Meu amigo Ariel

O empresário Ariel Leite, morto aos 71 anos de idade

O empresário Ariel Leite, morto aos 71 anos de idade

Um empresário

brasileiro

Por Marcio Dottori

A indústria nacional perdeu Ariel Leite, falecido na última quinta-feira, aos 71 anos, e eu perdi um amigo

  Conheci a Arieltek nos anos 1990, nos salões náuticos de São Paulo. Sempre admirei a quantidade de produtos desta empresa de Americana, no interior paulista. No estande da Arieltek, tinha de tudo, de componentes elétricos e eletrônicos de reposição para motores de popa e de jets a luzes, bombas de porão, painéis elétricos, chaves e sistemas de gerenciamento de baterias e muitos outros itens para barcos. O que me deixava mais surpreso é que todo ano havia novidades.

  Atualmente, a Arieltek fabrica mais de 700 produtos para diversas partes, internas e externas, de uma embarcação. Por trás desta imensa coleção de equipamentos e acessórios, estava o Ariel Leite, fundador da empresa, técnico em eletrônica que um dia viu-se obrigado a construir um módulo para substituir o CDI, um dispositivo responsável pela ignição nos motores a gasolina, que havia pifado e não tinha reposição no Brasil.

  Aquele foi o começo da Arieltek. A criatividade do inventor de Americana estava apenas aflorando. Pessoas muito capazes foram se incorporando à empresa, formando assim um time coeso, focado em desenvolver os produtos que o chefe Ariel bolava, inclusive para aviação experimental. Inquieto, o empresário, nascido em Campinas, investiu também no protótipo de um carro elétrico, com o qual ia para o trabalho.

  Ariel tornou-se um empresário bem sucedido, e nunca perdeu o jeito simples e afável, que conquistava a todos que o conheciam — como eu. Algumas vezes, encontrei o Ariel com membros da sua equipe no Miami Boat Show, nos EUA, país para o qual a Arieltek exporta. O papo era sempre agradável e a busca por conhecimento do Ariel e seus funcionários mais próximos, evidente. Este atributo possibilitou criar produtos de qualidade e com valores acessíveis, fabricados no Brasil, com garantia e fácil reposição.

  Ariel sempre foi “verde e amarelo”, partidário de prestigiar o que é nosso. Seu único inimigo era a burocracia brasileira. Seu grande orgulho, a sua empresa, onde, segundo seus colaboradores, trabalhava “de segunda a segunda” — inclusive, cuidando pessoalmente do jardim. Em 2 de junho último, Ariel, ainda cheio de planos, nos deixou, aos 71 anos de idade. Vítima, provavelmente, de um enfarto, enquanto podava os galhos de uma árvore que avançaram sobre o telhado da sua casa.

  A indústria náutica brasileira e os usuários de barcos em nossas águas doces e salgadas têm uma dependência sadia dos produtos da Arieltek. E isso é bom, pois Ariel, o genial inventor de Americana, formou uma equipe muito gabaritada para atendê-los. Tenho certeza de que esta equipe tão unida e dedicada saberá honrar o belo legado do Ariel.