicil); um recordista mundial de velocidade e vencedor da Volvo Ocean Race (Kévin Escoffier - PRB); e vários vencedores da famosa regata francesa Solitaire du Figaro, disputada anualmente em várias etapas, como Nicolas Troussel - Corum l'Epargne, Sébastien Simon - Arkea-Paprec), além dos recentes vencedores do Transat Jacques Vabre (Charlie Dalin - Apivia) e da Route du Rhum (ArmelTripon).

As mulheres retornam com força

Se as mulheres estiveram ausentes da edição 2016-17, desta vez estarão de volta. Juntas, estabelecem novo recorde de participação feminina na regata. Até a edição anterior, a média vinha sendo de duas velejadoras competindo, como, por exemplo, Anne Liardet e Karen Leibovici em 2004, e Samantha Davies e Dee Caffari em 2008.

Foi somente em 1996 e na terceira Vendée Globe que duas francesas pioneiras competiram pela primeira vez: Catherine Chabaud (a primeira a completar a prova) e Isabelle Autissier (não completou). Das sete mulheres que iniciaram a Vendée Globe, duas certamente deixaram sua marca, as inglesas Ellen MacArthur, segunda colocada em 2001, e Samantha Davies, quarta colocada em 2009. Sam Davies está de volta este ano pela terceira vez em sua ambiciosa carreira, somando experiência e disposição. Esta velejadora inglesa é apenas uma das mulheres inscritas de um grupo que já provou tenacidade e habilidade, com Isabelle Joschke (franco-alemã), Clarisse Cremer (francesa), Alexia Barrier (francesa), Pip Hare (inglesa) e Miranda Merron (inglesa).

Mistura excepcional de esporte e aventura

Vencer a Vendée Globe envolve muitos fatores diferentes: um projeto bem organizado, um barco rápido e confiável, talento e sorte. Embora vários competidores estejam prontos para isso, para alguns o resultado final não é o que mais interessa, e sim ganhar experiência em navegação ou para realizar o sonho de toda uma vida. A Vendée Globe é a única regata de seu tipo na qual corrida e aventura se juntam. Olhando além da própria regata, todos os marinheiros compartilharão um destino comum ao enfrentarem os elementos: estarão testando seus próprios limites e certamente passando por situações e emoções extremas.

Em comum, os 33 velejadores e velejadoras que estarão alinhados com seus barcos, no próximo dia 8 de novembro em Les Sables d’Olonne, compartilham o desejo de completar a longa viagem solo de 21.638 milhas (representando entre 70 a 100 dias no mar).

Parte dos 33 skippers inscritos na Vendée Globe, na coletiva de imprensa em Paris, no dia 17 último

Parte dos 33 skippers inscritos na Vendée Globe, na coletiva de imprensa em Paris, no dia 17 último

Favoritos e azarões

Alex Thomson com seu veleiro Hugo Boss é um dos skippers internacionais que aparecem em qualquer lista de favoritos. Empatado em número de participações na Vendée Globe com o francês Jean Le Cam (cinco vezes), é o marinheiro mais experiente e de maior sucesso, com dois pódios nas últimas edições — terceiro lugar em 2012-13 e segundo em 2016-17. Thomson, o homem do barco preto, tem apenas uma ambição: vencer.

O concorrente mais jovem é o suíço Alan Roura (La Fabrique), que aos 27 anos de idade estará competindo em sua segunda Vendée Globe. O mais velho é o popular veterano Jean Le Cam (Yes We Cam!); aos 61 anos de idade, estará na largada da Vendée Globe pela quinta vez. A ampla faixa etária realmente reflete o amplo apelo das corridas oceânicas solo, que continuam a crescer em popularidade. Em uma corrida oceânica tão cansativa quanto esta, é muitas vezes não apenas a resistência física, mas também a experiência que faz a diferença. De fato, boa parte dos velejadores participantes da nona edição desta regata está nos quarenta a cinquenta anos de idade, prova de que a vela é um esporte por toda vida, e a Vendée Globe, um desafio único e duradouro.

Grandes avanços tecnológicos em alumínio

A classe IMOCA tem fomentado avanços na navegação offshore, com os hidrofólios, ou "asas submersas", que elevam os barcos acima da água para conseguir velocidades aparentemente impossíveis para os monocascos de carbono de 60 pés. A edição anterior, de 2016, viu o início desta mudança tecnológica. A edição de 2020 traz a tecnologia com avanços significativos não apenas na forma e estrutura da lâmina de alumínio, mas também no projeto e estrutura do casco correspondente. Os barcos são agora projetados e construídos especificamente para os hidrofólios, de modo a conseguirem a habilidade de “voar” sobre a superfície do mar por períodos prolongados. Dezenove dos 33 veleiros inscritos estão equipados com estes impressionantes apêndices, incluindo sete de última geração. Os 60 pés da IMOCA se tornaram máquinas mais complexas e velozes, mas exigirão um preço: um esforço considerável para o navegador. O tempo de referência, estabelecido pelo vencedor Armel Le Cléac'h na Vendée Globe anterior (74 dias 3 horas e 35 minutos) parece muito provável de ser superado. Em contrapartida, as altas velocidades podem gerar problemas, tornando a vida a bordo cada vez mais difícil. Mais que nunca estará sendo testada a capacidade de homens e mulheres de suportar o esforço durante dias a fio.

Em linha com um processo iniciado pelos capitães da classe IMOCA, teremos a organização da Vendée Globe e a Comissão Oceanográfica Intergovernamental (COI) da UNESCO assinando um acordo com o objetivo de coletar dados relativos ao oceano e à atmosfera. Mais de um terço dos capitães da frota estão envolvidos neste objetivo e estarão equipados com os instrumentos necessários para realizar medições e coletar dados.

Yves Auvinet, presidente da região da Vendée, em videoconferência, por motivo de isolamento, disse: “Gosto de repetir que a Vendée Globe é um evento para o bem público, de propriedade da Vendée. Este evento espelha os valores de nosso departamento. É uma aventura individual e também coletiva, e como tal inseparável de seu público”.

Jacques Caraes, diretor de prova, resumiu: "Este é um campo de altíssimo nível, demos um passo a mais na tecnologia, mas também em nosso esporte. Temos 19 novatos em comparação com os 7 da última vez. E este será um aspecto especial desta regata, que será muito difícil. Parabenizo os projetistas, os escritórios de projeto e a classe IMOCA que trabalharam tão arduamente. Os barcos avançaram em termos de tecnologia, num processo difícil. Mas estão prontos, e os marinheiros estão preparados. Nesta edição, temos um grau adicional de competitividade”.

Leia mais sobre a Vendée Globe:

Prévia da edição 2020-21

História da Vendée Globe