Navio cegonha
Um supernavio
em São Sebastião
Navio carga pesada rouba a cena em frente a Ilhabela
O Xin Guang Hua, um heavy load carrier (algo como um navio carga pesada, em tradução livre) com bandeira de Hong Kong, tem sido a atração do Canal de São Sebastião, no litoral paulista, desde a semana passada. Com 255 metros de comprimento por 68 metros de largura e 98.370 toneladas, segundo dados do marinetraffic.com, não há como esse verdadeiro gigante passar despercebido mesmo à distância por quem transita pelo asfalto, no outro lado do canal. Ele se destaca na paisagem marinha como os altos edifícios na orla das grandes cidades. Mas o mais interessante mesmo é o que essa portentosa embarcação é capaz de fazer: submergir a parte central de sua estrutura para embarcar nada menos que um outro navio. Tudo bem, o Xin Guang Hua não é o único supernavio do mundo, mas impressiona. Até porque não é todo dia que se vê algo assim. Que o diga Ulisses Amaral, da Repair Marine de Caraguatatuba, que, admirado, pôde observá-lo em ação quando esteve na vizinha Ilhabela e gentilmente cedeu ao Minuto Náutico algumas das imagens mostradas aqui.
Parte do navio submerge e volta com outro navio, menor, em sua plataforma
Coordenada pela Praticagem do Estado de São Paulo, essa cinematográfica operação começou na terça-feira passada e terminou na quarta-feira. Confira, abaixo, as informações e imagens da assessoria de imprensa da Praticagem sobre esse inusitado e fantástico trabalho:
“(...) o navio submersível doca Xin Guang Hua (...) chegou no dia 19, foi posicionado com precisão em local específico, onde foi submergido parcialmente até a profundidade de 27 metros, para receber em seu convés-plataforma o navio Chipol Taihu, de 188 metros de comprimento. Este navio estava com os sistemas de propulsão e de geração de energia avariados, tendo sido rebocado do porto do Rio Grande.
As duas embarcações são da mesma operadora, a Cosco China, que resolveu montar esse esquema delicado para garantir que o navio e sua valiosa carga, de cerca de 40 mil toneladas de toras de madeira para a indústria de celulose, fossem levados com segurança para a China. A Marinha do Brasil e a Autoridade Portuária de Santos acompanharam toda a operação, mas previamente já tinha sido constatado que não haveria nenhum risco ambiental.
Toda a operação foi realizada pela Praticagem do Estado de São Paulo, com a assessoria de dois práticos: Hermes Bastos e Flavio Peixoto. O prático Hermes, que atuou na manobra, explica a operação: ‘A Praticagem de São Sebastião foi consultada sobre a possibilidade de acompanhar essa manobra de imersão do navio doca e de docagem do navio avariado. Além de nós, a companhia chinesa também fez contatos com a praticagem do Rio de Janeiro, para realizar a operação na Ilha Grande, e praticagem da Bahia, para realizar na baía de Todos os Santos, em Salvador. Nós tínhamos uma data limite, até o início de dezembro, devido à chegada dos navios de cruzeiro que ocupariam a área escolhida para a operação. Mas ficou decidido que a operação seria realizada em torno de 15 a 20 de novembro. Assim que o serviço foi contratado, fizemos o levantamento batimétrico, com nossa equipe de batimetria, utilizando sonda multifeixe, que forneceu dados bastante detalhados das profundidades locais. Encontramos uma área bem grande, de 34 metros de profundidade, ideal para o que necessitavam, e as condições meteorológicas (vento, corrente, ondulação e visibilidade) esperadas também seriam favoráveis para a execução do trabalho’.
Hermes conta que o Superintendente das operações de docagem da Cosco veio especialmente da China, para acompanhar a operação no navio. ‘O navio doca entrou na Barra Norte e foi fundeado pelos práticos, com precisão na posição determinada, no dia 19 pela manhã. Na quarta, às 4 da manhã, começou a operação para submergir parcialmente o Xin Guang Hua, que só terminou às 8 horas. Após submergir, foi até 27 metros, a profundidade desejada e com água suficiente para receber a embarcação avariada. Depois, foi mantido alinhado contra a corrente e o vento, pelo prático Hermes, usando os rebocadores. Enquanto isso, às 6 da manhã, o prático Flávio embarcava no navio avariado, o Chipol Taihu, sem propulsão e sem energia, puxado por três rebocadores, para o ponto de encontro com o navio semi-submerso.’
Após duas horas de reboque no canal de São Sebastião, o prático Flávio entregou o navio Chipol Taihu na posição desejada. A partir desse ponto, o navio foi cuidadosamente puxado para dentro da plataforma-doca do navio Xing Guang, auxiliado por rebocadores e cabos especiais. ‘Foram três horas e meia só para deslocar o navio avariado por cerca de 200 metros, tudo muito lentamente para evitar um acidente. A outra etapa seria trazer o navio doca novamente para a profundidade normal, de navegação, após receber a carga. Para isso, eles bombeiam para fora a água dos tanques de lastro, até chegar ao nível de flutuabilidade necessária, com cerca de 11 metros de calado. Depois disso, nos dias subsequentes, serão feitas as soldas das estruturas no convés de carga, formando um picadeiro para apoiar o navio avariado com segurança, para garantir estabilidade e sustentar a embarcação até a viagem à China’, complementou Hermes.”