Vendée Globe Real e Virtual - 7-12-2020
Depois de um mês de Vendée Globe,
Como estão os incríveis IMOCA e seu excelentes navegadores?
Pela disposição das peças neste grande e exigente tabuleiro de xadrez dos mares do sul, as próximas 24 horas podem ser decisivas, principalmente para os líderes Charlie Dalin (Apivia) e Thomas Ruyant (Linked Out)
Após uma semana difícil cruzando o Oceano Índico, lutando para manter barcos e equipamentos intactos em mar forte e sob ventos com rajadas até 35-40 nós, os líderes da Vendée Globe 2020-21 Charlie Dalin (Apivia) e Thomas Ruyant (LinkedOut) estão, finalmente, encontrando uma boa rota para o leste, na carona de um sistema de baixa pressão. E podem abrir grande vantagem para os demais.
Com mar baixo e ventos constantes e favoráveis de norte e oeste, eles estão em condições até de bater o recorde de Alex Thomson, de 536 milhas para 24 horas de navegação (singradura), estabelecido na Vendée Globe de 2016-17. Se conseguirem manter o ritmo, logo poderão pegar um vento moderado de um centro de alta pressão na altura do Cabo Leeuwin, o que lhes permitiria abrir boa distância dos demais. Ontem, os dois barcos mantiveram médias superiores a 20 nós, o que significa surfar nas ondas a 28-30 nós.
"O tempo está quase ensolarado, é um dia bastante bom" comentou um Charlie Dalin relativamente relaxado durante a Vendée Live desta tarde. Mas a 600 milhas para o sul, na área onde está atuando mais forte o sistema de baixa pressão, as coisas não vão muito bem: "Temos 45 nós e chuva horizontal" relatou Damien Seguin (4º colocado), em vídeo enviado hoje.
Para Maxime Sorel, mais atrás (11º), as coisas estão feias: "Nunca vi um mar como este, muito agitado, difícil; se andar rápido, o barco acelera, chegando a 29 nós, mas se navegar muito lento, as ondas vão te pegar e explodir em cima, é horrível".
Os nove barcos que navegam na esteira de Dalin e Ruyant foram alcançados pela frente, que tem até 50 nós em rajadas. Com a tempestade, a regata fica em segundo plano, pois a autopreservação se torna o desafio mais importante.
E no Cabo da Boa Esperança...
Dois dos barcos Imoca mais antigos estão cruzando o Cabo da Boa Esperança hoje. São eles o Medallia e o One Planet One Ocean, comandados, respectivamente, pela inglesa Pip Hare e pelo espanhol Didac Costa. Curiosamente, estes dois barcos estiveram disputando juntos a quarta edição da Vendée Globe, com os nomes de, respectivamente, Superbigou e Kingfisher. A vantagem, então, ficou para o Kingfisher (hoje One Planet One Ocean), que chegou ao segundo lugar com a inesquecível Ellen MacArthur, jovem inglesa com apenas 24 anos de idade à epoca. Pip Hare e Didac Costa, por sua vez, são amigos e rivais participando das regatas de (Mini) Transat 6.50. Na última disputa, terminaram com apenas 40 minutos de diferença.
Neste momento, a inglesa persegue o espanhol, que está 12 milhas à frente. Assim, quando Didac Costa (que terminou em 14º lugar na última Vendée Globe), informou ontem à noite que seu barco batera levemente em algo que ele acreditava ser uma baleia, ele também se incumbiu de avisar Pip Hare — que está navegando em seu rastro — da presença do grande mamífero. Conta Hare:
“Didac me alertou ontem de que ele tinha batido em alguma coisa. É muito bom tê-lo próximo. Nós nos mantemos em contato. É incrível para mim tê-lo aqui como se fosse um batedor, mas não tenho a intenção de deixá-lo continuar na frente. Acho que o Kingfisher (agora One Planet One Ocean) é um barco mais rápido. O maior problema está na brisa moderada, este meu barco (o Medallia) é bastante estreito. Tenho que trabalhar muito nas brisas leves e pesadas, terei que colocar o martelo no chão para acompanhá-lo, com certeza".
Posicionamento dos veleiros (após um mês de regata)
A partir do mapa de rastreamento (Tracking Map) oficial da Vendée Globe, para simplificar uma análise atual, dividi os participantes em quatro grupos:
Grupo 1 - O primeiro grupo, já navegando no Oceano Índico perto da longitude das ilhas Kerguelen, é o que está à frente na Vendée Globe nesta data. A liderança é do Apivia, representado em amarelo no rastreador, visível para o leste (direita) na imagem. Logo após, vem o Linked Out. Incrível, o barco branco, a seguir, é o Yes We Cam, de Jean Le Cam, que continua com excelente posicionamento mesmo tendo se desviado da rota original para o salvamento de Kevin Escoffier, do PRB. Quando a comissão de regata apresentar a compensação do tempo para esse barco (e, embora com menos efeito, também ao Maître Coq e ao Seaexplorer – Yacht Club de Monaco), com certeza estará numa situação muito boa.
Na cor verde, descendo na direção das ilhas Kerguelen, está o Bureau Vallée 2, que continua ocupando o 3º lugar, com ventos no limite sul da área de exclusão do gelo (onde também costumam ser mais violentos).
Contudo, para as próximas 12 horas e subsequentes 24 horas, Apivia e Linked Out estarão em condições de se distanciar mais dos concorrentes, por terem previsões de ventos constantes entre 25 e 15 nós vindos do norte por todo o período. Os demais precisam vencer uma depressão com ventos de 40 nós e rajadas até 50 nós.
Estão neste grupo: Apivia, Linked Out, Bureau Vallée 2, Maître Coq IV, Yes We Cam, Groupe Apicil, OMIA – Water Family, Seaexplorer – Yacht Club de Monaco, Prysmian Groupe, MACSF e V And B Mayenne.
Grupo 2 – Um pouco afastados do Grupo 1, e um pouco isolados, estão os barcos Pure – Best Western Hotels and Resorts e Banque Populaire X. Este grupo navega sob ventos entre 20 e 25 nós, que irão continuar pelas próximas 12 a 24 horas, e até aumentar, quando os veleiros serão envolvidos pela depressão. Tem condições, eventualmente, de se mesclar ao Grupo 1.
Grupo 3 – Os barcos deste grupo estão cruzando hoje a longitude do Cabo da Boa Esperança. São eles: L’Occitane en Provence, Le Fabrique, Time for Oceans, La Mie Câline – Artisans Artipôle, Groupe Sétin, One Planet One Ocean e Medallia. Este grupo deverá ficar ainda mais afastado dos grupos 1 e 2, pois está em ventos fracos, de 10 a 15 nós, próximo a um sistema de alta pressão, que deverá persistir nas próximas 12 a 24 horas na rota destes barcos.
Grupo 4 – Ainda no Atlântico Sul, Newrest – Art et Fenêtres, Campagne de France, TES – 4myplanet, Compagnie du Lit -Jiliti, Stark, DMG Mori Global One, Merci e Charal. Este grupo passa por uma situação interessante, com os retardatários conseguindo melhores ventos para as próximas horas. Em 24 horas grupo deve ficar mais coeso, com todos bem próximos. O Charal pode começar a superar os demais do grupo e deixar a incômoda última posição.