Covid-19 – ajuda a veleiros estrangeiros
Solidariedade marinheira
Auxílio a quem está longe de casa
Grupo Força-Tarefa Brasil ajuda velejadores estrangeiros em apuros em águas brasileiras em decorrência da covid-19
Muito ativo nos círculos de vela oceânica, o circum-navegador Silvio Ramos é bastante conhecido por velejadores dentro e fora do Brasil. Por isso, é frequentemente procurado por navegadores em busca de ajuda não apenas para entrar, permanecer ou sair do país, mas também para solucionar emergências a bordo. Porém, com a pandemia de covid-19, soou um sinal de alerta. Uma portaria do governo, publicada em 26 de março e revisada em uma resolução de 31 de março, proibiu “o desembarque de estrangeiros em porto ou ponto no território brasileiro, por via aquaviária, independentemente de sua nacionalidade”. Da mesma forma, embarcações de outros países sem emergência a bordo ficaram impedidas de permanecer em portos, marinas ou ancoragens.
Com o fechamento dos portos não apenas no Brasil, mas em todos os continentes, velejadores em viagem pelo mundo se viram sem eira nem beira, de uma hora pra outra. Esses navegadores, outrora bem-vindos nos paraísos náuticos da costa brasileira, chegaram a ser hostilizados, quando não expulsos por pescadores, residentes e policiais. Ao saber dessa situação, Silvio, que conheceu os mais belos portos quando deu a volta ao mundo com seu veleiro Matajusi, decidiu agir, arregimentando membros da comunidade náutica ao longo do nosso litoral para dar apoio aos navegadores em apuros em nossas águas — afinal, trata-se de uma questão humanitária. Surgiu assim o grupo Força-Tarefa Brasil (ou Brazil Task Force, em inglês), que já conseguiu a chancela do Fórum Náutico Paulista e apoio da Marinha do Brasil.
Silvio explica: “O Brasil é passagem e destino de veleiros de cruzeiro vindos da Europa, África, Patagônia, Caribe ou dando a volta ao mundo. Em tempos normais, a entrada desses veleiros é permitida, a tripulação pode permanecer por 90 dias (renovável por mais 90) e a embarcação, por até dois anos. Alguns desses veleiros fazem manutenções, outros são deixados aqui enquanto seus tripulantes viajam para seus países de origem e, depois, retornam para dar continuidade às suas viagens. Muitas dessas travessias com destino ao Brasil podem durar mais de 20 dias, ou seja, foram planejadas antes de se imaginar a inimaginável crise da covid-19”.
Porém, lembra Silvio, “por regras internacionais estabelecidas entre todos os países, um veleiro entrando em território nacional tem direito de permanecer 72 horas para resolver qualquer situação que o impeça de prosseguir viagem, desde questões de provisão (água, comida, combustível) a problemas mecânicos, de saúde, de segurança a bordo, entre outros”.
Inspirada por essas regras, a Força-Tarefa Brasil estabeleceu os seguintes objetivos:
1. Ajudar velejadores estrangeiros já no Brasil
2. Desenvolver relatórios e estatísticas para sugerir revisões na citada portaria e no tratamento dos velejadores estrangeiros no Brasil
3. Registrar todos os veleiros estrangeiros já no Brasil, incluindo situação anterior e atual; ou, aos que estiverem chegando ao país, informando como proceder nas diversas circunstâncias em que se encontram, comunicando- se com autoridades locais para promover o melhor tratamento possível, caso por caso
4. Manter a comunidade de velejadores em todo o Brasil informada sobre procedimentos a serem seguidos, solicitando que cada um faça o melhor para ajudar qualquer velejador estrangeiro em suas necessidades, emergenciais ou não
5. Manter sites e outros meios de comunicação mundiais utilizados pelos velejadores estrangeiros informados sobre a vinda ou estadia deles no Brasil.
O esforço dos membros da Força-Tarefa Brasil já começou a render resultados, como mostra essa carta que a Diretoria-Geral de Navegação da Marinha passou para as capitanias, delegacias e agências da Marinha, reproduzida a seguir:
“Esta Diretoria-Geral solicita aos Agentes da Autoridade Marítima espalhados pelo litoral brasileiro a prestar o apoio, na melhor tradição marinheira dos "Homens do Mar", aos diversos velejadores estrangeiros com restrição de movimentação devido às medidas de prevenção ao COVID-19.
O referido apoio, que pode ser organizado com a importante parceria dos diversos Iates Clubes e Marinas onde esses barcos podem estar fundeados aguardando, além do apoio das SOAMAR regionais, deve atender às necessidades básicas para a manutenção da estadia segura a bordo dessas embarcações, além de cumprir objetivos humanitários que devem nortear as ações em tempos de pandemia.
Apoios com o objetivo de viabilizar a obtenção de gêneros e combustível pelos tripulantes devem ser priorizados. Atenção especial deve ser dada à manutenção das medidas de proteção individual do nosso pessoal nos apoios realizados.”
Sabe de algum veleiro estrangeiro em apuros e quer ajudar? Saiba mais no site da Força-Tarefa Brasil ou entre diretamente em contato pelo e-mail helpsvbr@gmail.com, informando o nome do veleiro, nome do comandante, local atual e contato de e-mail ou celular.